quinta-feira, novembro 20, 2014

O Mocho

Os mochos e corujas não se comem (de um modo geral e salvaguardando ocasiões especiais, onde a fome grassa e tudo quanto mexe é considerado comida, tenha 1, 2, 3 ou 4 patas).

Refazendo a frase, o mocho não tem aptidão gastronómica que eu conheça. Recordo que estas coisas são sempre relativas, pois até ter comido morcego nas Ilhas Seychelles também nunca acreditaria que tal alimária era comestível ( sem ser nas tais ocasiões).

Animal que não serve para comer terá outras funções na ordem geral das coisas, mas para mim perde parte do seu interesse. Não digo grande parte, porque por exemplo eu adoro cavalos desde puto e recuso-me a comer a carne. E se souber que há alguém do meu circulo que a consome, acabou-se a amizade logo ali.

O Mocho controlará as chamadas "pestes", os ratos, esquilos, coelhos e coisas dessas.  Deve ser um trabalho importante , mas eu, francamente, não sendo biólogo nem estudioso das sustentabilidades ambientais, não lhe detecto grande utilidade. 

Resta a questão estética. E aí sim! os grandes Mochos (mesmo os pequenos) são lindos de morrer. Têm um olhar que mete medo e um porte altivo que fará pensar duas vezes  qualquer águia (excepto aquela  vermelha).

A mim sempre me meteu um bocado de respeito a figura do mocho. Tínhamos um empallhado na secção dos antigos alunos dos salesianos (o mistério da sua aparição naquele local nunca foi por mim desvendado) , e eu juraria que quando me apanhava lá sozinho, o bicho virava a cabeça mesmo depois de morto e embalsamado, para nunca deixar de me fitar. Enervante!

Cheguei a virar  a coisa para a parede, mas quando lá chegava no dia seguinte a  senhora que cuidava da limpeza da sede já o tinha colocado no sítio certo.   A relação entre o mocho e a minha pessoa era tão estranha que nunca lhe cheguei a dar um nome, com medo que ele não gostasse...

Mesmo hoje em dia, se vou a algum lado onde há mochos ou corujas embalsamadas, apresso normalmente o passo e não me detenho muito na observação da espécie.

Imaginem então um dia do meu passado recente, por ocasião do lançamento do nosso livro e selos sobre a  arte da falcoaria, em Salvaterra de Magos,  onde uns senhores muito amáveis da Associação Portuguesa de Falcoaria , me queriam passar para o pulso um Grão Duque ...  Um Grão Duque é uma espécie de mocho criado  com esteróides anabolizantes. Tem mais de  70 cm de altura e pesa para burro!

Pôrra!  Grão Duque ? Só se viesse com ou dois ovos Faberger fugidos à Revolução de Outubro nas garras... E mesmo assim tinha que pensar bem no assunto. Ala meano! E basei.

Sou cobarde nestas coisas de mochos...Ou corujas...

Nenhum comentário: