sexta-feira, setembro 07, 2012

Para Descansar a Vista

Ainda estou a recuperar, mal refeito do comunicado de ontem de Mário Draghi (adoro a Itália camaradas!) que fez tremer a empedernida e majestática posição hanseática sobre as formas de tratar da Crise na Europa.

Está claro que nos noticiários caseiros o discípulo luso da valquíria mandou logo começarem a circular noticiazinhas sobre o "provável aumento de impostos" e outras coisinhas dessas. Já cá se esperava. Era para "equilibrar", não fossem os pobres entrar logo em devaneios sobre o princípio do fim da crise!

Era o que faltava! Esta Crise só acabará quando Eu (Ele) disser!

Não se preocupem os poderes constituídos e eleitos que o Povo ainda não festeja nas ruas. O que é a "simplificação no IRS, a diminuição dos escalões" já anteontem anunciada senão uma encapotada e até grosseira forma de aumentar impostos e liquidar o que resta da classe média?

Mas adiante que não estamos em Amarante e hoje é dia de celebrar a Mãe Roma : Ad fontes redeunt longo post tempore lymphae – (Ao cabo de longo tempo, as águas voltam à fonte).

Mas enquanto não voltam temos que gramar estas exéquias Passistícas...

Aqui vai de Petrarca, "o" clássico, um dos "pais " de Camões, um soneto admirável:

Soneto XXII
S' amor non è, che dunque è quel ch' io sento?
Ma s'egli è amor, per Dio, che cosa e quale?
Se buona, ond è effetto aspro mortale?
Se ria, ond' è si dolce ogni tormento?
 
S'a mia voglia arado, ond' è 'I pianto e 'I lamento?
S'a mal mio grado, il lamentar che vale?
O viva morte, o dilettoso male,
Come puoi tanto in me s'io nol consento?
 
E s'io 'I consento, a gran torto mi doglio.
Fra sì contrari venti, in frale barca
Mi trivo in alto mar, senza governo,
 
Sí lieve di saber, d'error sí carca,
Ch' i i' medesmo non so quel ch' io mi voglio,
E tremo a mèzza state, ardemdo il verno
                                                                        Petrarca

Nota de um dos grandes tradutores de Petraca, Érico Nogueira: Diferentemente do seu patrício Torquato Tasso, Petrarca chegou vivo ao dia da sua 'coroação': e aos 8 de abril de 1341 foi oficialmente declarado "magnus poeta et historicus" na cidade eterna.
Essa coisa de chancela oficial é evidentemente alheia ao labor da poesia; mas que o reconhecimento favoreça bons versos, ah, disso eu não tenho dúvida...

E eu não podia estar mais de acordo...Por isso ainda mais admiro Camões. Petrarca foi enterrado na Piazza de Arqua, cidadezinha lindíssima onde viveu os últimos anos da sua vida e onde faleceu. Mais tarde esta cidade mudou o seu nome para Arqua-Petrarca...

E Camões? Sabem onde está enterrado? Pois, eu também não sei.
Há Principes dos Poetas com "p" e outros com "P"... Mas isso tem a ver com a terra, Madrasta ou Mãe, onde tiveram a sorte ou a infelicidade de terem nascido...

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