quarta-feira, março 10, 2010

A Privatização dos CTT

Foi notícia de ontem. Faz parte do PEC a privatização de várias empresas do Estado, entre elas a "velhinha" CTT Correios de Portugal.

Do ponto de vista histórico ( e anedótico) nada a dizer. Já o Senhor Rei D. Filipe II  tinha tido a mesmíssima ideia , em 1606, quando vendeu à família Gomes da Mata, e por uma avultadíssima soma de 70 000 cruzados, o cargo de Correio-Mor do reino, ofício criado em 1520 pelo Rei Venturoso, na pessoa do seu criado Luis Homem.

O Rei Filipe era castelhano, a familia Gomes da Mata tinha a mesma origem...Maus presságios?

Depois disso - e temos de dizer que não obstante a "castelhanidade" os Matas fizeram bom serviço - a rainha D. Maria I , a conselho do seu Ministro Rodrigo de Sousa Coutinho , transferiu o cargo para a Coroa, em 1797 ,  depois de negociações com o último (e 11º do cargo)  Correio-Mor, também ele Sousa Coutinho...  O que diria hoje o SOL desta notável coincidência? Tínhamos um escarcéu do "caraças"..."Ministro compra a parente o mais lucrativo cargo do reino!".

Como veremos, essa circunstância mudou desde esses tempos...

Mas adiante.

Hoje, como ontem e anteontem, o que leva o Estado a  vender  o seu  mais antigo ofício ainda activo , juntamente com as funções de mensageiro de pobres, ricos, nobres e plebeus, é o dinheirinho - ou , melhor dito, a falta dele.

Nada me permite dizer que a Privatização vai ser "pior ou melhor" do que o actual estado das coisas no mundo postal português. Tenho as minhas suspeitas, está claro, mas como se costuma dizer que presunção e água benta cada um toma o que quer, essas suspeitas não passam ainda de presunções.

O que me preocupa é exactamente ser esta uma função que deve servir todos, sem olhar muito para as necessidades de alguns em detrimento das necessidades dos outros...

Explico: fazer dinheiro com o serviço postal é muito fácil, basta exercer este "múnus" apenas nas grandes cidades. Distribuir dentro de 4 centros urbanos e suburbanos,  sem preocupação de "ir às vilas, aldeias, lugarejos e ...ilhas".

Quem tal fizer é seguro que enriqueça. E bem. E depressa.

A Liberalização do Serrviço Postal já trazia estas cargas negativas para a actividade. Quem se quizer fazer ao "carteio" com lucros decerto que vai ter de escolher onde o quer fazer... mas, está claro que teríamos os CTT a fazer "o resto" ; aquilo que os outros não querem.

Agora, com a privatização , como vai ser? Tudo ao molho e fé em Deus, engarrafamento de "carteiros" de diversas proveniências nas ruas mais movimentadas de Lisboa e do Porto , enquanto que,  por outro lado,  as Ilhas dos Açores seriam abastecidas de cartas por pára-quedas,  e que se arranjassem para as distribuir, lá no local, pois  não devem ter muito para fazer?

Homessa!! Diria o Mestre Vitorino Nemésio...

Claro que existe a questão do SERVIÇO PÚBLICO ,  do Serviço Universal, que podemos definir grosseiramente como o "menor múltiplo comum" da prestação da actividade postal à  sociedade. Os "serviços mínimos" postais a que cada cidadão, apenas por ter nascido e exibir uma morada fixa, teria direito.  Este serviço tem de estar acobertado no âmbito da privatização.  mas como quem define as características  e a extensão do mesmo é quem agora pôe à venda a actividade, não sei ( não sabemos) que garantias existem de que esse mínimo de serviço postal  não se vá paulatinamente transformando, com o passar dos meses, em  "Infimo" da curva... isto é, em limite,   a tender para o zero...

Obviamente que existe a outra face da moeda: os serviços de comunicações móveis melhoraram muito com a privatização e a liberalização do sector. TMN, Optimus e Vodafone competem ( e bem) no mesmo mercado. Há dinheiro para todos, segundo parece.
Os serviços de TV Cabo parece que também irão por esse caminho (aparentemente haverá dinheiro para todos nesse negócio).
A SONAE , Pão de Açucar e a Jerónimo Martins há muito que habituaram os portugueses à saudável concorrência e ao bom serviço prestado pelos privados. Parece que existe muito dinheiro no negócio da distribuição...Dá para todos...

No  Negócio Postal haverá assim tanto dinheiro para quem entra? E dará para todos?

Olhe que não , Olhe que não , Senhor Ministro das Finanças!

O que já foi o mais lucrativo cargo do Reino se calhar hoje não passará de um dos mais trabalhosos e menos remunerados... a não ser , claro está , que se utilize a "táctica do pára-quedas postal" por essas províncias, montes e vales...

Poderíamos até pedir formação ao Pai Natal, que segundo dizem tem experiência de distribuição áerea porta-a-porta... Em que Consultora trabalhará o velho das barbas?

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