Os "nuestros amigos españoles" sempre tiveram um pouco a mania das grandezas...Carlos V e por aí fora, com os Filipes... Só nós, e talvez por culpa do desgraçado do D. Sebastião (lá está, neto do grande Carlos V) e do fosso em que a sua loucura colocou o País, nunca alimentámos essa perigosa e falsa sedução, tendo preferido - como povo - interiorizar a tristeza do Fado e do Destino (não renegando as origens árabes) ao invés de animar as noites da Madragoa ou de Alfama com o saboroso Tablau Andaluz.
Tivémos escravos (a Rua do Poço dos Negros...), tivémos o ouro do Brasil , tivémos as especiarias da Índia. Mas nunca tivémos - antes pelo contrário - aquela noção "imperial" de que qualquer espanhol se faz eco esteja onde estiver ou faça o que quer que faça...
Vem tudo isto a propósito do famoso Convénio "MadridFusión" - considerada a maior mostra do Mundo de cozinha criativa (considerada pelos próprios espanhóis, está claro) e que se realizou na semana passada. O nosso Amigo David Lopes Ramos já caricaturizou que bastasse esta Mostra no seu Fugas, ao mesmo tempo que fazia a apologia da presença do nosso Avillez (o actual chef do Tavares) no palco principal da MadridFusión.
Mas tal como o Grande Zé Quitério goza com o "Miquelino" francês (Guia Michelin) e do que aquele pasquim tem a dizer sobre a cozinha e os restaurantes de Portugal, também eu aqui (unindo-me ao David) traço um anátema, nem tanto contra a MadridFusión , mas sobretudo contra aquela mania de "tudo o que não é Espanhol é mau" que parece animar esses peritos locais dispostos a julgar com óculos enviezados mestres de cozinha de todas as nacionalidades...
Se fosse em Portugal seria o contrário: O crítico português daria sempre mais pontos ao "estrangeiro" do que ao natural, porque, obviamente "eles são lá de fora , devem ser melhores" ou então porque "era chato virem de tão longe e cá serem mal classificados... para a próxima já não viriam..."
Estão a perceber as diferenças? Quando Cortez invadiu a América Central deve ter-se sentido como César a atravessar o Rubicão: Deus-Imperador! Quando o Gama chegou à Índia (esta sim, a verdadeira) deve ter dito à família e aos amigos "Olhem, lá calhou, desculpem qualquer coisinha..."
Para os espanhóis, os melhores cozinheiros do mundo são espanhóis, os melhores restaurantes do mundo são catalães, os melhores espumantes do mundo são as cavas da Catalunha e o melhor vinho tinto do mundo está (algures) à espera de ser descoberto en España...
Ora tenham santa paciência que para chegarem aos calcanhares - em termos de suprema qualidade derivada em número de estabelecimentos - dos Franceses, têm ainda muito que andar..
E, gostem ou não gostem, sempre lhes digo (e escrevo!) que quando fui ao El Bulli de Fernan Adriá - bastas vezes considerado como o melhor Restaurante do Mundo - saí de lá...com fome!!
Tomá lá que é para aprenderes!
Dêem-me 20 vezes antes o meu Zalacaín de Madrid. Aí come-se civilizadamente e em Paz.
Melhor do Mundo - e ninguém lhes tira isso - é o Presunto Pata Negra! Quanto ao resto, tento na bola e esta rente à relva ... têm muito de bom e de muito bom, mas isso também nós , e os Italianos, e os Belgas, e por aí fora... Gastronomicamente falando.
Se continuam com essas manias manda-se já vir o Quixote. Esse sim, a personagem imortal que melhor compreendeu a "hispanidad" e que também melhor , muito melhor do que todos os outros, com ela fez o favor de gozar...
E Olé!
Nenhum comentário:
Postar um comentário