- "Sua Excelência sofre de fartura..."
De facto, e por muito boas que sejam algumas coisas, se as usarmos e desfrutarmos vezes sem conta haverá uma altura em que nos parecem medianas, mesmo medíocres...
Vem esta reflexão depois de uma conversa com um Amigo que se queixou do meu Post sobre o Restaurante Panorama de Melgaço. Seu aficionado de longa data e descendente de brava gente minhota, custou a este meu Amigo ver assim algo criticada a sua casa de eleição, e não deixou de me dizer:
- "Tu estás é mal habituado! Depois de tanto ano a beber Barca Velha já não aprecias o bom e genuíno vinho regional... Cada macaco no seu galho! Não se pode comparar o Panorama com o Porto de Santa Maria, ou com o Beira Mar! São dois campeonatos distintos! Melgaço não é Cascais!"
Tive vontade de lhe dizer - a ele que é um "leão" empedernido - que eram dois campeonatos tão distintos como aqueles onde militavam o Bayern e o Sporting, mas depois mordi a língua, não fosse a tirada ter ricochete...
Há espaço para tudo neste país. Desde a grande cozinha de Aimé Barroyer no Pestana Palace até às casas de Pasto tipo "Nanda" na Rua da Alegria no Porto, passando pelos paraísos do peixe fresco do nosso Guincho , de Cascais ou de Leça e acabando nas grandes Catedrais da gastronomia regional que são a Tasca do Oliveira ou o Fialho.
Gostei muito do Camelo de Santa Marta, e nele bebi um simples mas admirável Vinho verde - branco e tinto - de um produtor local. Gosto de ir a Matosinhos ou a Peniche, comer nas tascas a sardinha assada com verde tinto. Mas também gosto de - raras vezes, tendo em atenção a crise - almoçar no Porto de Santa Maria um superlativo robalo do mar assado com puré de batata e arroz de pimentos, acompanhado por um Branco encorpado da casa Nieepoort ou por um Encruzado do Dão Sogrape.
Se alguém bebesse Barca Velha todos os dias depressa lhe daria enjoo... O mesmo para quem só frequentasse a culinária trabalhada "à la française" das casas da moda , em Lisboa e no Algarve, onde se acumulam os "Miquelinos lusos".
Qualidade na restauração não tem - em minha opinião - de ser sempre sinónimo de despesa sumptuária. Tem é de ser sinónimo de Preço justo para o que se come e para o que se bebe...
Nem galinha gorda por pouco dinheiro, nem dar ouro por estojos de lata...
Mas, é claro, se eu tiver oportunidade e o dinheiro para beber ao jantar um Quinta da Leda Vinha do Pombal 2004 ou um Mouro rótulo de ouro 2005, porque é que hei-de insistir em mandar abrir uma garrafa de Esteva, também excelente mas muito, mesmo muito, distante dos outros...?
Desde que a comidinha se adeque a um tinto de envergadura, está claro...
E se nos apetecer uma simples salada de batata a acompanhar uma meia perdiz de escabeche, tudo em frio, a adivinhar o Verão, quem nos impedirá de a acompanharmos com um Rosé barato, mas muito atraente para o prato em questão?
Em resumo: tem a gastronomia portuguesa o seu conjunto de possidónios e novos-ricos, tal como em muitas outras áreas onde nos movimentamos. Tais criaturas são livres de acompanhar a sardinha assada ou o carapau com Barca Velha. Estamos num país livre e democrático, o que foi assegurado por alguns militares que se levantaram cedo em Abril, já faz mais de 30 anos ( e passe a graçola)...
Mas, francamente, não me considero desse grupo..
"Nem sempre Galinha, nem sempre Rainha" e "Cada Macaco no seu Galho" pois está claro e estou de acordo... mas que sejam ao menos "macacos" e não "saguins" a porem-se em bicos de pés e a julgar que o são...
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