sexta-feira, novembro 20, 2015

Para Descansar a Vista, esperando...



Em dia de poema lembramos a fila dos desgraçados que já passaram e ainda vão passar por Belém.

Tivemos notícia que existem Associações que ainda não foram convidadas para vir à sala das Bicas  expor as suas razões.  A Associação Cultural e Desportiva das Brunheiras (Odemira), a Associação Recreativa Taberna das Almas (Lisboa) e o Rancho Folclórico de S. Tiago (Mirandela) são exemplos.

Ou há moralidade ou comem todos! A cozinha de Belém é que parece estar já na fase da ração de combate, dada a afluência...

Dos que já sussurraram ao ouvido do Sr. PR existe boa gente, gente assim-assim e gente que mais valia emigrar.

Alguns vieram enganados a pensar que era aquela a fila para uma vida melhor, outros convictos que a sua opinião vai contar para alguma coisa... Uns e outros embalados "naquele engano de alma  ledo e cego que a fortuna não deixa durar muito".

De Jorge Miguel Fernandes Jorge deixo um belo poema "Podemos Esperar?"
 E respondo eu já:
-"Poder, podemos, mas  nunca será a mesma coisa...Despache-se lá com isso Homem!".

Para quem desconhece este grande poeta, que escreve há 40 anos e tem sido relativamente subalternizado, leiam aqui sff:

http://observador.pt/2015/05/07/porque-e-que-nao-andamos-todos-a-ler-furiosamente-joao-miguel-fernandes-jorge/


Podemos esperar?


Como podemos esperar? 

Aguardar o que nossas mãos possam reter. 
Uma palavra. O olhar cúmplice. Se as coisas 
têm já o estado do vento 
o que nas ruas fica das vozes ao fim do dia. 

Aguardar mais aguardar nada 
quanto mais se repete uma palavra 
«estou sentado virado para a parede desta casa» 
baixo, mais baixo ainda, 
«estou sentado virado para a parede desta casa». 

Fazer que não haja sucedido o sucedido. 
O prazer de sentir chegar as coisas 
o riso sob a chuva 
o frio que faz. Aqui 

Como podemos esperar uma noite de lua e vento? 

João Miguel Fernandes Jorge, in "Direito de Mentir" 

Um comentário:

Américo Oliveira disse...

Há os que esperam e há os que chegam atrasados. Não muito a propósito, mas sempre com agrado, recordo aqui a poesia de José Miguel Silva:

HOMEM DO LIXO

O último a chegar à festa tem
como castigo varrer o lixo,
o subproduto da embriaguez
organizada. Não é justo nem
injusto, é a lei dos retardatários.

A essa hora já os gastos foliões
mergulham no sono que se segue
a toda a felicidade, cientes
de que irão acordar ressacados
mas contentes por terem feito tudo
o que era humanamente possível
para se divertirem uma última vez.

Sozinho no recinto, o retardatário
dança com a sua vassoura,
recolhe sobriamente os detritos
da exaltação – preservativos,
cartazes, garrafas vazias –
e consola-se com a mentira
de ter sido poupado à desilusão.

Findo o trabalho, tem ainda tempo
para se apiedar dos vindouros,
que da festa não terão sequer notícia,
que nunca poderão participar
sequer remotamente em algo
tão aparentado com a esperança.