Em dia de poema lembramos a fila dos desgraçados que já passaram e ainda vão passar por Belém.
Tivemos notícia que existem Associações que ainda não foram convidadas para vir à sala das Bicas expor as suas razões. A Associação Cultural e Desportiva das Brunheiras (Odemira), a Associação Recreativa Taberna das Almas (Lisboa) e o Rancho Folclórico de S. Tiago (Mirandela) são exemplos.
Ou há moralidade ou comem todos! A cozinha de Belém é que parece estar já na fase da ração de combate, dada a afluência...
Dos que já sussurraram ao ouvido do Sr. PR existe boa gente, gente assim-assim e gente que mais valia emigrar.
Alguns vieram enganados a pensar que era aquela a fila para uma vida melhor, outros convictos que a sua opinião vai contar para alguma coisa... Uns e outros embalados "naquele engano de alma ledo e cego que a fortuna não deixa durar muito".
De Jorge Miguel Fernandes Jorge deixo um belo poema "Podemos Esperar?"
E respondo eu já:
-"Poder, podemos, mas nunca será a mesma coisa...Despache-se lá com isso Homem!".
Para quem desconhece este grande poeta, que escreve há 40 anos e tem sido relativamente subalternizado, leiam aqui sff:
http://observador.pt/2015/05/07/porque-e-que-nao-andamos-todos-a-ler-furiosamente-joao-miguel-fernandes-jorge/
Podemos
esperar?
Como podemos esperar?
Aguardar o que nossas mãos possam reter.
Uma palavra. O olhar cúmplice. Se as coisas
têm já o estado do vento
o que nas ruas fica das vozes ao fim do dia.
Aguardar mais aguardar nada
quanto mais se repete uma palavra
«estou sentado virado para a parede desta casa»
baixo, mais baixo ainda,
«estou sentado virado para a parede desta casa».
Fazer que não haja sucedido o sucedido.
O prazer de sentir chegar as coisas
o riso sob a chuva
o frio que faz. Aqui
Como podemos esperar uma noite de lua e vento?
João Miguel Fernandes Jorge, in "Direito de Mentir"
Um comentário:
Há os que esperam e há os que chegam atrasados. Não muito a propósito, mas sempre com agrado, recordo aqui a poesia de José Miguel Silva:
HOMEM DO LIXO
O último a chegar à festa tem
como castigo varrer o lixo,
o subproduto da embriaguez
organizada. Não é justo nem
injusto, é a lei dos retardatários.
A essa hora já os gastos foliões
mergulham no sono que se segue
a toda a felicidade, cientes
de que irão acordar ressacados
mas contentes por terem feito tudo
o que era humanamente possível
para se divertirem uma última vez.
Sozinho no recinto, o retardatário
dança com a sua vassoura,
recolhe sobriamente os detritos
da exaltação – preservativos,
cartazes, garrafas vazias –
e consola-se com a mentira
de ter sido poupado à desilusão.
Findo o trabalho, tem ainda tempo
para se apiedar dos vindouros,
que da festa não terão sequer notícia,
que nunca poderão participar
sequer remotamente em algo
tão aparentado com a esperança.
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