Existem restaurantes por esse país fora que praticam os chamados "Preços de Lisboa". Outros não, têm propostas mais "maneirinhas" para o bolso do visitante.
"Preços de Lisboa" foi um termo que comecei a usar (sem querer direitos de autor) para referir o preço elevado dos pratos e dos vinhos nas outras regiões do país, onde era suposto - em teoria - que restauradores e clientes estavam (bem) habituados a alguma contenção nas margens impostas.
Esta "teoria" tem vindo a desaparecer. A uniformização do IVA ( e a sua subida!) não ajuda a manter preços muito diferentes. E com a globalização da economia o que se verifica é que muitos hoteleiros recorrem aos mesmos fornecedores "Liedls", "Continentes", "Makros" e outros assim, desde Vila Real de Santo António a Caminha.
Há 20 anos quem vinha da Invicta ao Porto de Santa Maria sabia que ia ao mais caro restaurante do país, e fazia gala nisso mesmo. Mas se lhe pedissem no Lusíadas, Chanquinhas, ou no Dom Manuel
(de saudosa memória) os preços de kg (de peixe e marisco) do Santa Maria, mandava os respectivos donos ao médico da cabeça...
Claro que havia excepções: o "Fialho" sempre foi chamado a "Ourivesaria de Évora". A "Linda" de Viana do Castelo alinhava em preços pelo Guincho (mais ou menos). Para não falar dos "estrelados" do Algarve que então se começavam a destacar no panorama da cozinha criativa nacional.
Hoje, como expliquei, a norma será a harmonia das cartas de vinhos e de comidas ao longo do rectângulo . Mas continua a haver locais onde, por milagre dos proprietários ou por dedicação quase exclusiva a fornecedores locais, o preço da refeição é sempre mais convidativo do que na capital do império, mantendo-se mais ou menos constante o que enfardamos.
A carta de vinhos é sempre uma bitola interessante para julgar estas coisas. Enquanto que o Barca Velha , o Batuta e outros do tipo roçam sempre os 350 euros - independentemente da região do país - já nos vinhos mais "normais" , embora de qualidade, se podem detectar algumas diferenças. Por exemplo, reparem nos preços do "Soalheiro". Podem ir de 18 euros a 25 euros. São quase 40% de diferença...
No "Arcoense", em Braga, casa de altíssimo nível, não detectei grandes diferenças entre aquilo que estou habituado a gastar aqui em Lisboa ou em Cascais. Mas no também impecável "Carvalheira" de Ponte de Lima é certo e sabido que se come (até à exaustão) por cerca de metade dos preços sulistas.
Quem se abastece de vinho à porta das Adegas Cooperativas ou em produtores locais pode apresentar uma carta muito mais equilibrada ( para baixo). Mesmo que utilizando o clássico factor de multiplicação da restauração, que por norma é já de 150%...
Um Vinhão de Ponte de Lima custa 4€ e pode ser vendido por 10€. Um Soalheiro pode custar à porta da quinta de Melgaço 8€ e, como eu disse, pode estar nas cartas a 18 € ou a 25 €...
Agora atentem nisto: Uma refeição para duas pessoas, com pata negra de Jabugo (prato grande); lavagante vivo nacional ( 1,2kg) ; Sarrabulho completo (com o arroz dito cujo e mais uma travessona de rojões, belouras, tripas, fígado e tudo o resto que é canónico); duas garrafas de verde branco Loureiro "Escolha"; 2 Pudins do Abade; 2 whiskys velhos: 2 cafés.
Quanto?
Pois...se fosse em Lisboa? Não menos do que 250€. No Minho? 140€...
Eu gosto do Minho!!!