segunda-feira, abril 20, 2015

Para Descansar a Vista...À segunda feira

Estive em Fátima (Avé Maria!) na sexta passada, motivo porque apresento hoje aqui o habitual poema "das sextas".

Um poeta fora de classificações num dia fora do normal. Está dado o mote, fazendo com que ambas as escolhas ( a do poeta e a do dia) se acompanhem.

Mas haverá categorias para a poesia ?

No início da Poética, Aristóteles anuncia que vai falar da poesia e das suas “espécies”  - Poética, tradução de Eudoro Sousa (1994) -   podendo nós admitir deste texto que, segundo o Autor, a arte da poesia se concretiza em diferentes modalidades (géneros) a partir de um modo único de realização (mimesis).

Passados uns milhares de anos a "coisa" não será assim tão "taxativa" como o mestre dos antigos a quis apresentar. Há poesia que rima, a que não rima, a que parece prosa e a prosa que se lê como se fosse poesia... E depois? Bem, depois há os poetas que resistem a qualquer tipo de classificação.

Os outsiders.

Tomem  lá , se fizerem o favor, do poeta de rua brasileiro - Mário Gomes - esta proposta:

AÇÃO GIGANTESCA

Beijei a boca da noite
E engoli milhões de estrelas.
Fiquei iluminado.
Bebi toda a água do oceano.
Devorei as florestas.


A Humanidade ajoelhou-se aos meus pés,
Pensando que era a hora do Juízo Final.
Apertei, com as mãos, a terra,
Derretendo-a.
As aves em sua totalidade,
Voaram para o Além.


Os animais caíram do abismo espacial.
Dei uma gargalhada cínica
E fui descansar na primeira nuvem
Que passava naquele dia
Em que o sol me olhava assustadoramente.

Fui dormir o sono da eternidade.
E me acordei mil anos depois,
Por detrás do Universo.

Mário Gomes

Nota biográfica sobre Mário Gomes com chapelada ao Prof. João da Mata (UFRN)

 O poeta Mario Gomes  tem como lema a liberdade. Nascido em Fortaleza no dia 23 de julho de 1947. Anda maltrapilho pelas ruas pedindo de empréstimos o que comer e beber. Poeta maldito. Vive bêbado. Irreverente viajou diversas vezes ao Rio de Janeiro e Salvador para retornar em seguida à sua terra natal. Mário é doido! Mario é preso e escapa para ser preso novamente. Mário é livre e vive a poesia em estado de miséria. O autor de “Lamentos do Ego” é um poeta metafísico para quem a poesia é vital. A vida é altamente preciosa, mas não vale nada, diz o poeta defendendo tese.

O quadro Starry night é (obviamente) de Van Gogh , mais um outsider de génio.

Nenhum comentário: