A canção "Ouçam" (sempre me pareceu "oução" dada a ênfase no verbo dada pelo vozeirão do Eduardo Nascimento) ganhou um festival em 1967 e , pelo menos durante algum tempo, ficou no ouvido dos portugueses. Tinha uma letra um bocado primária - o Vento a mudar e ela que não voltava, etc... - que me desculpe o poeta Magalhães Pereira pela observação, mas o refrão ficava connosco.
Há dias acordei com ela outra vez no ouvido. Em 1967 tinha 12 anos. O dia-a-dia era simples. Eu nos Salesianos, o meu pai a trabalhar no MOP, a mãe a ensinar telefonistas nos defuntos TLP.
O Celtic ganhou em Lisboa, na Luz o único título dos Campeões Europeus da sua história. Ganharam por 2 a 1 ao Inter de Milão.
E o Sr. Manoel de Oliveira, já com 59 anos, não filmava longas metragens desde 1962, "castigado" pela nomenklatura que se tinha atrevido a contestar. A PIDE tinha-o "referenciado".
Para convencer a Gulbenkian a financiar o novo cinema português independente era fundamental que Manoel estivesse nessa barca. Azeredo Perdigão (conhecido "patinhas" para estas coisas dos adiantamentos, essas modernices liberais), só assinava o cheque se "Oliveira concordasse em realizar um último filme".
Aliás, a possibilidade de Oliveira realizar um "último filme" parece que seria a moeda de troca para ele próprio chegar-se à frente e apadrinhar o núcleo dos "modernos realizadores à espera do subsídio", que integraram depois o Centro Português de Cinema.
Meu mestre Bénard da Costa teria sido o "apóstolo" desta ideia junto do Dr. Perdigão. E este, entusiasmado pela craveira de Manoel, fora a S. Bento pedir licença para avançar.
O que foi concedido. O que era para ter sido o "último Filme " de Manoel de Oliveira, "O Passado e o Presente", estrearia em 25 de Fevereiro de 1972.
Depois desse "último filme" o jovem Manoel (que já tinha 13 filmes e documentários feitos em 1972) ainda tirou para fora da sua funda cartola mais 30 (!!) longas metragens e mais 14 médias e curtas...
É obra? Não amigos leitores. São muitas obras!
Nota: Porque será que a malta do Governo só pensa na cultura quando morre um artista?? Ninguém falta ao funeral... Pôrra compadres que estamos em ano de eleições!!
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