quinta-feira, junho 20, 2013

Descansando a Vista na Quinta (Feira)

Estamos entregues ao ruralismo. Depois dos discursos marcadamente bucólicos tivemos ontem mais uma sessão de plantio, desta vez  de árvores no centro de Lisboa ( e  não posso refilar muito porque lá estava a besta eu , tapando com a barrigana a vista às câmaras de TV, com a minha caixa dos carimbos pela mão).

Desta forma , descansar a vista numa Quinta parece adequado ao momento atual, onde as cidades - veja-se no Brasil - parecem ser demasiado agitadas com más notícias.

Existem contudo boas notícias que transcendem a ruralidade deste Portugal:

- A hora média do valor do trabalho continua a descer em Portugal.
- A convergência para os índices de poder de compra médios na Europa também continua a descer no nosso País. Já foi de 80%, estamos agora em 75% e com tendência para baixar ainda mais...

Já ouço os leitores:
 - Este c*** de Blogger está cada vez mais louco! Onde é que estas são "boas notícias"?!

Esqueci-me de precisar que são Boas Notícias do ponto de vista da Troika. De facto, a Troika entende que quanto menos se pagar aos trabalhadores e quanto menos estes gastarem,  mais o País prospera.

Tentei interpretar fazendo uma racionalização da minha lavra, em dois pequenos passos

1 - Quanto menos pagar o Estado e as Empresas aos  funcionários e trabalhadores  mais  investimento e mais empregos criarão. (Não se vê nada disso, provavelmente porque sou míope)

2 -Por outro lado, quanto menos receberem os trabalhadores  e funcionários tugas, menos gastam, e ao gastar menos estão a contribuir para fechar mais empresas e aumentar o desemprego... (Isto tá-se a ver mesmo a sério, mesmo com a miopia)

Antigamente chamava-se a isto (em Teoria dos Jogos) um jogo de soma nula...Mas adiante...



Venha então Poema solidário com o direito ao trabalho e a ser feliz trabalhando, de António Ramos Rosa:

Um Ofício que Fosse de Intensidade e Calma

 Um ofício que fosse de intensidade e calma
e de um fulgor feliz


E que durasse
com a densidade ardente e contemporâneo
de quem está no elemento aceso e é a estatura
da água num corpo de alegria


E que fosse   fundo
o fervor de ser a metamorfose da matéria
que já não se separa da incessante busca
que se identifica com a concavidade originária
que nos faz andar e estar de pé
expostos sempre à única face do mundo

Que a palavra fosse sempre   a travessia
de um espaço em que ela própria fosse aérea
do outro lado de nós e do outro lado de cá
tão idêntica a si que unisse o dizer e o ser
e já sem distância e não-distância nada a separasse
desse rosto que na travessia é o rosto do ar e de nós próprios

António Ramos Rosa, in "Poemas Inéditos"

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