Agosto é bom para passar em Lisboa. Trabalhando, está claro!
Pelo menos era...
Estacionávamos ali mesmo à beira dos locais de trabalho, havia muito menos gente na estrada e mesmo com as obritas na A5 que era certo e sabido começarem nesse mês, com alguma sorte e vindo cedo chegávamos mais depressa.
Bem sei que tínhamos os Restaurantes habituais fechados, mas aproveitava-se a oportunidade para conhecermos outros.
Mas isso era dantes. Não sei se têm a mesma opinião que eu, mas se deitarmos para fora da análise a questão das Férias escolares - esse sim, o factor externo que traduzirá a grande diferença em termos de ocupação das vias - não me parece que este Agosto actual seja mesmo o das Férias Grandes de todos os portugueses.
Dirão que ainda a procissão vai no adro, mas mesmo só com três dias de treino não vejo a cidade assim tão deserta como noutros anos. E mesmo os restaurantes parece terem inaugurado uma nova forma de responderem à eventual mudança de hábitos dos lisboetas: em vez de fecharem o mês de Agosto todo, alguns só fecham completamente na 2ª metade e nos primeiros 15 dias do mês dão só almoços...
De facto - e não é só um fenómeno de Verão - Lisboa desertifica-se durante a noite e, se esquecermos o Bairro Alto, as Docas e parte da 24 Julho , parece que a partir das 21 horas deambulamos por uma cidade fantasma... Estranho mas verdadeiro.
Lembro-me das famílias irem jantar ao Polícia ou ao Funil nas Sextas-Feiras e Sábados, e quem diz estes dois antigos poisos respeitáveis de uma certa burguesia média das Avenidas Novas dirá outros tantos noutras zonas da nossa cidade... Mas, tanto quanto me parece, esses hábitos desapareceram.
Fruto da crise, sem dúvida, mas também fruto de uma certa erosão da antiga classe média que cresceu com Abril de 74 e que , infelizmente , se vê agora fortemente manietada financeiramente...
No Agosto algarvio estes portugueses da classe média até tinham uma alcunha dada pelos ricos e afluentes, como se fossem uma praga que se abatia sobre eles : chamavam-lhes "os agostinhos".
Iam para um hotel em conta lá para os Algarves, depois disso tentaram (e ainda conseguiram) alugar uma casinha na Quarteira, daí passaram ao campismo em Monte Gordo, e depois, bem, depois acabou-se Algarve ou Allgarve...
A falta de dinheiro levou-os a emigrarem para as visitas a casa da família que têm nas terras da província (os que a têm). Hoje alguns (talvez a maioria) passa o Agosto no apartamento de todos os outros meses do ano e vai à Praia que lhes fica mais perto. Levam sandes e garrafas de água, não há dinheiro para sardinhas ou para febras... E não se trata de indigentes, nem de operários, nem sequer de empregados de balcão! São pequenos patrões, Quadros Médios, Professores de Liceu, e por aí fora...
E atenção, pois é dessa gente e do seu esforço contributivo que vive a Segurança Social e muitas das outras dádivas deste Estado meio-providencial... São eles que, por enquanto, pagam a parte de leão dos nossos impostos.
E haja cuidado pois muita desta gente tem direito a indignar-se com o que lhes vem acontecendo nestes últimos anos! Serão a "espinha dorsal da Nação" quando toca a pagar, mas para o resto, para receber a distribuição dos dividendos, tenho a impressão que estão tão mal colocados quanto os inocentes aforradores do BPN que clamam pelo seu dinheirito colocado a prazo e com garantia do Estado...
Até quando? Ninguém olha para estas famílias? Olhem que sem Classe Média perde-se o País e perdem-se os Portugueses.
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