Um conhecido escanção francês, quando questionado sobre os melhores vinhos tintos para beber no Verão, a temperaturas ambiente perto dos 30 graus ( e mais) respondeu de forma clara:
-"Qualquer um dos grandes vinhos . O verdadeiro conhecedor bebe em ambientes refrigerados com ar condicionado".
Pondo de lado o imperialismo da resposta - Oh miserável, vai mas é comprar à Sanyo o Ar Condicionado antes de fazeres a garrafeira no T2 onde pernoitas! - devemos saber que existem vinhos tintos mais indicados para o Inverno e outros para o Verão.
Mesmo que a temperatura de serviço seja a mesma em qualquer mês do ano, o certo é que os 17º da garrafa em Agosto e os mesmos 17º em Novembro nos "parecem" bem diferentes.
Direi que não só nos parecem, como também nos sabem a diferente. Para já não dizer que, em plena canícula agostiniana, muito rapidamente os 17º do vinho na garrafita chegam aos 25º nos copos, se não bebermos depressa...
Variáveis como a idade, estrutura, casta, acidez e até a cor do vinho, podem pesar na balança da decisão sobre o que será um tinto mais adequado para as temperaturas elevadas.
De facto, são os taninos, corpo, acidez e grau álcool que normalmente vêm de mãos dadas com potencial de envelhecimento e fazem a base do que se convencionou chamar "Grandes Vinhos".
Mas nem só dos Petrus, Cheval Blanc e Barcas Velhas vive o enófilo. E há vinhos tintos muito bons para todas as ocasiões, mesmo que seja em pleno Verão.
À beira da praia, perante um almoço de peixe grelhado, penso que apenas um empedernido apoiante do velho ditado "vinho é tinto, branco é refresco" continuaria a refugiar-se no tinto.
Mas admitindo que a noite já caiu e que estamos perante a hipótese de um jantar elaborado, onde a ementa, embora mais aligeirada, tem pratos de carne, porque não apostar num tinto jovem e mais leve?
Os antigos lavradores diziam que, no Dão, o branco era para o Inverno e o tinto para o Verão. Há alguma verdade nisto, sobretudo se tivermos na mesa os brancos velhos de encruzado e os tintos mais novos de alfrocheiro ou de touriga.
Um destes tintos novos de grau álcool mais contido acompanha magnificamente pratos ditos "de verão" onde a carne predomina (ou não). Lembro-me por exemplo da família dos tártaros e carpaccios, não esquecendo os souflés e até alguns fricassés de aves.
E para não estar sempre a falar do Engº Álvaro de Castro aqui vai outra proposta: Vinha Paz (António Canto Moniz). Por cerca de 8 euros o Vinha Paz colheita de 2014 é uma proposta excelente para as noites de verão, se a comida ajudar. Tem 13º e é um vinho macio com fruta silvestre, fresco, pouco encorpado e elegante, com um final longo e persistente.
Claro que entre brancos e tintos aparecem os rosés...
Algo vilipendiados pelo Macho Luso, acusados de serem "vinhos para damas".
Todavia serão das propostas mais adequadas aos meses de muito calor e têm (os melhores) aptidões gastronómicas evidentes. Para além de serem daqueles que mais aguentam o inimigo número um do vinho: o vinagre . Do qual por vezes se abusa nos pratos mais veraneantes (escabeches frios e mayonaises vêm logo à memória).
Mas essa será uma história para discutirmos mais tarde.
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