I
Volto contigo à terra da ilusão,
mas o lar de meus pais levou-o o vento
e se levou a pedra dos umbrais
o resto é esquecimento:
procurar o amor neste deserto
onde tudo me ensina a viver só
e a água do teu nome se desfaz
em sílabas de pó
é procurar a morte apenas,
o perfume daquelas longínquas açucenas
abertas sobre o mundo como estrelas:
despenhar no meu sono de criança
inutilmente a chuva da lembrança.
II
Acordar,
acender o rápido lampejo na água escusa
onde rola submersa
como o lodo no Tejo
a vida informe,
peso dúbio desse cardume
denso ou leve
que nasce em mim
para morrer no mar da noite breve;
dormir o pobre sono
dos barbitúricos piedosos
e acordar,
acender os tojos caudalosos
nesta areia lunar ou, charcos,
nunca mais voltar.
Carlos de Oliveira, in 'Cantata'
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