A mudança, qualquer que seja ela, é sempre "stressante".
Temos stress quando nos divorciamos (que grande mudança de vida...) , quando mudamos de emprego, quando mudamos de casa, quando mudamos até de barbeiro!
Mudar de local de trabalho também tem os seus "quês"... Na minha vida profissional nos CTT, que comecei vai para 32 anos, mudei-me poucas vezes, a maioria nos últimos anos, o que, se calhar, também significa alguma coisa...
Mudei-me da Rua Padre Luis Aparício (sobranceira ao Miguel Bombarda, só mais tarde me apercebi do jeito que não daria ter mesmo ao lado aquela instituição...) para a Av. Casal Ribeiro em 1979. Depois, da Casal Ribeiro para a Praça D. Luis I em 1997, mesmo nas vésperas da EXPO. Da Praça D. Luis para o MARL em 2003 - o meu exílio causado pela "gestão" do mediático CHC - do MARL para a Av. Casal Ribeiro em 2005 e da Av. Casal Ribeiro outra vez para a Praça D. Luis em 2009.
Tão chateado eu fico com estas exéquias sempre associadas às mudanças que - desde os tempos do MARL - já nem sequer desfaço todos os caixotes que me acompanham como se fossem uma carraça...
Existiam no meu gabinete da Casal Ribeiro vários caixotes por abrir, e haverá , na Praça D. Luis, ainda mais desses objectos.
São um sinal da minha entrada na idade: já não terei paciência para andar com a casa às costas, em bolandas de um lado para o outro. Será assim, mas também alguma sabedoria que nos vem do mundo que palmilhamos e que nos aconselha a não ter duas vezes o mesmo trabalho...
Desconheço hoje exactamente o que está dentro desses caixotes. Suponho que existirão livros antigos, objectos pessoais da minha família, talvez os dossiers com as minhas lições da Faculdade, pois sempre tive o cuidado de escrever toda a matéria que dava, aula a aula...
Guardo para o tempo da reforma o duvidoso prazer de os abrir. Lá para os 85 anos, pelo andar da carruagem da pretensa sustentabilidade da Segurança Social em Portugal e na Europa.
Ainda não tenho espaço onde me possa sentar lá em baixo, para onde vou, perto do Rio. Já me sinto algo intruso aqui na Casal Ribeiro, onde escrevo (bem cedo, não vá por aí aparecer o legal ocupante das instalações que já foram minhas).
Decidi - lá está o peso de alguns anos de vida - que só me sentirei em "casa" outra vez na altura em que fizerem o favor de instalarem a minha velha cadeira no novo espaço de trabalho que nos reservaram.
A cadeira de um homem é tudo ou quase tudo na sua actividade profissional. Talvez tão importante como a(o) companheira(o) de vida. E com algumas vantagens sobre os "mais que tudo": nunca responde com maus modos, aguenta o peso de um gajo sem protestar (enfim, lá rangerá um pedaço se estiver mesmo de mau humor), está sempre disponível para ser utilizada, e, muito importante nos dias de hoje, é de muito baixa manutenção!
Esta, pela qual espero com alguma ansiedade, acompanha-me desde 1995. Foi comprada pela Filatelia dos CTT e custou na altura para cima de um dinheirão! Para aí uns 100 contitos na moeda antiga! Não é de pele nem de marca de moda. Apenas muito bem feita e resistente que baste para aguentar os centos e vinte e tais que tinha na altura e que ainda mantenho.
Tem sido completamente fiel e devotada a este meu real assento. E mais nada se pode pedir de um objecto inanimado: cumpre a missão para que foi criada, todos os dias, sem queixumes nem pedidos de aumento...
Espero pois, pela minha leal cadeira. Logo que esteja montada, por detrás de alguma secretária que herdarei não sei de quem.
De facto já me preocupei mais com esta história de, aqui nos CTT, nunca ter tido direito a mobília nova... Herdei a do Leiria Viegas quando me nomearam Director, em 1991, depois fui herdando as mobílias dos "outros" que fui substituindo até ter vindo outra vez para a Filatelia onde lá estava ela à minha espera outra vez (acertaram, a velha mobília do Leiria Viegas...).
Parece anedora, todos os colegas gozavam à minha custa com esta história, mas é verdade...
Talvez porque nunca me "empertiguei" como outros o terão feito, mas também por respeitar uma coisa que hoje desdenhamos: as coisas antigamente eram compradas com seriedade e sendo de boa qualidade, embora mais caras, tornavam-se sempre mais rentáveis para as organizações do que as que comprarmos em qualquer IKEA dos tempos modernos.
Então aqui estou neste Limbo quase sala de espera - o que me irrita solenemente - aguardando o resultado final destas convulsões.
Vingando-me das maldades do mundo cruel com algum almoçito mais aprimorado...Por exemplo, à conta da mudança e da despedida do Bairro, vamos hoje abichar umas tripazinhas por conta da casa ao nosso habitual refúgio anti-stress, a sempre hospitaleira Horta dos Brunos.
São servidos?