É complicado convencer hoje uma criança a coleccionar selos.
Todos o sabemos.
Começa qualquer criança por ter um meio ambiente mais condizente com outros tipos de entretenimento, onde abundam os gadgets e outras atracções electrónicas.
Continua a dificuldade pela má vontade da sociedade em geral sobre este tipo de Hobby, considerado por muitos amigos, colegas, pais e familiares mais como algo típico de um "nerd" - aqui em Portugal diríamos "choninhas" no meu tempo e hoje em dia talvez "cromo" .
E vá lá, vá lá que nestes dias do politicamente correcto deixou de ser aceitável chamar às crianças eventualmente interessadas por este tipo de actividades "mariquinhas que deviam era ir para a rua jogar futebol"...
Numa palavra, a Filatelia não é "cool", está "out" , provavelmente servirá de chacota aos outros adolescentes e não se posiciona como angariadora de pontos de "status", subidas na hierarquia das relações adolescentes, na escola ou fora dela , ao jovem que a pratica.
E nem melhora esta fotografia quando lembramos os jovens e seus encarregados de educação que também Bill Gates era considerado um "nerd" no seu tempo e depois foi o que se viu...
Do ponto de vista positivo as vantagens que podemos trazer para cima da mesa são sobretudo de carácter formativo, cultural e pedagógico. Quem se interessa por coleccionar selos desenvolve competências relacionadas com a atenção ao detalhe, aos pormenores, amplia (e de que maneira!) o seu conhecimento do Mundo, daquilo que nos rodeia, das evoluções políticas que mudam as fronteiras .
O jovem cedo se habitua ao trabalho de investigação, a correlacionar e manipular fontes alternativas de conhecimento, desde as enciclopédias (mesmo as on-line) até aos velhos compêndios de história , biologia, e por aí fora.
É a Filatelia também uma importante ferramenta para despertar os jovens para as lutas da civilidade; o respeito pelo meio ambiente, a participação cívica na vida política, sem esquecer que lhes proporciona ainda uma latitude e profundidade de "vistas", de opiniões, que os preparará bem para lidarem com a diversidade democrática dentro das nossas sociedades, evitando assumirem posições extremadas ao modo dos grupos radicais de juventude ("skins", etc...) que por aí proliferam.
Por outro lado, são estas crianças normalmente melhores alunos, com melhores notas - mesmo que até aqui não se tenha feito nenhum estudo cientificamente relevante em Portugal sobre isto. Mas há-os de outros Países (USA, Bélgica, por exemplo). E esta deveria ser uma qualidade que fizesse os progenitores pensarem um pouco antes de desdenharem da "bondade" da filatelia.
Como se poderá alterar esta situação? É complicado. Muita gente ( e mais bem preparados do que eu) tem reflectido sobre este assunto em todo o mundo e as conclusões parecem ser mais ou menos as mesmas:
Se deixarmos ao critério de um Avô ou de um velho Tio passar "a chama" do interesse pela filatelia, depressa essa chama se vai extinguir logo que o jovem sofra uma daquelas crises existenciais que são tão típicas da adolescência...
Parece fundamental existir alguém, com sabedoria e experiência , que faça uma animação local - escola por exemplo - de um núcleo filatélico juvenil.
Desta forma a filatelia seria encarada de uma forma mais estruturada, enquadrada no dia-a-dia da vida do jovem e até socialmente melhor aceite porque ficaria "à vista de todos" , apoiada pelos poderes instituídos.... E até podia trazer benefícios à Escola, prémios em Exposições, Viagens ao estrangeiro dos Jovens filatelistas mais promissores e por aí fora.
Quando os colegas começarem a olhar esta actividade um pouco como o Xadrez ou como o Atletismo -uma actividade desportiva individual, mesmo que algo fora do âmbito normal da trilogia liceal do futebol , vóleibol e andebol - é normal que o estigma do "inepto social" se levante e permita ao jovem filatelista ser bem aceite na sua "envolvente".
Por isso é que não se pode deixar de louvar o trabalho pioneiro que alguns Professores fizeram e ainda fazem em Portugal sobre esta matéria, preparando alunos e convencendo Conselhos Directivos de que a Filatelia traz mais valias significativas para os praticantes e também para as escolas que os apoiam.
Bem Haja Professor Marcial Passos, lá em Vale do Neiva!
6 comentários:
Amigo
Ataca, no bom sentido, as escolas. Um bloco ou dois, mesmo antigos, fazem um efeito do... camandro. Uma vez ofereci blocos numa festa da minha filha, em vez de chupa-chupas e outros mata-dentes. Olha que fez algum efeito, e hoje tens pelo menos mais 3 coleccionadores.
Serão apenas essas as razões que estarão na origem do afastamento das crianças do coleccionismo dos selos postais?
Não serão também – ou principalmente, quiçá? – a falta de matéria prima (selos circulados) e às abundantes e altíssimas taxas (selos novos)?
Se o espécimen FILATELISTA não existisse, pagaria para ver alguns dos selos obliterados com carimbos ordinários, pois uma boa parte deles não se vendem aos balcões e as taxas estão desajustados ao consumo postal.
Observe-se a evolução dos abonados com conta-corrente, faça-se uma extrapolação dos números, tenham-se em atenção os rácios (sexo/faixas etárias) e retirem-se as devidas conclusões.
Bem sei que os CTT não são a Cruz Vermelha e que os números da secção filatélica falam bem mais alto, mas…
Temo que a galinha dos ovos de ouro venha a morrer prematuramente, com a doença da nossa sociedade: obesidade.
Saudações Filatélicas,
F.Bernardo
2/3 razões:
Para alem da falta de selos circulados, essa espécie em vias de extinção, veio ainda ajudar à "festa" o carimbo informático, uma aberração que não permite na sua maioria verificar o posto de correio onde foi colocada a carta, inibindo no futuro o seu estudo (percurso, data ...) e o famigerado dentado de cruz, que estraga mais selos do que beneficia a filatelia.
Temos ainda o excesso de emissões anuais, certamente neste ponto não se pode mexer, mas ajuda a que a filatelia esteja em declínio.
Um bem-haja aos resistentes.
Concordo em absoluto com a opinião de F.Bernardo.
Os CTT têm grande responsabilidade na situação em que a filatelia se encontra.
Alguns dos actuais cotas (leia-se filatelistas) ou já fecharam as suas colecções em 2000 ou, têm 2010 como meta para fazê-lo.
Isto pela insustentabilidade em continuar o seu hobbie quer pela quantidade de emissões, quer pela exorbitância dos valores das taxas.
Selos circulados - se em parte existem deve-se a esses carolas que teimam em contrariar a tendência, que se tornou hábito instituído, dos funcionários dos CTT aplicarem a famigerada tira em vez de selos.
Em relação ao tema deste post, deixo algumas digas:
PARA OS CTT
- Criação de folhas de àlbum para a juventude.
Apelativas, com desenhos alusivos ao tema de cada emissão, acessíveis através de download.
- Acções de promoção frequentes junto das escolas com ofertas de "pacotes de iniciação" e de material filatélico com eventual publicidade.
PARA AS ASSOCIAÇÕES DE FILATELISTAS:
- Angariação de selos quer junto dos seus associados, comerciantes, CTT , etc para distribuição gratuíta pelos jovens que lhes enviassem envelopes pré-franquiados para o efeito.
PARA OS COMERCIANTES DO RAMO:
Que tomassem a iniciativa de, de vez em quando, sairem para a rua de forma a deixarem de ser invisíveis.
Um dos motivos que motivou o meu interesse pelos selos foi passar pelas arcadas no Terreiro do Paço, onde se efectuava a feira das colecções.
Encerrados nas suas lojas ou no Mercado da Ribeira não são vistos pelos jovens.
Veja-se o exemplo de Madrid e a feira da Plaza Mayor.
Estas foram apenas algumas ideias repentinas que, eventualmente, poderão ser aproveitadas.
Com outros contributos, pode ser que se consiga algo de forma a que coleccionar selos se torne "cool"...
LCS
De facto, a fILATELIA e os próprios CTT em nada ajudam a inverter esta situação, com selos e blocos emitidos em catadupa, com valores desajustados á realidade postal, e consequentemente a sua invialibilidade de utilização!
Lembre-se que ser fILATELISTA não é só coleccionar selos NOVOS, mas sim USADOS, e o recenet caminho por onde enveredou os CTT em nada ajuda...
Dou só um par de exemplos:
- Muitas vezes, ao balcão das estações dos CTT, se pedir selos, quase que fuzilam o cliente com o olhar, tipo a dizerem: "Mais um maluquinho..."
Se os próprios funcionários têm esta atitude, como se pode incentivar uma criança?????
- Os selos praticamente já para pouco ou nada servem...
Por exemplo, para pagar envios contra reembolso, só servem mesmo para o porte, e não para a taxa de contra reembolso, como até á pouco tempo serviam....
- E muitas estações já nem selos têm, se alguém quiser enviar algo, "come" com uma LINDA etiqueta branca....
Ao fim e ao cabo, a mudança também tem de partir do fornecedor da matéria prima para os fILATELISTAS, os próprios CTT....
Ao fim e ao cabo, a fILATELIA deve ser considerada não como algo etilista e inatingível, mas sim algo normal.
Lembro que muitos muidos de hoje ainda coleccionam os famigerados cromos de caderneta, e que hoje em dia até já são autocolante, coisa que no meu tempo era um luxo!
Ora se AINDA os coleccionam, o que sucedeu aos selos????
Excelente texto!
Devo dizer qu concordo em muito com o que escreveu e, sobretudo, com alguns dos comentários feitos ao seu Post.
Sem margens para dúvidas, tenho uma filha de 12 anos que, ao ver o pai de volta dos selos, também quis fazer a sua colecção de cavalos
Concordei, e passei a comprar-lhe mensalmente, além dos meus selos, cavalos para ela.
Era uma alegria quando chegava a encomenda!
Ia logo colocar os selos com a pinça no álbum que lhe ofereceram.
Os anos fpram passando... Os selos vinham, mas já não eram colocados no álbum.
Descobriu a Internet, o MSN, o telemóvel, as mensagens. E trocou os selos pela Internet, pelo MSN, pelo telemóvel, pelas mensagens!
Hoje, e por mais que eu batalhe para ler um livro, só mesmo obrigada. Há um desinteresse total por tudo!
Os jovens não têm motivações porque não são motivados.
Realmente os selos estão caros. Os CTT assaltam-nos com dezenas de emissões por ano! O dinheiro está caro! Há outras perioridades.
Por isso concordo quando se disse aqui, que o selo deveria ser levado à escola e atrevo-me a dizer mais!
Porque não criar uma disciplina virada para o coleccionismo?
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