Lock Out dos Pequeninos?

Lembram-se ainda do filme F.I.S.T - Norman Jewison, 1978 - com o Silvester Stallone a fazer uma das maiores interpretações da sua carreira (também não teve assim tantas que se possam louvar...) como um dirigente sindical na América dos anos 60 e 70, liderando o Sindicato dos Camionistas e fazendo a vida negra aos burocratas de Washington e aos grandes Patrões da Industria ?

E como nós todos vitoriávamos, no escuro do cinema, os camiões a entrar na capital e a saudar com as buzinas o presidente do Sindicato a sair do Congresso, onde tinha ido fazer declarações sobre suposto tráfego de influências e corrupção generalizada no movimento sindical, incluindo as ligações à Mafia?

Era uma voz rouca que arrepiava a alma:

"- What are we?"

"-FIST!!!"

"-What are we?"

"-FIST!!!""

Aqui em Portugal dá a ideia que se estará a passar algo de parecido, mas adaptado à realidade um pouco estranha da 1ª década do Sec XXI: em vez da velha Luta de Classes a opor os Industriais capitalistas e o Povão (que era a génese do F.I.S.T), temos aqui os Patrões mais pequenos (não os que mandam na ANTRAN, mas sim os pequenos proprietários de frotas ) a convencerem o "proletariado" motorista dos camiões que deles dependem e a tomarem medidas para paralisar o abastecimento de todo o tipo de mercadorias aos centros urbanos.

Notem como os Sindicatos, por um lado, e os Grandes Patrões, por outro , arrenegam esta "luta" e dela se demarcam ostensivamente, chamando-lhe Lock Out e coisas piores em todos os MCS...

É coisa para espantar as criaturas que tratam dos comentários políticos nesta Parvónia... temos o PCP (e o BE) a fazer "pandam" com os capitalistas da ANTRAM e todos juntos a invectivarem os "outros", os "malfeitores" que param assim o País.

"- Onde pára a Polícia? Porque não os prendem todos? Onde estão as cargas policiais a cavalo , no Carregado ou no Cartaxo, a varrer essa gentalha?!"

O aumento dos preços dos combustíveis dói sobretudo ao pequeno e médio industrial de camionagem, que não tem "músculo" suficiente para negociar preços com os potentados que são os seus Clientes (mais empregadores que clientes, digo eu...). Falo das grandes cadeias de distribuição que espremem até mais não poderem o preço dos fretes e que se refugiam em contratos feitos por "resmas" de advogados regiamente pagos... E o Transportador das duas uma: ou aceita as condições ou encosta os camiões...

É um axioma muito antigo aquele que diz "casa que é boa tem de dar para o Patrão e para o Empregado" . Mas nestes casos o que estamos a ver é uma lei de mercado falseada, quase de Lobby (investiguem Senhores do MAI e do ME!) na óptica da qual os preços dos transportes são obrigatoriamente reduzidos e as margens dos camionistas esmagadas até mais não poder.

É claro que , sem possibilidade de manobra em termos de gestão, os transportadores ficam à mercê de qualquer sarabanda que se verifique nas suas estruturas de custo. Com o preço dos Combustíveis a subir 30% ao ano de que estávamos à espera? Que atirassem flores das cabines aos passantes?

Ora haja santa paciência...

Correndo o risco de ser politicamente muito incorrecto, não me coíbo de pensar como seria a história - sobretudo em termos de cobertura mediática - se a actual situação fosse provocada por uma greve marcada pelos Sindicatos afectos à Inter...

Ninguém tem o direito de cercear a liberdade dos outros, onde se inclui obviamente a de circulação nas Estradas e Auto-Estradas que são de todos nós e foram pagas por todos os portugueses, mesmo pelos que não têm carro. Isso é uma verdade insofismável e o Governo tem de fazer cumprir a lei, doa a quem doer.

Mas não sejamos hipócritas para julgar a actual situação com pesos e medidas diferentes das que utilizaríamos noutras ocasiões.