segunda-feira, dezembro 10, 2007

Um Homem que gostava de Comboios


A Morte é uma certeza da existência humana apenas suportável no dia-a-dia pela inevitabilidade da respectiva ocorrência e pela ignorância da sua chegada.

Para muitos (acho que para nós todos) deveria ser rápida e indolor, e apenas bater-nos à porta depois do tempo suficiente para que a vida fosse gozada em todos os seus magníficos aspectos.

Infelizmente nem sempre é assim...

O Amigo Maurício partiu em circunstâncias duplamente dolorosas.

Para a Família e os Amigos uma palavra de conforto, seguro de que estará agora a comandar um "super" comboio no mais bem apetrechado entroncamento ferroviário do outro mundo.

Porventura dando indicações para que se preparem as carruagens do Orient Express para uma viagem inaugural que não mais terá fim, percorrendo todos os países reais e imaginários que só uma eternidade de lazer permitirá visitar.

Adeus Amigo e reserva-me aí nessa Viagem um bom compartimento .

Hora

Sinto que hoje novamente embarco
Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta , por isso marco
Nos meus sentidos a imagem desta hora.

Sonoro e profundo
Aquele mundo
Que eu sonhara e perdera
Espera o peso dos meus gestos.
E dormem mil gestos nos meus dedos.

Desligadas dos círculos funestos
Das mentiras alheias, Finalmente solitárias,
As minhas mãos estão cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos
Que baloiçam na noite murmurando.

Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.
E de novo caminho para o mar.

Sophia de Mello-Breyner

Nenhum comentário: