terça-feira, dezembro 18, 2007

A "Noite" é segura?


Já saí mais à noite do que faço agora.

Não por ter "medo" dos assaltos ou até dos controlos do alcóol da Brigada de Trânsito, mas pura e simplesmente porque os ambientes de bares e de discotecas - no meu imaginário da "boa vida" - perderam terreno face a um bom restaurante , entre amigos, onde se possa ainda cultivar a arte da conversação civilizadamente.

Decerto que a PDI (abreviatura para a "P... da Idade") não será estranha a esta alteração dos meus hábitos. De facto em mais novo eu era muito dado "ao convívio" e tinha garrafa em várias discotecas, bares e outras "profundezas" da noite de Cascais e de Lisboa. Algumas até com nomes de bichos do Jardim Zoológico...
Nessas alturas - e tenham em atenção que passei pelo 25 de Abril e pelo Verão quente de 75 quando tinha 20 anos - a insegurança à noite não vinha tanto das eventuais discussões à porta dos lugares de culto , com os "seguranças" ; ou até das rixas lá dentro, por causa das miúdas ou já sob o efeito dos "copos" , mas sim do receio da intervenção da "tropa" .

Se esta era do COPCON andava pelas ruas à noite a fazer rusgas para identificar eventuais "sabotadores" e "anti-revolucionários"; se era dos "outros" pós 25 Novembro, ia procurar as "armas", as "G3" que estariam escondidas nalguns daqueles lugares da noite e dar caça às infames "FP-25" ou a outros movimentos de esquerda revolucionária que se tinham decidido pela luta armada .

Na minha opinião - e embora uma morte seja uma morte em qualquer circunstância - eram esses tempos muito mais conturbados e inseguros do que os actuais, mesmo contando com as "Máfias da Ribeira" ou com os lobbies dos seguranças do Porto.

Lembro-me de ter estado uma noite sequestrado na Casa das Lamejinhas na Amoreira - era o velho "Camões", conhecido pelos noctívagos por não encerrar à noite e ter sempre "petisco" disponível para os que lá chegavam depois das 3 da manhã - porque se encontravam lá dentro vários operacionais das Brigadas (ou lá do que fosse, já não me lembro bem) que mantinham os clientes em respeito com metralhadoras enquanto que , fora do estabelecimento, a tropa especial os cercava e preparava a entrada em força...

Nessa noite acho que morreram três pessoas e ficaram feridas mais duas (uma das quais era "namorada" de um dos tais "operacionais"). E eu debaixo de uma mesa a rezar para que tudo passasse depressa.

Com essas lembranças na cabeça - e que não são só minhas, mas também comuns a quem teria os tais 20 anos em 75 \76 - faz-me um bocado de impressão estar a ver e a ouvir tanto alarido por causa de uns acertos de contas. Obviamente que os tempos que correm são outros, e que a vida de todos os dias deve ser isenta deste tipo de ameaças, venham de onde vierem. Mas não nos esqueçamos de que é tudo uma questão de "perspectiva"...

Uma vez ouvi um colega meu dos Correios Irlandeses contar uma história que vou aqui repetir.

Em Dublin , no auge do problema que opunha Católicos e Protestantes no Ulster, um irlandês do sul, ansioso por saber alguma coisa daquela guerra civil questionou um empregado de mesa ainda novinho, que tinha fugido do conflito, sobre a situação em Belfast .

E ele só disse :"- Sabe que a minha ocupação lá em Belfast era ser o operador da metralhadora da traseira numa camioneta de pão..."

Já imaginaram viver num País Europeu onde o carro do pão tivesse de ser protegido por metralhadoras , atrás e à frente?

Isso é que são Problemas.

Mas também esses problemas (os do Ulster) parecem estar hoje resolvidos ou em vias de resolução... Haja esperança no Mundo e nas Pessoas.

No fim de contas estamos no Natal.

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