A Fábula da Universidade Independente conheceu novo capítulo - porventura o último - quando o Ministro da Ciência e do Ensino Superior Mariano Gago ontem à tarde declarou que a encerraria (embora provisoriamente e à espera do contraditório em 10 dias) por manifesta incapacidade pedagógica.
As guerras no seio da Sociedade que detèm o capital da UnI deram nisto: umas centenas de alunos pagantes sem saber o que fazer (pobres pais, direi eu, que foram os "sócios" contribuintes activos nesta aventura) e dezenas de docentes e de funcionários a procurar alternativas de emprego (que não há, como sabemos...)
No meu tempo de Prof. Universitário - no ISCTE - este fenómeno das "Privadas" como lhes chamávamos, era visto com desconfiança. À parte o caso da Católica pouco se via ( melhor dito, se ouvia) em termos de Corpo Docente e de Organização de Cursos que desse muita confiança a terceiros. Eram, de facto, olhadas como as escolhas dos que "não tinham entrado na Oficial", as segundas escolhas, portanto, e delas desconfiávamos como afirmei...
Eu próprio fui convidado a ensinar em pelo menos uma destas universidades, aliciado por condições bem mais vantajosas do que as do meu vínculo ao ISCTE (datado de 1977).
Mas foi na altura em que se deu o Caso Moderna (ainda se lembram?) e tive medo de estar a entrar nalgum cambalacho semelhante.
Fazia-me (ainda me faz...) confusão como podia uma Universidade dar carros e condições financeiras "de gestor" aos seus professores - talvez não a todos, mas aos principais, aos que chamavam alunos - enquanto que nas Estatais estávamos sempre a medir o dinheiro com medo que não chegasse para as novas cadeiras de um Anfiteatro que se queria inaugurar.
Depois ouvi falar de "lavagens de dinheiro" e de "negócios de África"... Entendo que estas afirmações - nunca provadas - são extremante penalizantes para todas as Universidades Privadas, que não podem caber neste saco único e de público opróbio, mas a verdade é que a respectiva reputação como um todo sofreu danos quase que irreparáveis.
Há já algum tempo que a comunidade do ensino superior tinha estas instituições como "fábricas de diplomas" a troco de dinheiro - de novo correndo o risco de generalizar e ser injusto para alguma - e eram consideradas uma espécie de fornecedoras de cursos por correspondência, onde nem sequer a frequência dos alunos era monitorizada.
Convêm lembrar - e chegamos finalmente a José Sócrates - que estes fenómenos dos "cursos que davam graus com facilidade" não é de Portugal nem só de agora.
Quando se deu o 25 de Abril ainda me lembro de muitos colegas que foram a correr para a Roménia ver como eram os Mestrados e Doutoramentos em Gestão de Empresas (!!??)
Também algumas Escolas Superiores francesas e belgas não teriam - na altura - a melhor das reputações académicas, etc, etc...
E chegamos ao cerne da questão:
Q -É preciso ser Licenciado ou Doutorado para ser 1º Ministro ?
R -Não (pelo menos em Países desenvolvidos) . São exemplos John Major, Winston Churchil e Jacques Delors.
Q - Em Portugal faz falta esse Título para começar uma carreira pública?
R- Faz sim senhor. Leiam-se todos os nossos comentadores políticos , entre eles o decano Prof. Marcelo, que levou uma famosa crónica inteirinha no Expresso a chamar Doutor a Cavaco Silva e Dr. a Mário Soares , apenas para demonstrar a incompetência de um face ao percurso académico do outro...
Q - Compreende-se assim que Sócrates quisesse ser Engenheiro (ou outra coisa do mesmo nível)?
R - Facilmente se entende essa ambição neste País e sendo nós provincianos como somos, para pessoa também tão ambiciosa.
Q- Mentiu Sócrates ao País sobre esta matéria?
R- José Sócrates é Licenciado em Engenharia e tem o MBA pelo ISCTE. Não é Engenheiro (reconhecido pela Ordem) nem tem um Mestrado em Engenharia Sanitária . Pelo menos os autores da sua biografia oficial não estiveram bem. E há que explicar porquê. De todas as formas é Sócrates Licenciado.
Q - Beneficiou Sócrates de algum regime de excepção na obtenção do seu grau académico?
R - Não sabemos e nada se provou. Dê-se assim o benefício da dúvida ao "acusado", pelo menos até aparecerem novas provas..
Comentário: Lembram-se daqueles Exércitos de Países do 3º Mundo, onde à 1ª vista, eram mais os Generais do que os Soldados? Pobre País de Doutores e Engenheiros...