quinta-feira, junho 23, 2005

Nesta Hora

Nesta hora

Nesta hora limpa da verdade é preciso dizer
a verdade toda
Mesmo aquela que é impopular neste dia
em que se invoca o povo
Pois é preciso que o povo regresse do seu longo exílio
E lhe seja proposta uma verdade inteira
e não meia verdade

Meia verdade é como habitar meio quarto
Ganhar meio salário
Como só ter direito
A metade da vida

O demagogo diz a verdade a metade
E o resto joga com habilidade
Porque pensa que o povo só pensa metade
Porque pensa que o povo não percebe nem sabe

A verdade não é uma especialidade
Para especializados clérigos letrados

Não basta gritar povo é preciso expor
Partir do olhar da mão e da razão
Partir da limpidez do elementar

Como quem parte do sol do mar do ar
Como quem parte da terra onde os homens estão
Para construir o canto do terrestre
- Sob o ausente olhar silente de atenção -

Para construir a festa do terrestre
Na nudez da alegria que nos veste

Sophia de Mello Breyner

Saudades imensas da Sophia onde
“O poema é
A liberdade”

E que a verdade e a liberdade nos envolvem e partilhem connosco um futuro melhor

António Acciaioli Campos

Nenhum comentário: