Num destes dias foi possível investigar a nova casa do Chef Henrique Mouro, na Rua António Maria Cardoso, quase em frente à entrada do Centro Nacional de Cultura e ao Teatro de S. Luis, no Chiado.
Henrique Mouro começou no Pestana Palace, aprendendo o ofício com esse grande mestre que é Aimé Barroyer. Passou depois pelo Assinatura, pelo Tavares e pela Bica do Sapato.
Após uma pausa reflexiva dedicou-se a um conceito interessante nesta sua nova casa do Chiado: tudo leva arroz, desde as entradas ao prato principal e a algumas sobremesas. Daí o nome de "Bagos". Mas não se assustem! O arroz é extremamente discreto e nunca contribui para desviar a atenção do mais importante.
A casa é pequena (35 lugares sentados), mas muito bem decorada. Utensílios a preceito. Bons copos e o mais que se usa nestas azafamas. O andar de cima servirá mais para esperar pela mesa e ir tomando uns aperitivos, enquanto que é no andar de baixo que se passa a acção . Com a cozinha à mostra, como sempre gosto de ver.
Neste tipo de preparações culinárias - que se convencionou chamar "de influência francesa", ou ainda "cozinha com assinatura" - já sabemos que a decoração e a apresentação de cada prato contam muito, quase tanto como o paladar. De tal forma que alguns cultores do género confundem a Nuvem por Juno e trocam a prioridade que é devida aos sentidos neste enquadramento : primeiro o gosto e o olfacto, depois a vista.
Não é o caso de Henrique Mouro. A sua comida é muito bem apresentada, mas o que ressalta do quadro final é a qualidade do produto e a combinação de sabores aprimorada. Como deve ser.
As vanguardas culinárias das "espumas" ou de "vulcões em erupção à mesa" não se encontram ali.
Existe um Menu Executivo que começa a 12 euros (!) aos almoços. Mas podemos provar um menu mais completo por cerca de 15 euros, vinhos à parte, com entrada, prato principal e sobremesa. Ou podemos colocar-nos na mão do chef, se estivermos dispostos a gastar mais.
Os pratos principais , em média, valem 20 euros e são de dimensão adequada. Não se trata de "amostras".
Nesse dia pedimos inspiração ao chef, e preferimos ir pelas suas recomendações. Comeu-se (melhor dito, provou-se, porque eram várias propostas): perdiz de escabeche (sem perder a matriz foi admirável de contenção no vinagre), um glutinoso de bacalhau (perfeito), arroz de cogumelos selvagens com lebre (muito bom), choco frito com arroz de ostras (soberbo o arroz, menos bem o choco, que se queria mais "estrelicado"). E à sobremesa, arroz doce escondido num praliné muito bem feito.
Vinhos foram vários: começou-se com um flute de espumante bairradino, depois o Bacalhoa Branco de 2015 (que não faz esquecer o de 2014), seguiu-se o enorme Dão de Encruzado Quinta das Marias Reserva de 2011 e em tintos, o Douro Vallado Vinhas Centenárias, 2014 (claro que é bom, mas não encantou).
Levou a palma o Dão branco: gordo e guloso, cor magnífica denotando o envelhecimento nobre, bouquet que nunca mais acaba. Haverá imbecis que o vão recusar por "estar passado". Que sejam muitos e que vivam muitos anos, é o meu desejo, para ver se sobram para mim mais algumas dessas garrafitas.
Com tudo incluído (incluindo uma DOC Lourinhã XO Quinta do ROL) ficou a despesa por cerca de 80 euros por cabeça. A culpa foi dos líquidos!
Fora a água, coitada, que nada teve a ver com o assunto...
Uma bela casa, um grande chef (quase o Nuvem Vermelha!). Recomendado para todos. Mesmo para os que normalmente se refugiam na cozinha tradicional portuguesa, como é o meu caso. Porque não deve o Rei comer só Galinha, nem só Rainha (salvo seja).
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