sexta-feira, abril 08, 2016

Para Descansar a Vista



Já com alguma normalidade na vida - a que é possível ter nas circunstâncias - preparo a ida a Baçal neste Sábado, para as cerimónias do lançamento da emissão de selos comemorativa do Centenário do Museu do Abade de Baçal.

Francisco Manuel Alves, alma grande de transmontano, arqueólogo e historiador que ergueu esse monumento que são as memórias arqueológicas e históricas do distrito de Bragança.

Poeta transmontano estará na calha, como é lógico. Aqui fica então o enorme Miguel Torga, no seu poema "Solidão".

É um tema que me aflige, este da solidão que a idade traz consigo.  Por essa (e por outras) é que não consigo tirar a "santa" de minha casa. Enquanto pudermos lá ficará.

Solidão
Pouco a pouco, vamos ficando sós,
Esquecidos ou lembrados
Como nomes de ruas secundárias
Que a custo recordamos
Para subscritar
A urgência de um beijo epistolar
Ainda inutilmente apetecido.
Mortos sem ter morrido,
Lúcidos defuntos,
Vemos a vida pertencer aos outros.
E descobrimos, na maneira deles,
Que nada somos
Para além do seu dissimulado
Enfado
Paciente.
E que lá fora, diariamente,
Conforme arde no céu,
O sol aquece
Ou arrefece
Os versáteis e alheios sentimentos.
E que fomos riscados
No rol da humanidade
A que já não pertencemos
De maneira nenhuma.
E que tudo o que em nós era claridade
Se transformou em bruma.

Miguel Torga

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