segunda-feira, dezembro 28, 2015

A gripe espreita



Depois de várias tentativas anteriores  falhadas a insidiosa gripe acabou por me atingir ontem à tarde.

Estava eu ainda a gozar a notícia do prémio Gourmand 2015 atribuído ao nosso livro "Viver Portugal com o Mediterrâneo à Mesa", de Fortunato da Câmara...

Não pode um pobre mortal ter uma alegriazinha que logo os deuses invejosos lhe mandam o reverso da medalha.

Hoje tive de adiar um almoço há muito esperado com um bom amigo. E estou "piurso" por causa disso mas também  à conta do entupimento nasal e mal estar geral. Imaginem o que seria ter um "puro"  daqueles de origem protegida, lá da Ilha do tio Fidel de Castro  à disposição e não poder desfrutar do mesmo.

Depois vingamo-nos.

E quanto à gripe? Vale o velho ditado: abifa-te, abafa-te e avinha-te...

quarta-feira, dezembro 23, 2015

Boas Festas!!



As pessoas andam desconfiadas. Não sei se o facto do banco mais confiável do país parecer ser aquele onde nos sentamos na cozinha (apesar das pernas tortas) terá a ver com isso...

Hoje de manhã estava eu a gozar com o dono do quiosque sobre a "figurinha" do Dr. Bruno de Carvalho na discoteca do Funchal (de onde foi convidado a sair). O meu senhorio não gostou e ia amuando.

Porquê? Um simples "fait divers" sobre uma personagem de interesse público...

É bem verdade que nem todos sabem aguentar o álcool, mas quanto a isso o SLB tem heróis antigos que poderiam dar lições ao novel  presidente leonino. Lembro-me de Toni em Teerão, lembro-me de Manuel Vilarinho (É pénalty? Manda vir 2!).

Há malta que não aguenta uma piada... O leão constipou-se? Nada disso! Caiu-lhe mal a poncha. Por isso foi Bruno Carvalho fazer a prova dos nove à Camacha. Encontrando-se esta fechada àquelas horas da noite , rumou à "Vespas" e foi o que se viu...

Por acaso já fui muito feliz na "Vespas",  que era perto da casa da "madame", local onde deve ter aprendido o ofício a mais célebre alternadeira do país...

Mas adiante que não estamos em Amarante... E nessas alturas éramos todos novos, eu, os meus colegas e as meninas da "madame". Esta é que se for viva deve estar hoje ao nível do Ramses II.

Entra o Porto à frente neste Natal. Vai o Sporting a seguir e o meu SLB encerra o pódium. Perguntarão: porque é que o gajo parece tão feliz se ainda anda a comer lama das patas traseiras  do gato? 

Ora essa! Porque estamos quase no Natal!! E amanhã vou passar o dia a cozinhar para as velh***, digo para as "santas" ,  e ainda tenho de ir com elas ao cemitério, porque aparentemente os mortos já gastaram as flores do dia de finados e querem agora as campas decoradas de novo para a quadra (mortos exigentes e mal agradecidos!). Cada vez mais me sinto um apoiante convicto da cremação.

Não acreditam nesta felicidade? Eu também não!

Boas Festas! Feliz Natal!

E bebam qualquer coisa de jeito na noite da Consoada, quando estiverem sozinhos em casa com a tropa fandanga já toda aviada para o dia seguinte. Pelo menos serve para  suavizar a dor...

P.S: Sobre o Bacalhau da Consoada leiam aqui:
gerador.eu
Neste site há um gajo que assina "Manuel Luar"  e escreve umas coisas sobre comes e bebes...Conheço bem a criatura.

terça-feira, dezembro 22, 2015

Bacalhau fresco? Para dar ao gato (sendo este pouco exigente)



Tenho de ter algum cuidado para não ferir as susceptibilidades de alguns amigos e amigas que juram pelo bacalhau fresco como eu juraria pelos presuntos de Bísaro.  Não lhes desejo mal nenhum, pelo contrário.

 Se o "bicho" fosse muito abundante só ansiaria que muito o comessem fresco e que deixassem o "outro" para quem gosta.

A Noruegazinha,  mai-lo seu Turismo alimentado a poços de pitrol, tem dado uma ajuda a esta moda do bacalhau fresco. Até já se organiza por esta Lisboa uma "Skrei Fest", evidentemente que acarinhada pelos pais babados da criatura.

Tentei comer duas vezes este dito Skrei. Na primeira fui ao engano, já que na carta do restaurante estava "bacalhau" e que eu saiba aqui em Portugal quando se escreve bacalhau é do salgado e seco. Odiei. Convenci-me a experimentar de novo, porque tenho por norma dar sempre e a qualquer coisa uma segunda oportunidade. E não gostei outra vez.

Li depois disso coisas mais ou menos incríveis em sites da especialidade, entre elas uma frase do tipo " Era o bacalhau fresco uma coisa muito prática porque não tinha que se demolhar...". Esta criatura era capaz de demolhar cherne ou pescada?  Talvez.

As razões da minha pouca inclinação para este novo "produto" são de duas ordens:

- Em primeiro lugar não me sabe bem. Prefiro o peixe da nossa costa mil vezes. Admito que as preparações do tipo "disfarça aquilo e mete espumas" não ajudam também.  Mas na grande prova real do peixe, que é a grelha com sal apenas ou a cozedura simples, esta proposta não se sai bem.

- A segunda razão do desgosto é mais estratégica. Se desatam a comer bacalhau fresco e dado que a espécie está a reproduzir-se com mais dificuldade, onde sobram os peixes para o bacalhau a sério??!!

Confesso que se vou a algum restaurante e vejo isto na carta irrito-me. E se é algum chef ou restaurador conhecido digo-lhe logo ali na cara o que penso.

O problema , como se pode adivinhar e tirando para fora da equação o "subsídio norueguês", é que o chef armado ao pingarelho - e desejoso de subir na escada do Miquelino - não admite ter na sua carta um prato dito de taberna, que é servido com alho picado , cebola e pode levar colorau... Mas ter um prato de "Skrei"? Só o nome dá uns ares de grito de falcão a subir no céu azul... Poesia pura...

Cada vez mais me parece que a gastronomia lusa está a ficar cheia de manias.  Cheia de manias e cheia de "pessoaszinhas" que abrem o restaurante e que o fecham no mês seguinte, queixando-se da crise e depois de terem torrado o dinheiro aos pais.

Chamo a isto a rota das três ervilhas e emulsão de caranguejo, com geleia de mirtilos em prato branco grande. 

Francisco José Viegas é que os topa a léguas!! Abençoado autor da "Dieta Ideal". Umas largas dezenas  de  receitazinhas que não utilizam skrei...  (Cruzes, Credo!).

E, em maré de livros de gastronomia, as palmas para o último de Fortunato da Câmara, outro cidadão que não parece conquistado pelo Skrei...O livro chama-se "Manual para se tornar um verdadeiro Gourmet". 

E é mesmo!


segunda-feira, dezembro 21, 2015

Vinhos para a Quadra



Sendo de esperar alguma parcimónia na frequência destes Posts, agora que se aproxima esta "quadra fatal", deixo aqui já hoje algumas recomendações sobre os vinhos que devemos ( ou podemos) apresentar nas nossas mesas.

A quadra do Natal e Ano Novo pode ser "fatal" para alguns, onde me incluo. Os motivos são muitos, mas não vindo a propósito os mais particulares, sempre lhes digo que em casas onde não há crianças e onde as famílias não se podem reunir por várias razões ( desde a antipatia mútua até à distância que os separa) nem sempre estas noites ditas "de festa" o são verdadeiramente.

Para amaciar esta nostalgia de outros tempos, onde se vivia o assunto natalício com alegria e calor humano, não há remédio melhor do que ter à mão um vinhito de qualidade. "Vinhito" é capaz de ser a palavra errada, como veremos...

Nem todos podemos beber aquilo que desejamos. Mas se o vil metal não fosse obstáculo, e mantendo-me apenas em Portugal, existem dois vinhos tintos que considero perfeitamente capazes de trazer uns momentos de felicidade a qualquer cidadão desanimado, a pensar como vai agora ajudar a pagar o Banif, em cima das outras coisas todas...

São eles o Legado 2011 - enorme vinho do Douro da Sogrape, feito em homenagem ao grande patrão, Sr. Fernando Guedes. E ainda o Carrossel 2011 da Quinta da Pellada, o cume da Touriga Nacional na sua região de excelência, que é o Dão. O primeiro custa em redor de 200€, e o segundo quase 60€. Por garrafa, não é pela caixa...

 Há  quem goste de ler estas coisas da mesma forma que se pode entreter no barbeiro a ler a crónica na revista "Turbo" sobre o novo Bentley Continental GT, uma ninharia do mundo automóvel proposta por cerca de 400 000€. Não é para comprar. É para saber que existem e para sonhar .

Para essa malta que pelo sonho é que vai, mas é com o olho no conteúdo da carteira que faz as compras, tenho outras propostas mais comuns.

E a minha bitola para este Natal ( e Ano Novo) são os 20€ por garrafita.  Bitola que permite beber muito bem. De notar que algumas destas propostas estão mais próximas dos 15€ do que dos 20€! Obrigado Portugal!

a) Vinhos Tintos até 20€ , e de Norte para Sul:  Quinta do Vallado, Sousão 2012; Luis Pato Vinhas Velhas, tinto de Baga 2010; Quinta de Saes estágio prolongado 2012, Dão; E para famílias grandes um achado: Uma Magnum Frei João da Bairrada de 1995 a menos de 20€ ela também (na garrafeira Nacional)!! Só para quem gosta da Baga mais evoluída.

b) Dos tintos para os brancos: Alvarinho Dona Paterna de 2014; Tiara 2010 (Nieepoort); Quinta dos Carvalhais Encruzado 2014; Vidigueira Grande escolha Branco 2013.

c) Espumantes: Murganheira Único; Vértice Gouveio 2007; Montanha Chardonnay Arinto Super Reserva;

d) E um belo Porto para acompanhar um charuto: Niepoort LBV 2011; Warres LBV 2003.

Nota: Um grande whisky de malte infelizmente não se apanha a menos de 20€... Hélas...

Boas Festas!!

sexta-feira, dezembro 18, 2015

Desvendando segredos

Pensei bem se deveria fazer aqui esta revelação hoje.  Porque há coisas tão boas que se podem estragar com a divulgação...Mas estamos no Natal...

Trata-se de um pequeno restaurante que seria na  "província" nos tempos do Eça de Queiroz, mas que hoje está a dois passos do centro de Lisboa (para quem saiba lá ir ter).

Casal de S. Brás.   Rua Sebastião da Gama , nº1. E o local chama-se (imaginem) Restaurante Fialho!! TELEFONE - 214 942 899

A Matriz da carta e das propostas fora desta  é  do baixo Alentejo ( os proprietários são da Vidigueira), mas a arte da cozinheira e das matérias primas está a um nível bem alto.

A primeira vez que lá fui  estava tão bem acompanhado por dois mestres na arte de comer e de escrever sobre o assunto (Quitério e Fortunato) que me acobardei de dar testemunho desse almoço que foi notável. Pela companhia, sem dúvida, mas também pelo que se comeu.

Mas depois disso já lá voltei, motivo pelo qual estou mais à vontade para fazer a humilde reportagem.

Casa pequena, muito simples e plena de parafernália "verde". Dono, mas sobretudo o filho, são sportinguistas de gema. O que me levou a pensar se um estorilista com o coração na Luz seria ali bem recebido. Foi. E muito .

Convém reservar, não só porque a casinha é pequena, mas também porque muitos dos pratos mais apetecíveis são encomendados previamente.  Mas mesmo que venham ao sabor da maré e do vento (que foi o que me aconteceu na última vez) não sairão dali defraudados.

Não esperem mordomias de casa a atirar para o finório. Não esperem panejamentos de damasco e copos de cristal. Esperem apenas simplicidade, saber receber como se fossem da família, boa comida caseira e muito boa qualidade das matérias ali trabalhadas.

Não é casa para ver e ser visto. É uma casa para ir comer. E sair com um brilhozinho nos olhos.

 A lista fixa  é mais ou menos a que segue - Entradas: torresmos; farinheira frita; paio de Sousel; cogumelos.  Pratos Principais:  Bacalhau à Brás, Pernil assado; carne alguidar; lombo assado com poejos. Por encomenda; arroz de coelho bravo, javali, canja de pombo bravo, Perdiz em várias apresentações.  Sobremesas: pudim de mel de Portalegre; bolo de requeijão; sericaia. 

Mas o patrão tem sempre alguma coisa atrás do balcão que vale a pena experimentar. No dia em que lá fomos era um aromático Caldo de Peixe (poejos e hortelã da ribeira)  que podia ser servido com achigã ou com robalo. E o prato dia era o clássico Ensopado de Borrego. 

Comemos o Caldo  com o Achigã (superlativo) e o Ensopado (muito bom na  sua singeleza natural) . Rematámos com a Carne do Alguidar (magnífica) aqui com migas de pão. E ainda houve espaço para dois cafés e uma "branquinha" particular (porque era Sábado).

Os vinhos  propostos são geralmente pouco conhecidos e na sua maior parte transtaganos. Nesse dia bebeu-se uma garrafa de branco da Vidigueira e uma de tinto (também alentejano) Migas. Ambas de 2013. Muito interessantes e a preços afabilíssimos.

A Revista de Vinhos escreveu sobre o "Migas": Feito com Trincadeira, Aragonês e Alicante Bouschet. Muito bem no aroma, simples, directo mas com fruta evidente e um estilo muito acessível. Na boca mostra-se macio, de médio corpo e muito capaz de boa prestação à mesa. Beba-se novo.

Com isto tudo , 2 pessoas, 2 garrafas de vinho, três pratos principais mais as entradas plenas da casa, onde avulta um "toucinho de porco alentejano" daqueles que metem medo a qualquer cardiologista, pagou-se 72 euros...

Conclusão: É uma casa onde maníacos de dietas, metrosexuais e ávidos de publicidade manhosa se devem abster de entrar. Ali só vai quem gosta de comer. E apesar dos "leões" que avultam pelas paredes ( até nos copos! ) tenho que dizer que um benfiquista ou portista parciais à boa gastronomia não deixarão de entrar neste estádio e aplaudir estes "treinadores". 
Este "Fialho" do Casal de S. Brás faz honra ao nome fidalgo. E , embora possa parecer heresia para muitos, tenho até que dizer que algumas das suas propostas ultrapassaram -  no meu entender - as da outra "Catedral de Évora". O que não é dizer pouco...


quarta-feira, dezembro 16, 2015

Na Província



Houve tempos em que ser provinciano tinha conotações menos positivas. Era ser "tacanho", "pouco polido", "bisonho" ou "rústico".

Isto para utilizar apenas adjectivos simpáticos. Porque o que se podia chamar ao dito cujo era bem pior. Começava com a palavra "saloio" e acabava com coisas como "burro" ou "calhau".  E até havia malta citadina que dizia que " a maior diferença entre um provinciano e um penedo é o olhar inteligente do penedo".

Os provincianos também não se ficavam. Ficou célebre a fala do padeiro de Mafra, gozado em Lisboa por um grupo de fidalgotes  que tinha  ido aos fados: "levanta-se um homem tão cedo para dar de comer a semelhantes bestas!"

 Não vou aqui falar dos grandes exemplos de vultos extremes da nossa cultura que nasceram sem  vista de  cidade. Por exemplo, o Padre Manuel Antunes , um dos mais importantes Jesuítas portugueses do século passado,  classicista e filósofo, filho de aldeões, que fez o exame da 4ª classe descalço em Guimarães.  Ou o grande Aquilino Ribeiro de Sernancelhe.

Prefiro reparar na qualidade de vida que ainda se pode ter nesses locais afastados das grandes cidades.

Sítios onde almoçar e jantar fora são muito mais baratos, onde ainda é possível escolher o que se come e o que se bebe em casa dos produtores, e, finalmente, onde o maior stress do cair da noite não será a fila interminável de 45 minutos para fazer 7 km, mas sim ter de ouvir a vizinha do lado a dar uma "bernarda" ao marido, por ter chegado um pouco "aviado" do café.

Para já não falar da ausência de poluição e do facto de parecer que os dias ( e as noites) têm horas a mais. Horas para conviver!

E onde a conversa à mesa  seria sobre o lavrador que nos vendeu a rês de onde veio a carne de vitela, e não sobre o super-mercado onde uma embalagem com o mesmo nome pode ser comprada.

Imaginem um local onde 6 pessoas à mesa deram conta de três travessonas de vitela assada maronesa, 3 garrafas de bom vinho, excelente broa e pão de trigo, queijos,  doces e cafés. Tendo tudo isso custado ...72 euros.

Falta a FNAC, falta o S. Carlos, a Casa da Música,  ou o Coliseu?  Falta a Gulbenkian? Falta o Bairro Alto e a Ribeira ou a Foz?

Pois faltam. Não se pode ter tudo...

Mas há alturas da vida em que se começa a dar mais importância às outras coisas mais simples.

E a invenção do satélite permite hoje ter Banda Larga em 100% do território nacional. E acesso às TV's por cabo. E a possibilidade de termos quase todos os livros do mundo no IPad.

Que tentação...

sexta-feira, dezembro 11, 2015

Para Descansar a Vista, a bordo do DeLorean



Trago hoje um poema já com vista para 2016.

Deste 2015 ainda não fiz o balanço. Assim de repente não me parece que tenha sido um ano mau...

Como sou sempre optimista receio que essa observação seja pouco fundada. Regressarei a este assunto depois de maior análise.

Mas como do ponto de vista do trabalho já "estou" em 2016 há pelo menos 1 mês, a bulir nas emissões e nas edições que vão sair nesse ano, não me parece mal a antecipação.

Fica então aqui, para não maçar muito, uma pequena "jóia"  do grande Alexandre O'Neill.

Aos Vindouros, se os Houver...

Vós, que trabalhais só duas horas 
a ver trabalhar a cibernética, 
que não deixais o átomo a desoras 
na gandaia, pois tendes uma ética; 
Que do amor sabeis o ponto e a vírgula 
e vos engalfinhais livres de medo, 
sem peçários, calendários, pílula, 
jaculatórias fora, tarde ou cedo; 
Computai, computai a nossa falha 
sem perfurar demais vossa memória, 
que nós fomos pràqui uma gentalha 
a fazer passamanes com a história; 
Que nós fomos (fatal necessidade!) 
quadrúmanos da vossa humanidade. 

Alexandre O'Neill, in 'Poemas com Endereço' 

quinta-feira, dezembro 10, 2015

O Banco da Malta





O Banco da Malta não é o do jardim onde a "malta" mais experiente joga à sueca. Nem sequer algum banco situado na Ilha de Malta, ou conhecido pelas suas ligações à Soberana Ordem de Malta.

Não senhores! O Banco da Malta é o Banco CTT. Ao qual não chamarei o "novo banco", por motivos óbvios, mas sim o "Banco Novo" cá do burgo.

Fui hoje abrir a minha continha na infante instituição e deram-me um número simpático, o 49.   Pelo menos na terminação acertaram.
Este banco - por enquanto apenas aberto aos trabalhadores dos CTT - oferece ao depositante home banking, mobile banking, transferências e outras operações sem comissões (por exemplo disponibilização de dinheiro ao balcão sem cartão).  Não dá juros nos DO. Ainda não se concretizou esse milagre, mas como estamos próximos do Natal..

Envio daqui calorosas saudações ao recém-nascido e aos felizes Pais. Desejos de muitas felicidades, que não são desinteressados...Quanto mais sucesso tiver,  melhor para a referida "Malta".

Os progenitores são é muitos...Mais de 25,000 accionistas. Bem sei que  se dizia antigamente "Mãe há só uma e Pai nem sempre" , mas isto é abuso...

quarta-feira, dezembro 09, 2015

Uma volta pela "night", 20 anos atrás



Não me recordo da última vez que fui "aos fados".  Talvez fosse em 2005...

Houve uma altura da vida em que mais ou menos todos os meses passava pela casa da Maria Jô-Jô, a Taverna d'El Rei que fica na Alfama "baixa".  Não só - devido aos "ossos do ofício" -   algumas vezes levava clientes e amigos estrangeiros a esse local, como até acontecia encerrar por ali alguma noite "de trabalho" mais animada.

Digo "de trabalho" porque o pretexto era mesmo esse.  Marcava-se a reunião para o final da tarde.  Trabalhava-se até perto das 20h e a seguir  concordávamos que "já não valia a pena ir jantar a casa".

Depois era romaria para o saudoso "Barrote Atiçado" na Pontinha. Ali ficávamos até à meia-noite. Seguindo posteriormente para algum lado onde pudéssemos continuar a faina. Ou no Bairro Alto ou então na Maria Jô-Jô. Certos dias era eu que ganhava a aposta e íamos para o "Blues" nas Docas, ouvir Jazz.

Bons tempos? Eram pelo menos tempos diferentes. Lisboa parecia mais alegre, adivinhava-se a chegada do Euro e a entrada na CEE.  Fizera-se a EXPO 98. Havia dinheiro a circular em tudo o que era sítio. Por isso mesmo também nos bares e restaurantes, que estavam quase sempre cheios.

Para entrar e arranjar mesa era preciso conhecer os porteiros ou a dona da casa. E fazia impressão ver o número de garrafas de whisky com nomes de clientes que esmagavam as prateleiras. Tanto no Bairro Alto como em Alfama, em casas de fado  ou em discotecas e bares. Uma garrafa de 12 anos custava entre 8 e 12 contos naquela altura. Era dinheiro.

Não sei se ainda será assim, porque nunca mais frequentei a noite com aquela assiduidade. Mas dizem-me que há menos destes clientes gastadores. Leiam aqui sff a opinião do representante dos comerciantes do Bairro Alto, transmitida à Lusa:

A passagem para um maior consumo da cerveja é óbvia, porque é muito mais barata. O whisky velho até era uma bebida com bastante saída e agora deixou de se servir”,  Além disso, acrescentou, tem-se notado também um acréscimo de pessoas que marcam presença num bar ou discoteca uma noite inteira sem consumir. “Muitas vezes os espaços até estão compostos, mas as pessoas não consomem.

Na passagem do século XX para o actual não era assim. Quando chegávamos ao "Plateau" o porteiro mandava logo avançar a "caravana".  Cheirava-lhe a dinheiro, no bolso dele e na caixa registadora. Passávamos à frente da malta nova que nos fuzilava com os olhares e quando saíamos, sendo 4 ou 5, pelo menos duas garrafas de Johnny Walker Black tinham marchado.

Ainda hoje quando tenho ocasião de beber esse whisky - o velho malte ainda não estava na moda - lembro-me dessas aventuras dos meus 40 anos. Idade engraçada quando alguma maturidade ia de mão dada com  poder aquisitivo. E nessa altura nem era preciso ter muita sorte, quem quisesse trabalhar tinha emprego. E dinheiro para trocos.

O tempo não volta para trás. Mas era bom que a situação económica pudesse voltar.

Bem sei que os leitores mais cínicos (ou perspicazes) estarão a dizer que foi exactamente por termos gastado tanto nesse tempo que hoje estamos assim. Será verdade nalgumas coisas. Mas não se comparem barragens e auto-estradas com consumos privados de 100 euritos por noite, 2 vezes por mês.

Se bem que 100 euritos eram ao tempo 20 contitos... Fazia muita diferença.



segunda-feira, dezembro 07, 2015

Decorações de Natal



Depois de uma altura em que a "crise" apagou as ruas das nossas cidades , parece que agora o caracol do despesismo recomeçou lentamente a "pôr os pauzinhos ao sol".  Muito bem. Nem só de pão vive o homem e etc... E as "luzinhas " nas ruas animam o pessoal.

Não critico por isso estas decisões autárquicas.  Tenho todavia o meu grilo falante privativo a confidenciar-me ao ouvido que será ainda um pouco cedo para deitar foguetes...

E não falo obviamente das iluminações de Natal.  Mas sim de outras "aberturas orçamentais" que forcem as cadeias da austeridade.

Claro que se aplaudem as boas intenções da malta nova  e que é sabido que pelo consumo também se cresce.  Mas o gato escaldado da água fria tem medo. E, para o bem e para o mal, esta "perestroika" ainda não chegou aos bolsos de ninguém.  Nem dá para gastar, nem para poupar, por enquanto.

Tenham calma.

À laia de exemplo refiro o medo que os alemães ainda sentem - depois de 60 anos - da inflação galopante que sofreram nos anos 50 do século passado e que é  determinante na definição da respectiva política monetária atual.
Pelo menos assim entendemos o "responso" de Herr Wolfgang Shäuble cada vez que lhe falam em mexer na sua querida "estabilidade monetária".

Eu gosto de ver as "luzes" nas nossas ruas, mas dou de barato ter em casa decorações natalícias. Não me interpretem mal. Não é ausência de espírito natalício, mas sim prezar sobretudo alguma sobriedade naquilo que vejo quando estou sentado em casa: olhar para os nossos livros, passar os olhos pelas centenas de DVD's, admirar os velhos discos de vinil, esse tipo de coisas aconchegantes.

Para mais, não há ali crianças para admirar presépios nem para rodear a árvore de Natal. Apenas duas "anciãs" que fazem a parte de atrizes convidadas e dois matulões que - se lhes deitarem um pouco de Lagavullin no copo na noite de consoada - já gozam sem mais necessidade de outros estímulos.

Mas as "anciãs" normalmente tomam conta desta ocorrência da "decoração natalícia"nos dias que antecedem o Natal e - tendo por aliada a nossa empregada - metem "meninos Jesus" e "pais natal" em tudo quanto é puxador de gaveta. Não deixando de enfiar "estrelas" e "árvorezinhas de  Natal" nos espaços disponíveis das restantes prateleiras...

Particularmente ofensivo foi ver que na prateleira da ciência política taparam parte da obra do Maurice Duverger com a procissão dos Reis Magos. e quando me queixei logo me disseram que "não me enxofrasse porque a procissão todos os dias andaria mais um bocadinho até chegar ao presépio..."

No candeeiro de pé está um bojudo Pai Natal sorridente pendurado por um fio dourado. Em frente à televisão colocaram um presépio, de tal forma que  tapa o receptor do comando à distância.

Apenas meti o pé com estrondo quando me deparei com a "fotografia" do Menino Jesus nas janelas da sala.  Depois de muito falatório lá a retiraram...Para depois a dita cuja  ressuscitar colada na porta da rua...

Não há mais nada a fazer. Nesta quadra e como já não tenho possibilidade de fugir de casa, o melhor é aguentar e ir esperando que passe.

Vou esperando e vou bebendo (e comendo), como sempre me aconselhou o meu Pai.

sexta-feira, dezembro 04, 2015

Um livro admirável sobre o Mar Português

Foi esta a primeira vez que os CTT, ao longo de um percurso editorial com 32 anos, desenvolveram um dos seus livros temáticos em estreita colaboração e parceria com uma entidade externa à nossa empresa, no caso em apreço, com o Centro Nacional de Cultura.
Provavelmente – pela temática abrangente, pelo rigor científico dos conteúdos e pela necessidade de apelar a vários grandes especialistas para colaborarem neste livro – foi este também o projeto editorial mais complexo alguma vez levado a cabo pelos CTT.

Trata-se da obra “Do Mar Oceano ao Mar Português”, uma proposta do Sr. Prof. Mário Ruivo, que também a coordenou em colaboração com o Prof. Álvaro Garrido, tendo a organização de conteúdos sido executada pelo Centro Nacional de Cultura.

Este livro - que já está à venda em todas as nossas Lojas - foi ontem apresentado no Torreão da Praça do Comércio, numa cerimónia que juntou dezenas de pessoas interessadas e muitas individualidades ligadas ao mar, começando pelo Sr. Almirante CEMA, passando pelo Dr. Rui Vilar, Dr. Augusto Mateus, Prof. Doutor Braga da Cruz, etc, etc...

Uma das principais conclusões que se podem retirar deste livro talvez seja o facto que a concretização de um “Império do Mar” atual não exige apenas grandes recursos económicos ou demográficos, mas se baseia sobretudo em conhecimento: domínio científico, meios técnicos e concepção estratégica, ou seja, na inteligência aplicada a uma vontade inequívoca de fazer.

O caminho está preparado, diríamos em termos marítimos, que o roteiro pode ser retirado deste portulano certificado pelo conhecimento e pela grande experiência dos seus autores. Falta cumpri-lo.

 E, falando em Autores, é devida nesta ocasião uma palavra de agradecimento e de grande estima a todos eles: EMANUEL GONÇALVES, FÁTIMA MOURA, FERNANDO BARRIGA, JOAQUIM ROMERO MAGALHÃES, MÁRCIA MARQUES, MARIA EDUARDA GONÇALVES, MARIA ISABEL JOÃO,  RAQUEL RIBEIRO e TELMO CARVALHO.

Todos são mestres nas suas matérias de eleição e a todos eles agradecemos sinceramente a colaboração que nos deram para fazer desta obra, perdoem a  falta de modéstia, um dos mais importantes, se não o mais importante livro sobre Portugal e o Mar que até hoje se escreveu em português.

Os mesmos agradecimentos são extensíveis ao Designer Prof. José Brandão que superiormente executou a arte final desta obra, e a toda a equipa do Centro Nacional de Cultura, inexcedível de dedicação a este projecto comum.

quinta-feira, dezembro 03, 2015

O bicho

Na ressaca de mais uma discussão de Programa de Governo (perco-me nestas discussões) veio-me à memória a história do poema "bicho político". É um poema de que gosto muito logo pela 1ª linha...Mas não só.  Apesar de escrito em português (com açúcar) tem verdades verdadeiras em qualquer país do mundo.

Com a devida vénia ao autor (retirado de "habitat carioca") aqui fica:

Bicho Político
As águias estão no topo da cadeia,
Juntamente com a onça e o tubarão,
No meio estão os bichos mais valentes!
Porque, não sendo fracos, nem fortes,
precisam transitar entre dois mundos,
comer e dar comida pros filhotes.
Um pouco abaixo tem os produtores.
Que dão o sustento aos de cima,
se esforçam e fazem filhos no atacado.
E toda fauna e flora segue em frente,
lutando mais ou menos lado a lado...
Com apenas uma única exceção:
A classe principal dos parasitas!
Que em meio à lama suga as energias,
em tocas, sob coisas, às escondidas!

quarta-feira, dezembro 02, 2015

Chocalhando pela planície



Os chocalhos são a música da natureza, segundo dizem.  Não me oponho e pelo contrário até aplaudo a citação. E embora a fama se deva em muito ao chocalho vaqueiro, o certo é que ovelhas, cabras e até cavalos também os usavam.

No site dos "Chocalhos Pardalinho" encontra-se material para galinhas, furões, perus, e cães. Para além dos mais comuns.

E em relação a "gatos" fala-se de "guizos" e não de "chocalhos". Porventura por aproximação semântica à palavra "guisado"... Guisado com ervilhas...

Não vi referência ( mas se calhar farão por encomenda) a chocalhos para outro tipo de animais, dos que andam em duas patas... Sendo que faço aqui notar (leia-se no parágrafo seguinte) que haveria situações onde seriam bué de úteis.

A pendureza chocalhante teria o objectivo de facilitar encontrar o animal durante a noite (para a ordenha).

E sendo esta situação relativamente de espanto para os citadinos de gema, convém lembrar a essas criaturas de estufa que no campo, pelas 5 da manhã de Inverno, está escuro como breu e  não dá para acender o candeeiro no chaparro mais próximo. Os chineses ainda não vislumbraram por ali negócio de electricidade.

Um chocalho está para a vaca como o telemóvel está para as pessoas (salvo seja) . Só que apenas faz chamadas. Não as recebe. Mas faz chamadas com diferentes "vozes", mais graves ou mais agudas consoante o timbre do metal e a dimensão do instrumento.

Lá na quinta da Beira Alta se ouço chocalhar indo a pé começo logo a olhar para o chão, não vá entrar em casa com as solas dos pés menos limpas... E se vou no carro está na altura de parar mesmo. "Devagar é que se ajunta o gado" como dizem lá por cima.

Em Alcáçovas temos a capital nacional do chocalho. Há centenas de anos que se fazem naquela terra segundo técnicas que já seriam conhecidas dos velhos romanos. Mas esta sabedoria popular está a acabar.

Porquê? Falta de pastores ou falta de gado? Menos crença na fama de "espanta espíritos" e "talismã contra doenças" que os chocalhos têm desde a Idade da Pedra? Generalização das lanternas de pilhas no meio pastoril?

Não tenho a certeza, mas como temos agora esta Arte como Património Imaterial da Humanidade UNESCO, haverá tempo e circunstâncias para nos inteirarmos de todos estes deliciosos pormenores...

E - como é óbvio - uma emissão de selos, dos oficiais da República, será proposta para 2017 tendo como tema estes instrumentos.