quarta-feira, março 12, 2014

Reestruturação, Renegociação, Alongamentos ou Extensões?

Uma quantidade de malta lusa (velhinha em média, mas ainda mais bem conservada que muitos pickles de restaurante popular) assinou o "Manifesto da Reestruturação".

Trata-se de 70 personalidades onde avultam Adriano Moreira, Freitas do Amaral , Bagão Félix, Manuela Ferreira Leite, António Capucho, Ferro Rodrigues, Manuela Arcanjo, João Cravinho, Carvalho da Silva e Francisco Louçã, entre outros. Recordo que Sevinate Pinto e Vitor Martins (actualmente consultores do Presidente Cavaco) também fazem parte deste "rol"...

Querem estas pessoas  dizer que Portugal não se safa da dívida caso esta não seja "revisitada" pelos credores, alongando os respectivos prazos de pagamento.

Já eu próprio, na minha insignificância intelectual no que diz respeito à economia pura e dura, tinha chegado à mesma conclusão e  sobre isso escrevi aqui neste Blog, não uma mas várias vezes.

As contas são fáceis de fazer: se o PIB não cresce à medida do crescimento dos juros da dívida, como se pode pagar??

Nem pagaria o Género Humano, nem o Manel Germano!  Ou seja, nem o Povo abstracto nem o cidadão concreto o podem pagar!

Dois sites para meditarem sobre estes assuntos, O editorial de hoje do "Público" e, logo a seguir, o texto do Manifesto em causa:

http://www.publico.pt/economia/noticia/a-semantica-palavra-reestruturacao-1627931

http://www.dinheirovivo.pt/Economia/Artigo/CIECO329559.html

Se for impossível haver uma conversa franca e honesta sobre estas matérias depois do encerramento "teórico, muito teórico" do programa de ajustamento - vulgo "Troikada" - há sempre a hipótese de recorrermos à nossa história rica de personagens e de situações.

No caso vertente parece-me adequada a figura emblemática de Bordalo Pinheiro: Ora Tomem lá disto seus Troika Tintas!!


3 comentários:

Américo Oliveira disse...

Sobre o mesmo assunto, opinava o Diário Económico de hoje, mostrando-se "contra qualquer proposta formal de reestruturação que, no fundo, tem outro objectivo, escondido, o de não pagar uma parte da dívida que o País contraiu":
"[...] basta analisar a estrutura da dívida pública de Portugal, que é de 129% do PIB, para ser claro que mesmo que os credores oficiais aceitassem uma nova renegociação de prazos e taxas, coisa que já fizeram, seria necessário atingir os credores particulares para garantir que a dívida acima dos 60% do PIB fosse transferida para um fundo europeu. Seriam os bancos nacionais e os portugueses que investiram em certificados do Tesouro, por exemplo, a ‘pagar’ esta renegociação."

Mas o jornal Público tem solução: "Mas há dois pontos que devem ficar claros: uma reestruturação teria de acontecer sempre com a absoluta concordância dos nossos parceiros europeus e, a acontecer, deveria abranger apenas os chamados "credores oficiais", ou seja, os 78 mil milhões da troika."

Pois...

Américo Oliveira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Américo Oliveira disse...

Vale a pena reler Eça de Queirós para ver como o problema não é de agora:
"Nós estamos num estado comparável apenas à Grécia: a mesma pobreza, a mesma indignidade política, a mesma trapalhada económica, a mesmo baixeza de carácter, a mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se em paralelo, a Grécia e Portugal" (in As Farpas)
Diz-se geralmente que, em Portugal, o público tem ideia de que o Governo deve fazer tudo, pensar em tudo, iniciar tudo: tira-se daqui a conclusão que somos um povo sem poderes iniciadores, bons para ser tutelados, indignos de uma larga liberdade, e inaptos para a independência. A nossa pobreza relativa é atribuída a este hábito político e social de depender para tudo do Governo, e de volver
constantemente as mãos e os olhos para ele como para uma Providência sempre presente.” (In “Citações e Pensamentos”)
Que fazer? Que esperar? Portugal tem atravessado crises igualmente más: - mas nelas nunca nos faltaram nem homens de valor e carácter, nem dinheiro ou crédito. Hoje crédito não temos, dinheiro também não - pelo menos o Estado não tem: - e homens não os há, ou os raros que há são postos na sombra pela política. De sorte que esta crise me parece a pior - e sem cura.” (in “Correspondência”)