Os antigos acompanhantes aqui do Blog lembram-se do "meu" cauteleiro com a perna mais curta do que a outra, o Sr. Saavedra.
Este espera-me quase todos os dias à entrada da Versailles para lhe pagar a bica , fazendo-me a pergunta sacramental :
-"Então a sua mãe como está? E o seu filho passa bem?".
À conta destas questões educadas lá vai cravando o cafézito matinal. Todos os dias, exceto às segundas feiras, dia em que vai "buscar a lista" para fazer o negócio da venda de jogo à Terça Feira. Normalmente eu pago os jornais da semana e a cautela ao Saavedra todas as Terças Feiras.
O Sr. Saavedra é sportinguista (não tem nada de mal, enfim, nada de muito mal..). Os proprietários do quiosque em frente - benfiquistas de gema - não o chupam, nem com molho de tomate vermelho bem maduro!
Pois hoje, ainda tinha eu os olhinhos a brilhar do jogo de ontem à noite em Tottenham, quando o Saavedra mete conversa ao balcão com um dos empregados (também ele leãozinho):
-"Ontem os lampiões devem ter comido banana antes do Jogo! Corriam que pareciam macacos!"
- "Pois foi Saavedra! E viste o estúpido do Jesus a mostrar com os dedos o nº da camisola do Luisão ao outro treinador? He, He, He... Só que como não frequentou a primária confundiu o 3 com o 4 , He, He! He! Ganda tanso!"
- " Banana! Banana é que os gajos comeram!! E naquela taça não há controlo! Devia ser no ciclismo que iam todos dentro!"
Como é óbvio paguei, não deixei a gorgeta habitual e também me esqueci de esportular a bica do Saavedra. Um "gajo" só aguenta até determinado ponto.
Oh Saavedra, vai chamar macacos aos C**** do teu Pai! (salvo seja).
Todavia, ninguém hoje me tira do sério. Motivo pelo qual aqui deixo poema de felicidade, de Pedro Homem de Mello, o poeta e investigador de folclore de Leça , onde muitas vezes o vi sentado à mesa do seu restaurante preferido, "O Garrafão":
Encontro
Felicidade, agarrei-te
Como um cão, pelo cachaço!
E, contigo, em mar de azeite
Afoguei-me, passo a passo...
Dei à minha alma a preguiça
Que o meu corpo não tivera.
E foi, assim, que, submissa,
Vi chegar a Primavera...
Quem a colher que a arrecade
(Há, nela, um segredo lento...)
Ó frágil felicidade!
— Palavra que leva o vento,
E, depois, como se a ideia
De, nos dedos, a ter tido
Bastasse, por fim, larguei-a,
Sem ficar arrependido...
Pedro Homem de Mello, in "Eu Hei-de Voltar um Dia"
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Um comentário:
Diz o povo - e com razão! - que a mentira tem perna curta...
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