sexta-feira, março 14, 2014

Para Descansar a Vista

Os antigos acompanhantes aqui do Blog lembram-se do "meu" cauteleiro com a perna mais curta do que a outra, o  Sr. Saavedra.

Este espera-me quase todos os dias à entrada da Versailles para lhe pagar a bica , fazendo-me a pergunta sacramental :

-"Então a sua mãe como está? E o seu filho passa bem?".

À conta destas questões educadas lá vai cravando o cafézito matinal. Todos os dias, exceto às segundas feiras, dia em que vai "buscar a lista" para fazer o negócio da venda de jogo à Terça Feira. Normalmente eu pago os jornais da semana e a cautela ao Saavedra todas as Terças Feiras.

O Sr. Saavedra é sportinguista (não tem nada de mal, enfim, nada de muito mal..). Os proprietários do quiosque em frente - benfiquistas de gema -  não o chupam, nem com molho de tomate vermelho bem maduro!

Pois hoje, ainda tinha eu os olhinhos a brilhar do jogo de ontem à noite em Tottenham, quando o Saavedra mete conversa ao balcão com um dos empregados (também ele leãozinho):

-"Ontem os lampiões devem ter comido banana antes do Jogo! Corriam que pareciam macacos!"
- "Pois foi Saavedra!  E viste o estúpido do Jesus a mostrar  com os dedos  o nº da camisola do Luisão ao outro treinador? He, He, He... Só que como não frequentou a primária confundiu o 3 com o 4 , He, He! He! Ganda tanso!"
- " Banana! Banana é que os gajos comeram!! E naquela taça não há controlo! Devia ser no ciclismo que iam todos dentro!"

 Como é óbvio paguei, não deixei a gorgeta habitual e também me esqueci de esportular a bica do Saavedra. Um "gajo" só aguenta até determinado ponto.

Oh Saavedra,  vai chamar macacos  aos C**** do teu Pai! (salvo seja).

Todavia, ninguém hoje me tira do sério. Motivo pelo qual aqui deixo poema de felicidade, de Pedro Homem de Mello, o poeta  e investigador de folclore de Leça , onde muitas vezes o vi sentado à mesa do seu restaurante preferido, "O Garrafão":

Encontro

Felicidade, agarrei-te
Como um cão, pelo cachaço!
E, contigo, em mar de azeite
Afoguei-me, passo a passo...



Dei à minha alma a preguiça
Que o meu corpo não tivera.
E foi, assim, que, submissa,
Vi chegar a Primavera...

Quem a colher que a arrecade
(Há, nela, um segredo lento...)
Ó frágil felicidade!

— Palavra que leva o vento,
E, depois, como se a ideia
De, nos dedos, a ter tido
Bastasse, por fim, larguei-a,
Sem ficar arrependido...

Pedro Homem de Mello, in "Eu Hei-de Voltar um Dia"

Um comentário:

Américo Oliveira disse...

Diz o povo - e com razão! - que a mentira tem perna curta...