quarta-feira, outubro 12, 2016

Caixeiro-viajante



Com a preparação do Dia Mundial do Correio (que foi na segunda feira) e os lançamentos e apresentações dos nossos  livros que por aí vêm ("Jesuítas Construtores da Globalização" , amanhã no Museu da Ciência; "Vinhas Velhas" a 27 ) não tenho tido tempo para passar por aqui.

Resultou destas andanças alguma reflexão sobre a necessidade de tantas viagens e de tantos km percorridos para mostrar um carimbo, apresentar uma emissão de selos, falar sobre alguma obra de nossa edição.

Quando comecei esta vida, lá para os anos 80 do século passado, o mundo era mais simples e pacato. fazíamos 10 ou 12 (um exagero já!) emissões de selos por ano, e dois livritos.

Mesmo assim seria  raro algum destes selos ou livro ter associado um evento público de apresentação.

Recordo-me com saudade da emissão comemorativa da Independência de Portugal, seria em 91 ou 92 no Palácio da Independência, onde me coube pela primeira vez assumir a "cena dos carimbos" perante o Presidente da República Mário Soares e tendo "à ilharga" os dois marechais da República António de Spínola e Costa Gomes.

Passei a noite anterior a estudar o que deveria de dizer. Quando cheguei à sala (enorme!) verifiquei que tinham posto a mesa de honra a uma ponta e a mesa da obliteração com a caixa dos carimbos a meio da sala. Era pois necessário convidar as três individualidades para se levantarem e virem à mesa do meio. Coisa que eu não tinha preparado...

Enchi-me de coragem e disse em voz alta:
"- V. Exª Sr. Presidente da República, Vossas Exas Senhores Marechais, dignam-se acompanhar-me à mesa da obliteração?"

Depois virei-lhes as costas (lapso protocolar!) e comecei a andar.  No caminho - que seriam ainda uns 15 ou 20 metros,  mas que para mim pareceram kms -  só pensava:
- "Vêm atrás de mim ou não vêm? Se não vierem não paro na mesa, continuo a andar, saio pela porta e apanho o 1º táxi para a Casal Ribeiro..."

Mas vieram, carimbaram e mostraram interesse.

Depois disso o Dr. Mário Soares tornou-se perito na tarefa, costumava empurrar os Ministros e dizia:
-" Chegue-se para lá que disto percebo eu! Tenho prática!"

Hoje é como sabemos: quase 30 emissões por ano, 8 livros. Mais de 40 Carimbos. Muitos destes com cerimónias associadas, por esse país fora.

E tendo em linha de conta a necessidade de manter  viva a chama  de um produto que todos os dias perde utilização prática, resta-nos aumentar a notoriedade institucional para que se lembrem todos do que são selos e que estes servem (também) para franquear cartas e postais.

Por isso é a minha obrigação andar por esse mundo (lusitano) a disseminar este "evangelho".

O "Impetrante escriba e apontador da carimbação" morreria se não aproveitasse estes "caminhos" e estes "Km" para dar treino à cremalheira.  Daqui nasceu também o interesse que mantenho pela gastronomia e pela restauração.

Se a vida te dá limões faz limonada!  E é bem certo!

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