Um destes dias estava de candeias às avessas com a vida e precisava muito de conforto.
O conforto que posso obter nesta altura do campeonato tem mais a ver com comes e bebes do que com outra coisa qualquer (suspiro). Daí ter decidido almoçar de garfo e faca, sozinho, num local onde me conhecessem mais ou menos, servissem bem e (sobretudo) não me chateassem.
Mas também onde não me conhecessem demasiado bem, porque a familiaridade amiga nestas alturas em que um gajo está mais para o cinza escuro do que para o branco pode ser intrusiva e até contraproducente.
Tive dificuldade em escolher o local, porque das duas uma : ou me conhecem bem ou não me conhecem. Mas acabei por decidir num poiso. Cheguei, sentei-me e pedi uma das sugestões do dia: Língua de vitela estufada com puré de batata.
Era um prato emblemático do velho Funil (não confundir com o atual!!), recordando-me o meu trabalho na Casal Ribeiro e belos almoços num mundo mais leve e livre de tantos sobressaltos.
A acompanhar um tinto do Dão muito bom: o Quinta de Saes 2011 Estágio Prolongado. Não tão superlativo como o Pellada do mesmo ano, mas muito digno de registo.
Estava tudo bem encaminhado para a minha necessária catarse. Mas esta falhou redondamente por causa do serviço.
O funcionário da sala percebeu que o Cliente (moi) era "dos de gastar". Pendurou-se à minha mesa (também por falta de trabalho) e nunca mais de lá saiu.
- "Está a gostar da linguazinha?"
- "E que tal lhe parece o vinhinho?"
- " Ainda tem mais lá dentro no tacho!
- "Acha que devo abrir mais uma garrafinha?"
- "As nossas sobremesas são todas feitas cá em casa".
- "Pela mulher do patrão!"
E por aí fora, rematando nos intervalos com o futebol (tentado saber qual era o meu clube para não se esticar ao comprido), com a política (tentando saber para que lado é que eu jogava) e etc, etc...
Pôrra que foi cansativo. Gostei da comida, adorei o vinho. Mas ...tenho de pensar bem se lá volto a entrar...
Mal por mal, quando estiver assim a precisar de conforto em local onde não me conheçam e amem, vou directo ao Hard Rock Café.
A comida(?) pode não prestar, mas deixam-me numa paz absoluta apenas sobressaltada com os acordes do heavy rock.
Antes isso que ser melgado daquela forma atroz..Pobre Língua de Vaca! Pobre Quinta de Saes!
Mal empregados!