quinta-feira, março 23, 2017

Esta história dava um livro



Não tenho tido, na minha actividade como editor, dificuldade em arranjar temas para os livros que, ano a ano, saem com a chancela da nossa casa.

Pelo contrário, como temos boa fama como editores, o problema é poder escolher de entre as dezenas de temas que anualmente nos são propostos. E uma das coisas que mais me custa é ter de dizer a algum autor, com boas ideias:
-"Gostei muito da sua proposta, mas infelizmente  temos o nosso plano editorial completo até 2020".

O que é verdade. Temos até 2020 os 4 a 5 títulos que lançamos por ano comprometidos, e ainda temos mais uns 12 em lista de espera.

Iniciando esta actividade em 1985, editámos até ao dia de hoje 287 livros .

 Com especial relevo surgem os temas sobre o mar. Um pouco por causa das comemorações dos 500 anos dos descobrimentos portugueses, que levaram à edição de muitas obras relacionadas, debaixo da orientação do grande mestre que foi o Prof. Luis de Albuquerque.

Mas a gastronomia lato sensum está igualmente bem representada.  São 11 títulos até ao final de 2016 desde o "Comer em Português", de José Quitério, com fotografia de Homem Cardoso, editado em 1997 (esgotado) .  E temos já a fazer outro livro sobre  "Chocolate em Portugal", de Fátima Moura, no seguimento da obra da mesma autora sobre "Café em Portugal".

Pensando bem, estes 11 livros representam  mais de 50 000 páginas, em português e em inglês, que espalham por esse mundo as nossas tradições nesta área. Não conheço outro editor que possibilite tão larga divulgação da lusa  gastronomia através de livros bilingues.

Não se pense que é um favor que fazemos. Do ponto de vista comercial resultam melhor estes livros sobre temas como o Vinho em Portugal (João Paulo Martins), Vinhas Velhas (Luis Antunes, com fotografias de Anabela Trindade) , ou a "Dieta Mediterrânica"  (Fortunato da Câmara).

Mas como não somos uma editora especializada, teremos de ir intervalando estes temas com outros de índole diversa. E que entendemos assumirem também eles interesse cultural para o nosso público.

Para 2017 estamos já em trabalho avançado de edição dos seguintes títulos: "Fátima, 100 Anos" (Paulo Mendes Pinto); "Industria Têxtil em Portugal" (António Pereira); "Cafés Históricos de Portugal" (Samuel Alemão); "Rio Tejo, Berço de Civilizações" (Carmona Rodrigues).

terça-feira, março 14, 2017

Na "bisga"


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Estive a ouvir calinadas um destes dias, enquanto esperava pelas 8 da manhã, altura em que abria a oficina onde ia deixar o carro da família. Para fazer tempo fui a um café frequentado pelo povo, onde me deliciei com as "bocarras" do pessoal trabalhador.

Não deixa de ser estranho como a escassos dois quilómetros da mundana Cascais existe de imediato a civilização suburbana que não só limita a a área onde se pavoneiam os chiques e betinhos como decididamente tem tendência para a engolir. Basta afastarmo-nos do mar e ir para o interior. Interior onde ainda haja fábricas! O que é cada vez mais raro neste país de serviços.

As expressões lusitanas mais antigas enriquecem-se com o calão dos trópicos, cada vez mais ouvido nesse enquadramento. "Na bisga" significa rapidamente. É hoje pouco utilizada, substituída pelas mais modernas "bolina", "esgalha", "na gáspia" ou "na mecha".

Nas filas dos Salesianos, à espera de entrar nas aulas, era costume algum aluno mais afoito lançar uma "bombarda" e partir "na bisga", antes que algum padre,  ofendido pela má-criação ,lhe desse uma "lapada".

"Cavalona" e "cavalo de pau" (mulher grande ou magra e pequena) acho que já todos ouvimos dizer.
Mas "cavalo" já significa outra coisa que se consome (heroína ou um charro).

"Inhaca" é alguém que cheira mal, "lateiro" será comilão e "manolo" é um  amigo, companheiro do coração.

Um "mijão" é um gajo com muita sorte. E "mitra" é o mesmo que "azeiteiro" no Norte do país (chuleco). E um piropo  poderá ser  algo como: "Oh jóia, vem aqui ao ourives".

E "Apanhar uma put*"? Nada que meta redes e mulheres! Significa embebedar-se bem.

Agora o que nunca tinha ainda ouvido,  e achei deliciosa,  foi a expressão:
 - "Olha lá oh estúpido! Tás a confundir o olho do c* com a feira de Borba!" .

Temos que nos ir educando. Mas a pouco e pouco, porque muita cultura causa indigestão.