Reunião na Casa de Camilo em S. Miguel de Seide. Admirável edifício de mestre Siza, perfeitamente integrado na bucólica aldeia minhota que viu a morte e a vida do grande escritor. Tratámos da edição de um Postal Inteiro que comemore os 150 anos da publicação do Amor de Perdição.
Terminada a reunião pelas 12,30h houve que arranjar poiso manducal. Havia sempre a hipótese de Famalicão, ali perto, onde parece que o velhinho Tanoeiro perdeu fulgor , mas brilha agora o restaurante Ferrugem, de cozinha mais modernaça embora ancorada em matéria prima local.
Mas por aí não fui.
Falaram-me de um restaurante simples e à moda da terra minhota, que se chamaria "Casa Pêga" ou Casa da Pêga" . Pelo nome foi fácil de encontrar a meio caminho entre Famalicão e Seide, na freguesia denominada Antas . Quem, nesse caminho de Famalicão para Seide, vislumbrar por cima do tejadilho do carro o viaduto da Via Rápida Braga-Porto (convém mesmo ser apenas vislumbrar de relance, não vá a viatura chocar de frente com alguma parede enquanto a vista se perde para cima...) já sabe que ali vira à direita e depois num instantinho está no tal "Casa Pêga".
Casa Pêga
Rua 8 de Dezembro 2316
Vila Nova de Famalicão (Antas)
4760-016 VILA NOVA DE FAMALICÃO Distrito: BragaTelefone - 252374175
Sala ampla, barulhenta que baste, cheia até dizer chega. Irmão e irmã a tomar conta das ocorrências com alguns sobrinhos, tudo à civil, sem fardamento. Entra-se por um terraço fechado por marquise em alumínio (de fugir). Passa-se entretanto por uma espécie de corredor amplo que aparentemente "tem cozinha à vista" de ambos os lados. Até que atravessando mais uma porta se entra na tal sala de jantar ampla.
Mesa posta com roupa séria, e idem para os guardanapos. Um "Plasma" a dar a SportTV mesmo em frente e por cima da porta de entrada. Felizmente sem som.
Ambiente familiar (até demais) e decoração completamente kitsch. Para lá do kitsch até, do género: "Olha que tenho para lá isto em casa, onde é que o posso pôr até me lembrar de mandar fora?"
Então, dirão os leitores, se o ambiente é ruidoso que se farta, se a decoração é de fugir ou de entrar com óculos escuros e nunca mais os tirar, porque é que estou a gastar tanto latim com esta locanda?
Bem, porque se come estupidamente bem... E quem lá vai são as pessoas de Famalicão e até do Porto... Tudo gente conhecida que acha graça às manias dos proprietários , que tratam (e são tratados) pelos nomes próprios...
O que se come na Pêga: Rojões à moda do Minho; Cabrito assado no forno; Vitela com favas; Mão de vitela com grão; Vitela assada no forno; Cozido à Portuguesa; Bacalhau à casa, à Brás, Bacalhau Assado, Bacalhau em bolinhos com arroz do mesmo, e Peixes frescos variados, assados, fritos ou cozidos.
Para sobremesa o verdadeiro e quase mitológico "melão pimenta" do Minho, aquele casca de carvalho que os apreciadores gostam muito maduro, para saborearem o apimentado.
Naquele dia havia Marmotas fritas com arroz de pimentos, Fanecas fritas com arroz de tomate ( os arrozes trocavam); Robalo da Apúlia assado no forno com arroz de grelos e batatinhas.
Bolinhos de bacalhau e arroz de bacalhau saíam sempre. Era um ver se te avias!
Comi deles, provei uns enchidinhos do cozido, ainda arranjei lugar para umas tascadinhas de vitela assada e tive (cheio de pena!) que recusar uma tijelinha de mão de vaca...
O vinho branco da casa é de Felgueiras e não apreciei muito. Mas o verde tinto da casta Vinhão, servido em jarro, é muito bom. Fora isso, à parte a proletária escolha, a carta de vinhos tem qualidade, com os Douros em proeminência.
Existe uma bagaceira branquinha de vinho verde, feita ali mesmo em Abade de Vermoim, que é de cair para o lado, praticamente só a cheirei, porque tinha mais de 350km pela frente ainda...
Em conclusão: Paguei 24 euros. Teria pago uns 14 ou 15 se fosse mais contido nas provas... Gostei e fiquei cliente. Mas não é local para levar metrosexuais ou outras criaturas "ligadas" às marcas, à moda ou à estética... Teriam um xelique (ou dois).
Pensando melhor, essa circunstância até me tornou esta casa ainda mais simpática...
Ali para os lados do Montijo há uma "Taberna dos Cabrões". Se calhar foi para onde migrou o marido da senhora. ;-)
ResponderExcluirNao se come nada mal na dita tasca do Montijo, de estilo aparentemente semelhante a da dita casa minhota ( atenção que em Italiano o termo mignotta é sinónimo vernacular de pêga .... )
ResponderExcluirAbraco