quinta-feira, julho 30, 2015

Excitando as papilas

Em conversa recente com o amigo Fortunato veio à colação o texto admirável de meu mestre Quitério sobre a "Galinhola Rainha". Vem no seu último livro "Bem Comer e Curiosidades", na página 207 e dentro de um capítulo dedicado à "Caça no Prato".

100 páginas antes, na obra referida, podemos ler o enorme "Um adeus português ao bacalhau", texto emblemático amplamente citado na literatura da especialidade e que David Lopes Ramos considerava o melhor que alguma vez se escreveu sobre o "fiel amigo".

Estava a pensar combinar com a família Mendonça - lá mais para a rentrée - uma homenagem a estes dois textos que tivesse a forma de aplicação prática: com pratos e talheres. Esgrimindo argumentos mas não deixando de os intervalar com garfadas apetitosas, Sendo que umas puxam pelos outros, como se deseja e era apanágio das tertúlias gastronómicas dos homens de letras de antanho.

Este projecto devia ser considerado de interesse público (pelo escopo e abrangência) embora sirva apenas a gula dos intervenientes merendeiros. Quanto muito poderá dar origem a algum texto com que se imortalize a ocasião para a posteridade.

A ver vamos - como diria o Tio Rosa, invisual de Cascais que, pela deficiência e com a desculpa de se desequilibrar, muito aproveitava para apalpar as peixeiras lá no mercado.

Um Arroz de Bacalhau seguido pelas Galinholas à moda do Beira (estufadas em Madeira e acompanhadas com as tostas do seu paté tripeiro) ?

Duvido do primeiro prato... É de substância e pode arruinar o apetite dos comensais para o que segue.
Os pastelinhos com um humilde arroz de grelos?  Só os pastelinhos mesmo, com uma salada fria  de feijão frade ?  Enveredar pelo canónico bacalhau à Gomes de Sá?

E os vinhos para acompanhar , de forma a que fique bem o casamento de tão excelsos senhores?

Um tinto de 2011 do Douro, provavelmente. E antes? Um Primus do Engº Álvaro de Castro, um Sauzelhe do estábulo lá do lado dele? Ou um Alvarinho?

Temos ainda algum tempo para pensar, está claro, mas é com estes entretens salivosos que vou passando o tempo livre.

Só de pensar nisto já engordei mais umas 200 gramas...A imaginação é uma coisa lixada...






quarta-feira, julho 29, 2015

Chuva de Verão

Temos seca  no rectângulo, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera.  Uma "seca" que tem trazido chuva fora de tempo, como verificamos.

Para quem está de férias esta "seca" tem-se é transformado numa "seca" tipo "chatice". Ninguém sabe ao acordar se está tempo de esticar a toalha na praia ou de ficar em casa a olhar para a chuva nas vidraças e ver passar as horas.

Hoje amanheceu cinzento na grande Lisboa. E já chuviscava antes das 7h.  Nada garante que pelo meio dia não esteja já o sol a brilhar... Ou que a chuvinha se intensifique.

Há alguns anos que se acabaram as certezas antigas que "garantiam" as estações do ano e as suas características. Será do aquecimento global.


Fenómeno que muitos contestam, ansiosos para que os deixem continuar o desenvolvimento sem sustentabilidade. 

Temo que seja por aqui que a civilização (tal como a conhecemos) vai rebentar...

Leiam isto sff:


"De acordo com os dados da NASA, o ano de 2010 foi o mais quente desde que existem registos meteorológicos representativos, culminando uma série de anos anormalmente quentes (Figura 1). No último século, a temperatura média global cresceu um pouco menos de 1, de forma algo irregular, com dois períodos de aquecimento relativamente rápido (1910-1945 e 1975-presente) intercalados por um período de quase estabilização. Modelos climáticos indicam que esta evolução recente do clima global é a primeira fase da resposta do planeta à alteração da composição atmosférica resultante da queima de combustíveis fósseis, mas também da desflorestação e de outras actividades humanas, sendo expectável um aquecimento mais acentuado ao longo do século actual, com a possibilidade de criar desequilíbrios irreversíveis em componentes-chave do sistema climático. " 

Fonte: Fundação Francisco Manuel dos Santos - A Mudança Climática - Pedro Miranda

Para não acabar o Post em tema negativo (mas ficando sempre  aqui este apelo à reflexão e à nossa intervenção cívica), deixo-lhes Caetano Veloso e a sua Chuva de Verão.

Podemos ser amigos simplesmente
Coisas do amor nunca mais
Amores do passado, no presente
Repetem velhos temas tão banais
Ressentimentos passam com o vento
São coisas de momento
São chuvas de verão

Trazer uma aflição dentro do peito
É dar vida a um defeito
Que se extingue com a razão
Estranha no meu peito
Estranha na minha alma
Agora eu tenho calma
Não te desejo mais

Podemos ser
Amigos simplesmente
Amigos, simplesmente
E nada mais

Podemos ser
Amigos simplesmente
Amigos, simplesmente
Nada mais

Trazer uma aflição dentro do peito
É dar vida a um defeito
Que se extingue com a razão
Estranha no meu peito
Estranha na minha alma
Agora eu tenho calma
Não te desejo mais

Caetano Veloso

terça-feira, julho 28, 2015

Embirro com os "reality shows".



Eu embirro com poucas coisas, mas discordo de muitas.
"Embirrar"  é para mim sinónimo de reacção pouco racional.

"Embirramos" com algumas coisas sem saber bem porquê... Tem raízes fundas, o "embirrar".

Talvez nos traumas da infância ou da adolescência? Ou não viesse a palavra "embirrar" de "birra" , daquilo que fazem os meninos e as meninas quando são contrariados.

Já por outro lado, o "discordar" é próprio da civilização. Discorda-se de uma decisão, discorda-se de uma exposição de ideias. Discordar permite  utilizar depois o contraditório. Contrapor as nossas ideias às ideias que foram emitidas e com as quais não concordamos.

O contraditório mais natural da "embirração" é gritar: "Porque sim! Porque acho que é assim! Porque me irrita ser de outra forma!".

Já aqui expliquei que "embirro" com três coisas na restauração: quererem fazer passar por peixe do mar o que é de piscicultura, apresentar no tacho  lampreias de barragem (francesas ou canadianas) a fingir que são das apanhadas no rio, aqui em Portugal e tentarem convencer-nos que "aquelas perdizes são mesmo de caça", quando logo se percebe pela pouca consistência dos peitos que foram criadas em gaiolas.

Hoje trago à colação outra das minhas "embirrações". Mas esta é mesmo profunda!

São os "reality shows" e outras coisas parecidas: Tudo o que envolva pessoas a serem "despidas" em directo da sua dignidade para gáudio da audiência.

Bem sei que as supostas "vítimas" foram  para ali a tentar receber dinheiro e por vontade própria. Bem sei que estes programas são ímanes para a grande maioria dos espectadores e nenhuma estação de TV poderá hoje em dia passar sem eles, se quer continuar a atrair anunciantes.

Mas a minha "embirração" é irracional. Não tem em consideração aquelas verdades do mundo mediático. Não a consigo explicar. Só sei que existe e que é profunda.

Abrange as "Quintas disto e daquilo", "Big Brothers", " Master Plans", "Casas dos Segredos", " Peso Pesado" e passa depois pelos "Ídolos", "Canta para Mim", etc, etc...

Abomino aquilo tudo. Desde as cenas de nudez, sexo e de violência (as que mais agradam ao "povão") até às reacções do tipo homofóbico, revelações de segredos íntimos em horário nobre, pedidos de casamento em directo, humilhações públicas e o mais que houver ( e há!).

Consigo perceber quem  faz estas imbecilidades e até quem nelas participa  por dinheiro. O vil metal escraviza tudo e todos. E todos - incluindo eu - dele necessitamos. Não haja hipocrisias.

 Não consigo é perceber quem gosta  de ver estas indigências mentais... Mas nessa opinião estou obviamente muito ultrapassado e muito atrás do "trend" actual.

Os "Reality Shows" são a "fast food" ordinária do entretenimento.  Ocupam agora o lugar do futebol e do fado como ferramenta de alienação da populaça.  São os jogos de coliseu do Imperador Calígula transvestidos de roupagens actuais.

Estou a ficar velho. Devo estar a meio caminho do asilo geriátrico...

Imaginem vocês que ainda sou de opinião que ler um bom livro é infinitamente mais enriquecedor.

Embora também  admita que há alturas em que a "malta" quer é mesmo diversão sem introspecção. Gratificação imediata.

Uma espécie de "shots" com vínculo assegurado para a bebedeira rápida, sem passar pela fase do "vinho branco, tinto e whisky velho". Sem requinte nem maneiras civilizadas.

Consigo compreender isso. De vez em quando...

A resposta pode ser:  vejam um filme engraçado. Ou uma série de TV ( a HBO tem algumas de cair para o lado).

Nem sempre Ingmar Bergman, nem sempre Peter Jackson. Nem sempre Teixeira de Pascoaes, nem sempre Eça de Queiroz.

Os desenhos animados do  Chuck Jones (Bip-bip) ou do Tex Avery (Droopy) ainda hoje são para mim  bons substitutos do Prozac .

Somos humanos e temos direito à diversidade na qualidade.  Na qualidade!!  Sublinha-se qualidade!

segunda-feira, julho 27, 2015

A confusão

A Turquia aproveitou as eleições internas pouco favoráveis à "situação" para desviar atenções da população e soltou os "cães de guerra". Por enquanto apenas em raides aéreos sobre alvos situados na Síria, para a frente logo se verá...

No "Público" de hoje a Directora questionava os perigos de uma situação de guerra ( exactamente na  Síria) onde vários "actores" se atacavam uns aos outros no mesmo "teatro" de operações ( se há teatro, tem de haver actores).

Estado islâmico, curdos, turcos, sírios rebeldes moderados, sírios rebeldes extremistas, sírios situacionistas... Um autêntico campeonato da porrada! Mas como isto não é futebol e a malta não traz camisolas de cores diferentes, imaginamos a grande barafunda que por lá se passará.

As mulheres e as crianças estão por todo o lado. Excepto as que conseguiram fugir. E morrem todos os dias nestas escaramuças. Nem devem perceber porque morrem ou em nome de quem morrem.

Há já quem louve o ditador Bashar Al-Assad, porque enquanto "reinou" manteve o país tranquilo (à força, como todo o tirano que se preza, mas tranquilo).

E este é o perigo dos acontecimentos que presenciamos, avaliados a quente. A lição que deles se tira sem o distanciamento que o tempo permite, nem sempre é a mais racional.

Entre as vidas humanas que se cortam como ervas daninhas,  no meio dos atentados ao património mundial edificado que todos os dias acontecem, quantas invejas locais (e feudais) devem ser agora executadas  aproveitando a confusão dos tempos?

Gostaria de recordar a grande Síria de 3,000 anos de civilização.  Não para esquecer o que lá se passa agora, mas sim para enquadrar no grande rio do tempo estes eventos que - no momento em que acontecem - parecem ( e são, para todos os envolvidos) catastróficos.

Syria: the  3000-year story of what came before;  the peoples, cities, and kingdoms that arose, flourished, declined, and disappeared in the lands that now constitute Syria, from the time of the region's earliest written records in the third millennium BC, right through to the reign of the Roman emperor Diocletian in the early 4th century AD. 

Across the centuries, from the Bronze Age to Imperial Rome, we encounter a vast array of characters and civilizations, enlivening, enriching, and besmirching the annals of Syrian history: Hittite and Assyrian Great Kings; Egyptian pharaohs; Amorite robber-barons; the biblically notorious Nebuchadnezzar; Persia's Cyrus the Great and Macedon's Alexander the Great; the rulers of the Seleucid empire; and an assortment of Rome's most distinguished and most infamous emperors. All swept across the plains of Syria at some point in her long history. All contributed, in one way or another, to Syria's special, distinctive character, as they imposed themselves upon it, fought one another within it, or pillaged their way through it. 

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But this is not just a history of invasion and oppression. Syria had great rulers of her own, native-born Syrian luminaries, sometimes appearing as local champions who sought to liberate their lands from foreign despots, sometimes as cunning, self-seeking manipulators of squabbles between their overlords. They culminate with Zenobia, Queen of Palmyra, whose life provides a fitting grand finale to the first three millennia of this ancient civilization. And yet the long story of Syria does not end with the mysterious fate of Queen Zenobia. The conclusion looks forward to the Muslim conquest in the 7th century AD: in many ways the opening chapter in the equally complex and often troubled history of modern Syria. 


Ancient Syria: A Three Thousand Year History

Trevor Bryce

quinta-feira, julho 23, 2015

Para descansar a vista ...olhando já as eleições.

Estarei amanhã no Norte, pelo que antecipo o habitual poema das sextas feiras. É de Ruy Belo, o  poeta doutorado em Direito Canónico e licenciado duas vezes, em Direito e Filologia Românica.

Deixou-nos aos 44 anos, quando ainda tinha uma vida à sua frente para nos dar.

A escolha deste grande poema não é por acaso.

O período pré-eleitoral que começamos a atravessar e que teve como pontapé de saída o discurso do Sr. PR de ontem à noite deu o mote.

Ruy Belo visionou, em 1977, o que poderá vir a ser o Portugal de 2016. O Portugal futuro.

O Portugal futuro

O Portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável

Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e lhe chamem elas o que lhe chamarem
Portugal será e lá serei feliz

Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a Espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz

À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão

Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o Portugal futuro.


Ruy Belo

quarta-feira, julho 22, 2015

Limonadas e outras bebidas que não estão entregues ao demoino (coca-cola)


limalimon refresco

Tenho o privilégio de apanhar limões directamente do terraço da casa da aldeia. Basta esticar o braço e colher.

O limoeiro carregado de frutos pendura-se  e invade as escadas de acesso ao terraço. São um bocado para o casqueiro, têm a casca grossita. Mas o gosto é muito agradável. Suspeito que o meu sogro andou por ali a experimentar algum enxerto com limeiras ou até laranjeiras...

Lembrei-me de falar hoje sobre bebidas refrescantes de Verão porque o Limão (como veremos) é comum a praticamente todas elas.

A Limonada que as senhoras bebiam no Verão lá na serra era sempre feita de limões e de laranjas, na proporção de  sete ou oito limões para duas laranjas. Lembro-me que a minha sogra os espremia bem  e depois juntava açúcar amarelo e água a ferver. Mexia tudo e deixava arrefecer com um pano por cima. Só no final metia algumas pedras de gelo.

Se as laranjas forem sanguíneas podem pôr o sumo de mais uma ou duas e diminuir no açúcar.  Caso prefiram juntar uma colher de groselha em xarope, a limonada também fica bem apaladada e cor de rosa. Não se esqueçam é outra vez de diminuir no doce.

O Capilé das avós (feito a partir da avenca) pode ser reproduzido em casa - para evitar macerar as folhas da planta - tendo acesso a uma garrafa de xarope com o mesmo nome.  A "Neto Costa" tem. A "Sabores de Santa Clara" também o produz. Para obter a bebida de Capilé adiciona-se  uma colher ou duas de xarope de capilé  à casca de  um limão, pomos açúcar a gosto, mexe-se muito e  deita-se gelo. Acaba de encher com água mineral.

O Mazagran argelino (um jarro)  leva uma chávena de chá de café forte , sumo de um limão e rodelas de outro limão, um pouco de rum e o inevitável açúcar. Mexe-se muito bem e deita-se depois água com gelo para acabar de encher. Um pau de canela pode ser utilizado para aromatizar. Ou flores de anis.

Dos trópicos chega-nos o Refresco de Lima com Menta.  É uma espécie de limonada feita a partir das limas e que é depois aromatizada com folhas de hortelã-pimenta. De novo o açúcar vai a gosto do artista. Gelo e água mineral compõem o ramalhete.  A novidade é que não se extrai o sumo das limas. Estas são partidas aos bocados, como se fosse para a "caipirinha", deitadas para dentro do jarro e batidas com o açúcar e com a hortelã. A água é a última coisa a entrar, com o gelo.

Tenho insistido na água mineral - apesar dos avisos dos entendidos sobre a qualidade da água das torneiras - por uma razão mais "estética". É que a água del cano pode ser boa para beber ( e sem dúvida que é) mas se não for fervida deixa um gosto pouco agradável nos preparados onde entra " a crú". Em casa só faço gelo de água do Luso. Para não estragar o "escocês"...

Sem querer avançar pelas sangrias e outras bebidas onde o álcool já é um parceiro sério - podem sempre ir ler os posts mais antigos onde esta temática foi abordada - não me despeço sem lhes falar do chá de verão, o chá gelado que se pode fazer em casa sem ter de comprar as garrafas da Lipton's  ou da Nestea.

Estes chás - de limão, de pêssego, com menta, etc... - fazem-se sempre da mesma maneira: água a ferver  onde duas ou três colheres de açúcar (mascavado) é diluído. Depois com ela ainda a ferver mergulhamos os saquinhos de chá (eu uso chá preto). Estando a infusão feita deixamos arrefecer e deitamos o sumo de um ou dois limões, consoante o tamanho da garrafa ou do jarro.  Em estando tudo frio aromatizem com pedaços de pêssego maduro, folhas de hortelã, o que quiserem.

No caso de usarem fruta aos pedaços deixem repousar uma noite e no dia seguinte coem o líquido sem a fruta para outro jarro.

terça-feira, julho 21, 2015

A "problemática" dos pratos frios para o Verão



Salada de atum será talvez o prato frio mais conhecido e utilizado pelos portugueses actualmente.

No passado não.

Há muitos anos atrás  desenvolveu-se em praticamente todo o país  o escabeche para a conservação de peixe que não se consumia todo na mesma ocasião. Como consequência, o escabeche ( de carapaus, de sardinha, de fanecas, etc...) veio a tornar-se apetecível para o Verão, comido a frio.

No Alentejo os gaspachos eram há séculos comida de estio. Com ou sem carapauzinhos fritos.

E na Beira Alta os endinheirados (ou os remediados que caçavam) também costumavam conservar (para comer no Verão) as perdizes, enfiadas em frascos de boca larga previamente esterilizados. As perdizes eram primeiro estufadas lentamente em azeite, vinho branco e vinagre, a que se juntava a gosto cebola e uns grãos de cravinho, pimenta e sal.

Saladas frias -  como as que se servem hoje como acepipes e entradas nos restaurantes de genética mais ou menos alentejana - são novidades com um cheirinho de marketing.
Honra seja feita aos percursores (Irmãos Fialho a destacar) que de um conjunto de pratos mais ou menos  completos fizeram uma "tábua de entradas" que serve dois propósitos ao mesmo tempo: aconchega a caixa registadora e dá satisfação ao cliente.

São imensas: de pimentos, de polvo, de ovas, de fígado frito ou grelhado, etc...

Destaca-se para mim a de coelho S. Cristóvão (localidade de Montemor-o-Novo) que é assado na brasa primeiro (temperado com alho e sal) e depois cortado aos pedaços e marinado em molho de azeite, alho, vinagre e coentros.

Do Algarve chega-nos a velhinha receita dos "carapaus alimados". São bem limpos e  depois de  salgados em camadas, cozem-se. A seguir deixam-se esfriar e passam-se bem por água fria para enrijar. Só depois são filetados os lombos, tira-se a pele  e tempera-se com rodelas de alho, de cebola e salsa picada.

Em praticamente todo o país se utiliza ( há quantos anos?) a famosa receita de "bacalhau onanista " (Mestre Quitério dixit). O fiel amigo desfiado em crú e bem temperado de azeite, alho, cebola e vinagre.
O meu sogro usava bacalhau sem ser demolhado. Desfiava a posta em tiras finas, passava-as depois por água bem fria apertando bem cada tira. E só depois temperava. Imaginamos que puxaria bem ao vinho...

Um ponto comum a quase todos estes pratos frios é a utilização do azeite e do vinagre. Ou não estivéssemos num país de tradição mediterrânea.

O tradicional molho de Verão é a maionese. Dizem que criada para homenagear o Duque de Richelieu após a conquista da cidade de Mahon (1756?). É praticamente um molho universal que, se for bem feito, na sua simplicidade realça os pratos de peixe, marisco e até de carnes frias em que se coloca.

Em Portugal  usa-se a "vinagreta" (azeite, vinagre, sal, pimenta, mostarda e ervas finas, alcaparras e salsa picada) importada em tempos das Invasões Francesas (?)  para algum peixe cozido ou para o pós-modernista "peixe ao sal".

Mas para mim o verdadeiro molho "Tuga" é o molho de vilão, abundantemente utilizado na Madeira e nos Açores (molho crú, molho das vindimas, são sinónimos) para condimentar peixe. Mas também aqui no continente. Como em muitas receitas do nosso extraordinário "tesouro gastronómico nacional" as interpretações do molho de vilão são inúmeras. Faz-se com caça ou com peixe, aplica-se ao bacalhau, tem variações desde Trás-os-Montes até às Ilhas de Bruma. Pode ser utilizado frio ou quente.

Dou dois exemplos:

 No Algarve (para o atum fresco e frito, receita  antiga de Vila Real de Santo António): 

2 Malaguetas
200ml Vinho branco
Vinagre de vinho branco a gosto
2 colheres de sopa de azeite
2 a 3 folhas de louro
Orégãos ou tomilho a gosto

E em S. Miguel (para os chicharros ou para as cavalinhas):
  - Azeite
– 5/6 dentes de alho esmagados
– Duas colheres de sopa de pimenta da terra, moída
– Um copo com metade de vinho de cheiro, metade água
– Um fio de vinagre branco
– Uma mão cheia de salsa picada
– Colorau Doce
– Pimenta branca

segunda-feira, julho 20, 2015

A saga dos chinelos



Normalmente, em universos racionais, quem necessita de chinelos dirige-se a uma sapataria.
Tal como vai a uma farmácia quem precisa de medicamentos, ou a uma mercearia quem quer comprar batatas e feijão encarnado. Peixe compra-se nas peixarias, carne nos talhos. Esferográficas estão nas papelarias, cuecas e peúgas nas lojas de pronto-a-vestir.

Nem sempre foi assim.

Ainda conheci na aldeia de Alvoco da Serra uma "venda" que tinha disto tudo, desde roupa interior de homem e de senhora até bacalhau ao kg. Passando pelos artigos de retrosaria, pelas sementes da batata (e da propriamente dita) e pelo vinho a garrafão. Eram as antigas lojas provincianas de "secos e molhados" numa versão ainda mais abrangente, que incluía agulhas de costura e novelos coloridos de lã da "EFANOR".

Hoje em dia podemos também concordar que as "grandes superfícies" apresentam toda esta catrefa de artigos num mesmo local, de forma conveniente para o público em geral e "assassinante" do chamado comércio tradicional ( pós-secos e molhados).

A figura da loja "especializada" passou para o universo do modelismo ou da alta fidelidade , vivemos na era do "genérico". Desde o genérico do medicamento até ao genérico do creme para a barba. E tudo se pode encontrar no mesmo local. A única diferença face às antigas "vendas" será que esses artigos estão agora em prateleiras e corredores distintos, deixando a caixa das pastilhas "Gorila" de dar o braço à dos atacadores de botas da tropa...

Mas mesmo sabendo destas misturas que o comércio de hoje permita e apoia, deve parecer estranho ir à procura de chinelos a uma loja de mobiliário rústico...

As "santas" cá de baixo informaram-me do desejo de irem comprar chinelos, e deram-me a morada:
 -"No Vassoureiro. Lá é que os encontramos!"

Saberão (ou ficam agora a saber) que o Vassoureiro era uma loja com mobílias rústicas de pinho, ali para os lados de Alcoitão.  Era, digo bem, porque quando lá cheguei vi que tinha sido convertida para um daqueles "empórios" chineses.

Nem discuto o mistério de duas anciãs de 85 anos saberem mais do que eu sobre o destino da dita loja que já foi de madeiras de pinho, e agora é de bric-á-brac asiático. O que me faz sobretudo confusão foi saberem que lá teriam chinelos...

A não ser que entendam serem as "lojas dos chineses" uma espécie de arca de noé dos não-vivos
(não são zombies malta! Das coisas inanimadas!) onde tudo o que não respira se pode encontrar. Desde as gaiolas dos canários aos tais chinelos.

Ao fim de hora e meia (bem contada por mim, minuto a minuto) a  compra não se concretizou. Os "chinelos eram de plástico".  

Mesmo desdenhando trouxeram as "santas" alguns molhos de flores (também de  plástico, vá-se lá entender), bué de pilhas para os transistores (parece que passam a noite a ouvir a radio na cama), molas para a roupa  e ainda duas ventoinhas de pôr à janela dos carros para que o vento as faça mover (nem perguntei para que queriam aquilo. Já estava para morrer com o cheiro a lavanda da dita loja).

Saímos do "Empório de Pequim" , ou lá como aquilo se chama agora e  fomos direitos ao Continente do tio Belmiro ( parece que agora passou a ser do primo Paulinho). embora eu ainda protestasse que
-"Chinelos de pele e sola de cabedal era mesmo nas sapatarias!"

Mais de uma hora depois saímos sem chinelos  mas com pão de forma integral, bolinhos secos, courgettes e bananas, mistura solúvel de cevada e dois pacotes de chá de camomila.

Já dentro do carro pediram-me para ir então aos "outros chineses,  lá em baixo ao pé do Pão de Açúcar de Cascais,  esses é que tinham tudo..."

Pôrra Compadres!! Foram vossas mercês?  Pois eu também não. Ala para casa que o almoço fica atrasado.

Agora quase que não me falam. Mas só até Sexta à noite. Chegada a proximidade do sábado é certo e sabido que me vêm chatear mais uma vez.

O Tio Santidade, lá em cima na Serra, quando se empiteirava valentemente (era dia sim, dia não)  e se esquecia de ordenhar as cabras, vinha para a rua ouvi-las berrar  e dizia em voz alta "é sina que as cabras têm , coitadinhas...já nasceram com esta sina..."

E esta também é a minha sina, sábados e domingos...

sexta-feira, julho 17, 2015

Para Descansar a Vista...olhando para a zona Euro...



Num frenesim de orgulho pátrio várias vozes na Finlândia estão a erguer-se contra o "Euro".
Calcula-se que a economia finlandesa (pós-Nokia) terá perdido cerca de 20% da sua competitividade por deixar de poder jogar com as flutuações de moeda para exportar.

E dizem ainda que o nível de vida no país piorou depois dos 15 anos de adesão à moeda única. E  sem a  Nokia (acrescento eu).

Depois do colapso da Nokia a Finlândia exporta sobretudo petróleo e seus derivados, pasta de papel (e madeira ) e ainda aço.

Se houvesse petróleo em Portugal provavelmente também cantaríamos de galo...Melhor dito, de rena.

Alguns economistas entendem que este será o princípio do fim do euro. Outros dizem que são apenas sobressaltos da ressaca do que se passou ( e ainda está a passar) na Grécia. Leiam aqui o Economist:
"Without Greece many will conclude that the Euro zone might actually be more stable. Saddly, that is wrong! Look beyond Greece and conflict within the euro is all but inevitable. Although Greece’s departure would prove the euro is not irrevocable, nobody would know what rule-breaking would lead to expulsion. Nor would it resolve the inevitable polarisation of debtor and creditor governments in bail-outs. If the single currency does not face up to the need for reform, then this crisis or the next will witness more Greeces, more blunders and more dismal weeks. In time, that will wreck the euro and the EU itself."
E eu não diria melhor... 
Para afastar estes mau-olhados e presságios de desgraça vamos a um poema de alegria .  De Eugénio de Andrade, "Anunciação da Alegria", uma pequena jóia da nossa língua que aqui deixo:
Devia ser verão, devia ser jovem:
ao encontro da manhã ia cantando
como quem entra na água.

Um corpo nu brilhava nas areias
   corpo ou pedra?, pedra ou flor?

Verde era a luz, e a espuma
do vento rolava pelas dunas.

Soltei os olhos sobre aquele corpo,
o coração latindo de alegria.

De repente vi o mar subir a prumo,
desabar inteiro nos meus ombros.

Sem muros era a terra, e tudo ardia.

Eugénio de Andrade

quarta-feira, julho 15, 2015

Vantagens de ser Tuga comparadas com o gosto de um inglês

As redes sociais estão cheias de notícias do crítico gastronómico do Times, Giles Coren, depois deste ter "investido" contra a cozinha portuguesa, fruto de uma má experiência (segundo ele) no restaurante  londrino "A Taberna do Mercado" de Nuno Mendes.

Eu próprio , a quente, escrevi que o Sr. Giles normalmente não comeria, antes pastava que nem um boi, e que teria febre aftosa (comum às cavalgaduras).

Agora, com mais distanciamento, acho que somos um bocado pacóvios se nos pusermos todos a protestar , tipo  vaga de fundo ou  manif estudantil de 68.  São achaques de provincianismo.

Não os devemos ter porque a posição da nossa gastronomia está acima, muito acima dessas dores de "corno" (com vossa licença).

Obviamente que um crítico influencia, e sendo o do circunspecto The Times, ainda mais. Mas é apenas a opinião de uma criatura. E atrevo-me a dizer que a gastronomia portuguesa sobreviverá a isso.

O próprio Giles compara nesse artigo a pretensa má qualidade da nossa cozinha com a do seu país, gozando com o assunto. E para quem entende o humor britânico (Monty Python são aqui chamados à colação) o homem devia estar num dia de "marrar" com tudo o que lhe pusessem na manjedoura (digo, no prato) e, sem outro tema para escrever, fez disso o seu artigo.

Tenho de parar com estas analogias bovinas, senão ninguém acredita na tese que aqui defendo...

Crítico também tem prazos e crítico também tem, ocasionalmente, blackouts imaginativos.

Quem não se sente não é filho de boa gente?  Está bem, mas a melhor vingança come-se fria (agora que é Verão).

 E para além disso, sem largar a língua de Shakespeare, "Living well is my best revenge!".

Imagino o que diria Giles se estivesse  no final da tarde de Segunda feira passada, no Casino da Figueira, perante três mesas monstruosas de acepipes tradicionais portugueses ali dispostos com amor e carinho pelas Confrarias Gastronómicas do nosso país.

Desde os charutos de S. Miguel (com rótulo adequado ao dia), até ao venerável queijo da Serra, passando pelos presuntos de Vale do Sousa (de cair para o lado), pelos rojões , pelo leitão da Bairrada, pelos pastéis de bacalhau, pelos panados de vitela, pelas muitas broas (doces ou salgadas) , pelos doces conventuais em barda...

Das duas uma: ou o Sr. Giles caía nauseado, ou se rendia à desbunda...

Em qualquer dos casos a sua atitude pouco ou nada afectaria o ânimo dos presentes, demasiado ocupados a  venerar (comendo) o bodo ali  apresentado por mãos benfeitoras.

E é aqui que quero chegar. Deixem criticar. Há espaço neste mundo de Deus para todos.

Enquanto uns criticam, outros aproveitam e vão comendo...

Imaginem o horror da situação oposta: o homem dizer bem da nossa gastronomia e a mesma ser má. Mázinha mesmo, quase péssima.

Isso sim, seria um pesadelo do qual queremos acordar já! Pôrra Compadres!

segunda-feira, julho 13, 2015

É pena que os KM em terra não acumulem milhas de voo...

Estou feito um autêntico "caixeiro viajante" dos selos postais. Não paro com as deslocações, fruto das solicitações que não param de chegar.

Hoje estarei na Figueira da Foz, para assistir à apresentação formal do Dia Nacional da Gastronomia  recentemente aprovado na AR e que terá lugar no último Domingo de Maio. E vamos obviamente comemorar o 1º Dia , em Maio de 2016, com um Postal Inteiro.

A Assembleia da República resolve, nos termos do n.º 5 do artigo 166.º da Constituição, instituir o Dia Nacional da Gastronomia Portuguesa no último domingo de maio. Aprovada em 26 de junho de 2015. 
A Presidente da Assembleia da República, 
Maria da Assunção A. Esteves. 


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Estou ao mesmo tempo satisfeito pelo facto da filatelia estar na moda e das cerimónias de apresentação dos selos serem cada vez mais  procuradas por todas as entidades intervenientes, promotores das emissões e outros que por elas se sentem abrangidos.

Mas sai-me do corpinho, e com a malvada da ciática sempre a espreitar por cima da "nádega", o que posso dizer é que o amor à arte tem de ser grande para ultrapassar os incómodos.

Mas não sou hipócrita. Vingo-me das dores parando sempre que posso nalgum restaurante que valha a pena e que encontre nestas deslocações.  Et voilá o incentivo!

 Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe...

quarta-feira, julho 08, 2015

Estronços e outros que tais



Muitas vezes ouvi, lá na terra, a minha santa chamar "estronços" a certas personagens de quem não gostava muito. Sempre achei que fosse um adjectivo local.

Até que se fez luz nesta fraca cabeça: "Estronço" era uma forma popular do termo "Mastronço" (Mastronço, como sinónimo de indivíduo grosseiro, mal arranjado e sujo).

Outra expressão popular, tornada célebre por Vergílio Ferreira ( A Palavra Mágica), foi o termo "Inoque", utilizado na aldeia como grande ofensa: fulano chamou-lhe tudo! Que era um grande bruto e estúpido ! E que não passava de um grande inoque!!

Mais tarde veio-se a constatar que "Inoque" era um abastardamento popular da palavra "Inóquo", a qual, a bem dizer, não prefigura grande insulto...

A redução ou apagamento de sílaba é considerada um processo fonológico do desenvolvimento, caracterizado pela eliminação de uma sílaba ou mais sílabas durante a produção de uma palavra. Não sei se foi isto que aconteceu, mas estas ideias de simplificação populares não ocorrem apenas na linguagem coloquial. 

Ora leiam esta "novidade" sff:

Parece que uma reputada empresária brasileira do ramo editorial ( penso que se tratará da "Leya" lá do sítio) conseguiu uma avultada verba do Ministério da Cultura do Brasil para "simplificar Machado de Assis". Isto é, reescrever as obras do Mestre em linguagem "que todos entendessem, desde o rico que estudou na faculdade até ao pobre que apenas aprendeu a ler"... E começou logo pelo "Alienista" a obra-prima de Machado de Assis,onde  este nos deleita com a história de Simão Bacamarte e do seu hospício Casa Verde.

Os termos de comparação são retirados do excelente artigo "Discípula de Paulo Freire assassina Machado de Assis",  de José Maria e Silva.

Nota: Paulo Freire foi um pedagogo controverso, admirador de Mao Tse Tung e que desejava arrancar as palavras burguesas da cartilha do trabalhador, determinando a alfabetização a partir das palavras proletárias, , como “tijolo”. (Sem comentários que ainda me engasgo a rir e não acabo o Post.)

Como exemplo da estranha simplificação do "Alienista": Uma volúpia científica alumiou os olhos de Simão Bacamarte”;  ficou depois da "revisão" : “Uma curiosidade científica iluminou os olhos de Simão Bacamarte.
E ainda: Simão Bacamarte começou por organizar um pessoal de administração; e aceitando essa ideia ao boticário Crispim Soares, aceitou-lhe também dois sobrinhos”.  
E na traduçãozinha para ignorantes: “Simão Bacamarte começou organizando um pessoal de administração. Convencendo o farmacêutico Crispim Soares, aceitou-lhe também dois sobrinhos”.
Ou, por último: Isso de estudar sempre, sempre, não é bom, vira o juízo”. Após a ação revisionista: “Isso de estudar sempre, sempre, não é bom, prejudica o juízo”.

"Conquanto" (embora) fica "enquanto"; "hebreu" passa a "judeu"; "Transeuntes" são agora "Os que por ali passavam", "pasmado"  foi substituído por "espantado"...

Se a moda aqui pega, no nosso Jardim à beira mar plantado, já estou a ver os versos de Camões "adaptados" para o povo: 

As Armas e os Barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana

Por Mares nunca dantes navegados

Passaram ainda além da Taprobana
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana
Entre gente remota edificaram
Novo reino que tanto sublimaram
(....)

E a versão revista e melhorada:

A forte rapaziada de Chelas  
Depois do trabalhinho no  "28"  amarelo

Tomou o cacilheiro para a Trafaria
Agarrados ao fundilho  belo
Deixando para trás  a bófia esbaforida
Esganados como cães de Niza
Esperam lá para a Caparica
Não de areia, mas de maravedis
Acabar de vez com a larica

Ganda Camões! 
Rejuvenesceu, ou melhor "ficou mais novo"!

terça-feira, julho 07, 2015

De regresso (outra vez)...

 Começo com um  voto  de sentidas condolências pela partida da Drª Maria Barroso, nossa amiga e que connosco compartilhou ao longo de muitos anos largas sessões de lançamento de selos e de livros.  A última foi a emissão que dedicámos à ACNUR (Agência da ONU para os refugiados) onde esteve também o Alto Comissário Engº António Guterres.

Uma grande Senhora, com uma vida notável, lutadora infatigável pelas causas da democracia e das liberdades, direitos e garantias,  que tivemos o privilégio de conhecer. Boa Viagem!

Depois desta nota triste o resto das notícias a comentar parecerão de uma palidez excessiva.

Mas temos a Grécia, os resultados do  referendo e as suas consequências.  Como desatar esta meada?

O circunspecto The Guardian escreve:

The next 48 hours will test Tsipras’s argument that a no vote would strengthen his hand with negotiators.
The Economist Intelligence Unit puts the chances of a Grexit (saída do Euro)  at 60%.
“The referendum result raises the stakes for both sides. It makes it more difficult for Mr Tsipras to make big concessions in order to reach agreement with the country’s creditors. It also makes it more difficult for German chancellor Angela Merkel and other eurozone leaders to make concessions to Greece because of the moral hazard arguments,” says the EIU’s Joan Hoey.
Um dos maiores problemas é o estrangulamento do sistema bancário, onde segundo parece existem agora apenas  45 euros por  cada cidadão grego em cofre... Caso o BCE não se atravesse a saída do euro será inevitável. Fala-se já de Bail-in, o que se passou no Chipre, e que não é mais do que um arresto de poupanças superiores a um determinado montante, para financiar as despesas do estado.
A grande data, a data de todas as decisões será o dia 20 de Julho, onde a Grécia deveria pagar 3,5 biliões ao Banco Central Europeu.  Se falhar esse pagamento, a "malta" de Frankfurt provavelmente fecha a torneira e o GREXIT será inevitável...
Veremos. 

sexta-feira, julho 03, 2015

Para Descansar a Vista...No Panteão




Resultado de imagem para Entrada do palácio de S. Bento, leões

Estou chegado de andanças muito eclesiásticas - S. Vicente de Fora e S. Pedro de Rates - carimbando a emissão dos "Caminhos de Santiago" junto de um dos meus padres preferidos, o Sr. Arcebispo D. Jorge Ortiga.

Hoje há a trasladação de Eusébio da Silva Ferreira para o Panteão, e já estive de manhã, nos Passos Perdidos de S. Bento (é só santos...) a carimbar mais uma vez...

Nota: De tanto carimbar a p*** da palma da mão já desenvolveu um calo. Ando a ver se o transformo em doença profissional...

Por acaso, e fruto de ter dormido menos de 5 horas nesta noite por ter regressado já tarde de Rates depois de quase 800 Km de carro no mesmo dia, acabei por chamar Guilherme Aguiar ao Dr. Guilherme Silva e Vice Presidente da Federação Portuguesa de Filatelia ao Humberto Coelho... Mas fora esses dislates correu tudo bem...

Aqui para nós,  não achei bem estarmos a fazer uma homenagem ao Eusébio numa sala onde a decoração proeminente dos tectos são leões...Para já não falar das bestiúnculas que se encontram à entrada, nas escaditas... Mas adiante que não estamos em Amarante.

Venham então uns versos para celebrar o Desporto .

Do grande António Aleixo ("Este livro que vos deixo") aqui vão algumas verdades.

Que já eram verdades quando foram escritas, mas que mantêm a actualidade!!

Vejam lá se não mantêm:

Desporto e Pedagogia

Diz ele que não sei ler 
Isso que tem? Cá na aldeia 
Não se arranjam dúzia e meia 
Que saibam ler e escrever. 

P'ra escolas não há bairrismo, 
Não há amor nem dinheiro. 
Por quê? Porque estão primeiro 
O Futebol e o Ciclismo! 

Desporto e pedagogia 
Se os juntassem, como irmãos, 
Esse conjunto daria, 
Verdadeiros cidadãos! 


Assim, sem darem as mãos, 
O que um faz, outro atrofia. 
Da educação desportiva, 
Que nos prepara p'ra vida, 
Fizeram luta renhida 
Sem nada de educativa. 

E o povo, espectador em altos gritos, 
Provoca, gesticula, a direito e torto, 
Crendo assim defender seus favoritos 
Sem lhe importar saber o que é desporto. 

Interessa é ganhar de qualquer maneira. 
Enquanto em campo o dever se atropela, 
Faz-se outro jogo lá na bilheiteira, 
Que enche os bolsinhos aos que vivem dela. 
 
Convém manter o Zé bem distraído 
Enquanto ele se entrega à diversão, 
Não pode ver por quantos é comido 
E nem se importa que o comam, ou não. 

E assim os ratos vão roendo o queijo 
E o Zé, sem ver que é palerma, que é bruto, 
De vez em quando solta o seu bocejo, 
Sem ter p'ra ceia nem pão, nem conduto. 

António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."