sexta-feira, fevereiro 28, 2014

Para Descansar a Vista

Num dia de sol - e que falta já nos fazia! - vamos pensar positivamente, estribados numa noite certeira de futebol para SLB e FCP e com a certeza que, não havendo "safadezas" de deuses ciumentos,  hoje  haverá o costumado jantar de Lampreia entre Amigos, ponto alto da época "ciclostómica" de Cascais.

E para aqueles leitores que acharão de mau tom estar aqui a misturar comida com poesia, deixo o célebre aforismo do grande Bertold Brecht: "Para quem tem uma boa posição social,  falar de comida é coisa baixa. É compreensível: eles já comeram."

Antecipando e salivando, na expectativa de que o arrozinho de logo não  venha frio,  aqui vos deixo  um poema que prova  bem que se pode gostar de comer sem deixar de amar:

Dobrada à Moda do Porto

Um dia, num restaurante, fora do espaço e do tempo,
Serviram-me o amor como dobrada fria.
Disse delicadamente ao missionário da cozinha
Que a preferia quente,
Que a dobrada (e era à moda do Porto) nunca se come fria.

Impacientaram-se comigo.
Nunca se pode ter razão, nem num restaurante.
Não comi, não pedi outra coisa, paguei a conta,
E vim passear para toda a rua.

Quem sabe o que isto quer dizer?
Eu não sei, e foi comigo ...

(Sei muito bem que na infância de toda a gente houve um jardim,
Particular ou público, ou do vizinho.
Sei muito bem que brincarmos era o dono dele.
E que a tristeza é de hoje).

Sei isso muitas vezes,
Mas, se eu pedi amor, porque é que me trouxeram
Dobrada à moda do Porto fria?
Não é prato que se possa comer frio,
Mas trouxeram-mo frio.
Não me queixei, mas estava frio,
Nunca se pode comer frio, mas veio frio.

Álvaro de Campos, in "Poemas"


 


quinta-feira, fevereiro 27, 2014

Saúde: Custo ou Investimento?

"A Universidade Nova está a estudar o impacto do investimento em Saúde na Economia e concluiu que o dinheiro investido tem retorno imediato no PIB. Dados que vão ser apresentados hoje na conferência dedicada à Saúde promovida pela TSF."

Com este estudo começa a  levantar-se todo um véu de suspeição que há muito pairava sobre esta área fundamental da governação de qualquer país.

Recordo que por ocasião da celebração dos 30 anos do Serviço Nacional de Saúde foi muitas vezes afirmado que Portugal teria um dos melhores e mais abrangentes sistemas de saúde da Europa ( e do mundo) não tendo, infelizmente, dinheiro para o continuar a manter.

Quando agora os autores do estudo citado vêm afirmar que por cada euro gasto em tecnologia e infraestruturas de saúde  "regressa" ao PIB imediatamente, como retorno,  44 cêntimos, e por cada euro investido em medicamentos, o retorno imediato à economia é de 56 cêntimos, tudo indica que esta explicação da "falta de dinheiro para manter os níveis do SNS de 2011" deve ser obrigatoriamente revisitada...

 E falta ainda falar dos custos indirectos: de quanto custa para o Estado e para o cidadão o agravamento do estado de saúde devido a internamentos fora de prazo, a intervenções cirúrgicas adiadas, a medicamentos tomados "dia sim, dia não" porque não há dinheiro em casa para os tomar diariamente...

Num excelente artigo publicado no Diário de Notícias - 27 JAN 2014 -  já o Prof. Adalberto Campos Fernandes,  (ENSP-UNL) tinha referido algumas das graves limitações à actual política de "racionalização de meios" e de "minimização de custos" com que o Governo tenta conseguir alcançar os objectivos de memorando de entendimento assinado com a Troika. Vale a pena recordar alguns pontos desse artigo:

No sector do medicamento foram introduzidas medidas corretivas, ao nível do preço e das margens, tendo sido desenvolvido um circuito de prescrição mais transparente e mais seguro com um expressivo incremento da quota de mercado de genéricos. Ainda assim, as medidas transversais aplicadas foram, nalguns casos, além do razoável , levando a um colapso do sector com consequências conhecidas ao nível da distribuição, da exportação paralela e da grave falta de medicamentos nas farmácias.
Destas medidas de política, na área do medicamento, resultaram importantes e necessárias poupanças que, associadas aos cortes remuneratórios, deram a aparente noção de que a sustentabilidade económica seria possível.
Por detrás deste aparente sucesso esconde-se, no entanto, um imenso manto de frustração face ao que deveria ter resultado do cumprimento das obrigações de reforma sectorial decorrentes do memorando de entendimento assinado em maio de 2011. A reforma dos cuidados de saúde primários e continuados estagnou limitando a capacidade de resposta, sobretudo nas grandes cidades, às necessidades agravadas pela degradação das condições económicas e sociais.

Em conclusão: sob pena de nos limitarmos a gerir a tesouraria do Estado, o dia-a-dia, de facto o caso vertente parece provar que, ao contrário do vigente pensamento governativo, Portugal não tem é dinheiro para se dar ao luxo de não investir cada vez mais neste sector!!

Mas como a actual política no crepúsculo da Troika parece ser a de governar todas as manhãs para a tarde de cada dia, tenho muitas dúvidas se a racionalidade do estudo da Universidade Nova vá prevalecer.

quarta-feira, fevereiro 26, 2014

Um Abraço ao grande Capitão

Partiu Eusébio e parte agora Mário Coluna.

O Grande Capitão da Selecção de 66 e do Benfica.
Homem com letra grande, um Senhor dentro e fora do campo, um dos notáveis que fez do SLB um dos mais conhecidos clubes de futebol da Europa e do Mundo.

Em Moçambique lhe farão sem dúvida homenagem, pois foi Seleccionador Nacional e até Presidente da Federação Moçambicana de Futebol.

Só espero que aqui em Portugal não se esqueçam também de o recordar devidamente.

Poema de Gilberto Teles recorda a Língua Portuguesa

O nosso Amigo Américo recorda, a propósito da "língua" um poema que talvez poucos leitores conheçam:

Lembro, a propósito, o poeta brasileiro Gilberto Mendonça Teles e o seu poema ‘Língua’ que aborda a origem e evolução da língua portuguesa, referindo-se ao seu dinamismo e expansão à medida que é levada para outros países:

Língua

Esta língua é como um elástico
que espicharam pelo mundo.
No início era tensa,
de tão clássica.

Com o tempo, se foi amaciando,
foi-se tornando romântica,
incorporando os termos nativos
e amolecendo nas folhas de bananeira
as expressões mais sisudas.

Um elástico que já não se pode
mais trocar, de tão gasto;
nem se arrebenta mais, de tão forte.

Um elástico assim como é a vida
que nunca volta ao ponto de partida.

[Gilberto Mendonça Teles, poeta brasileiro]

terça-feira, fevereiro 25, 2014

Línguas há muitas...

Comemoram-se em 2014 os 8 séculos da Língua Portuguesa.

Dizemos "8 séculos" e não "800 anos" porque falando em séculos estamos um pouco mais à vontade com os puristas que definem os documentos mais antigos até hoje encontrados na nossa língua.

De facto, se formos ver rigorosamente, o 1º documento de que existe registo escrito em português foi uma "notícia" (diríamos hoje um "anúncio público" ) com uma descrição de dívidas  de um  nosso antecessor, o  "compadre" Pelágio Romeu...  Tinha que ser!!! Desgraçado país que já nasceste torto . E data-se de 1175 essa Notícia de Fiadores.

Para não parecer mal, os historiadores convencionaram então que o 1º documento digno desse nome em português seria o Testamento de D. Afonso II, datado de 1214. Esse sim, tem alguma narrativa e entendo bem porque foi geralmente entendido ser o documento matricial da lusa escrita.

Vamos fazer uma série de selos para comemorar esta efeméride. E tenho o maior gosto em confirmar que todos os países de língua portuguesa se associarão a Portugal nessa emissão filatélica conjunta! A sair em 5 de Maio deste ano, com a pompa e circunstância que merece.

Para saberem mais coisas sobre este assunto vão aqui sff:
http://8seculoslinguaportuguesa.blogspot.pt/

Falando de língua era inevitável que este vosso  amigo saltasse de imediato para a desbunda, evocando o papel da "língua na gastronomia". E temos muitas: a língua da sogra; a língua de gato; a língua de vitela (mais tenra que a da vaca); a língua de bacalhau.

Já não falo das línguas de rouxinol e de flamingo que terão feito as delícias dos velhos romanos lá para o fórum imperial, hoje em desuso por motivos óbvios.

Recuperando uma recente visita a um restaurante na Mealhada (agraciado pela Revista de Vinhos como o Melhor Restaurante de cozinha tradicional de 2013), onde comi umas superlativas línguas de bacalhau com arroz malandrinho de grelos,  aqui deixo a minha receita para um "Arroz de Línguas de Bacalhau à moda de Cascais".

Recordo que nesse Restaurante  - "Rei dos Leitões" - para além de uma cozinha acima de qualquer suspeita e muito para além do nome que lhe deu fama, encontrei também uma das mais bem feitas e completas carta de vinhos de que me recordo... Recomendo muito seriamente que por lá abanquem sem preconceitos e ainda que, se puderem, evitem a gula do leitãozinho para experimentarem outras coisas.

Já agora, antes da receita, lembro ainda o sempre amado restaurante de Ílhavo - D. Joaquim. Onde se comem as línguas de bacalhau panadas com arroz de pimentos ou de tomate... e, a pedido, onde se encontra o melhor bacalhau para assar ou para cozer que já comi em minha vida, com dois anos de cura!

Arroz de Línguas à moda de Cascais

Para 4 pessoas que comam bem comprem dois "baldinhos" de línguas que podem pôr a dessalgar tal como se fosse bacalhau.
Comprem meio kg de gambas de Cascais - daquelas que nunca viram o interior de uma arca frigorífica. Cozam apenas com água e sal de forma a ficarem durinhas.  Tirem as cabeças e as "cascas" e guardem  o caldo .
Num almofariz moam as cabeças  com um pouco da água de cozer, passem por um passador e juntem ao caldo .
Fazemos uma puxadinha ligeira com cebola, alho, bom azeite , vinho moscatel (meio copo) e uma mão de sal (atenção às línguas para estarem bem escorridas do sal). Deitamos ainda na puxada malagueta a gosto e  um bom tomate maduro, limpo de peles e de sementes e cortado aos pedacinhos. Se estiver muito maduro espremam-no grosseiramente com as mãos para dentro do tacho.
Em estando a cebola a começar a alourar deitamos as línguas e o miolo das gambas e deixamos tomar o gosto por dois minutos, mexendo sempre. Logo de seguida deitamos o arroz, uma chávena almoçadeira e meia de arroz vaporizado. Deixamos de novo o arroz a fritar mais um minuto.
Por fim o caldo de cozer as gambas, acrescentado de água se necessário, de forma a fazer a proporção: duas vezes e meia a três vezes o arroz.
Provem para testar o sal e deixem cozer o arroz. Antes de estar cozido fica sempre bem uma mão cheia de coentros frescos partidos aos bocadinhos para dentro do tacho..
 O Tacho deve vir para a mesa assim que estiver cozido o arroz, a "correr" pelos pratos.

Recomendo para acompanhar um branco do Dão, de Encruzado. O  da Quinta dos Roques ou o da Quinta dos Carvalhais (Sogrape) são sempre boas escolhas.

segunda-feira, fevereiro 24, 2014

Domingo de sensações

Congresso do PSD, anúncio dos dois "chefes de fila" para as candidaturas ao Parlamento Europeu, grande alegria que o meu Estoril-Praia deu aos sócios canarinhos (mas também a verdes e vermelhos)!

Não faltou nada! Nem sequer a parte de ilusionismo no Coliseu, a cargo do Prof. Mandrake de Sousa, que, vindo  do ar,  tirou um coelho da cartola e rapidamente o pôs lá outra vez...

O "Face" não se calou a noite toda com mensagens relacionadas com isto tudo.

Foi bom este final de tarde e início de noite para esquecer mais um Domingo de "escravidão" passado ao forno, lutando com dois lombos de porco ibérico para o almoço, mais os seus acompanhamentos.

Ainda me admiro e embasbaco ( se tal palavra existir) com aquelas pessoas , mães de família, que praticavam, aparentemente com alegria, aquela teoria vigente durante o obscurantismo - nem só causado pela falta de eletricidade em casa - que postulava ser o Domingo um dia de repouso e de culto do Lar, depois de se dar o culto a Deus.

 Com essas coisas da religião não me meto. Sigo o sábio preceito antigo que estipula: "Perante pessoas sem muita familiaridade  nunca se discute política, nem religião, nem a aparência dos interlocutores".

Agora, ser o Domingo um "Dia de Repouso" ? De "Repouso" o caraças! (com as minhas desculpas).

Desde as 8 que o "Je" cumpria as suas funções em frente aos tachos, só acabando lá mais para as 15,30h, quando a P*** da cozinha ficou finalmente arrumada... E, aqui para nós, viu finalmente as "santas pensionistas" abandonarem o palco da refrega depois do chá e do bolinho de laranja da Garret que se seguiu ao repasto, indo "moengar" para outro lado. Que  idealmente deveria ser bem longe... Mas não é. Fica para aí a uns 50 metros mal medidos. Hélas...

Para atormentar o meu sono de beleza só faltava a última notícia da noite de ontem : Parece que a Rainha do Carnaval de Estarreja deste ano será ... José Castelo Branco. Esse (a) mesmo!!

Como é que gajo pode ir dormir sossegado com essa imagem na retina? O conhecido socialite e transvestite de peito e perna ao léu, lá em cima do carro alegórico? O horror...

Pode ser que chova.

Nota: Transvestite não é ofensa! Fui ver ao Merriam-Webster:  a person and especially a male who adopts the dress and often the behavior typical of the opposite sex especially for purposes of emotional or sexual gratification.

sexta-feira, fevereiro 21, 2014

Para Descansar a Vista

De António Manuel Couto Viana, grande homem de letras (1923- 2010), ensaísta, encenador, dramaturgo, professor e poeta, aqui vos deixo duas propostas:

Madrigal

Ainda é possível este amor
Como um regresso ao paraíso?
Aroma apenas de uma flor?
O beijo apenas de um sorriso?
Ainda é possível este amor?
Qual a resposta que preciso?

E nada digo! E nada dizes!
Tudo nos basta num olhar
E que tu, mão, lisa, deslizes
Por sobre a minha, devagar...
Com pouco somos tão felizes
Que é já demais pedir luar!

E é já demais esta poesia
Se há cada vez menos valor
Nas tais palavras que diria
Para dizer-te o som e a cor
De um coração em harmonia
Que só se diz, dizendo: Amor!

No Farol da Guia

Pedi ao Farol da Guia,
Pra que a nau não naufragasse
Na noite que fôr o dia,
Que fosse luz e a guiasse.

E pedi mais:
Que baloiçasse no ar
Os sinais
Do tufão que vai chegar,
Pra que ao abrigo do cais
A nau achasse lugar.

E o primeiro farol
De aviso à navegação
No mundo onde nasce o Sol,
Não me disse sim nem não.

Mas a âncora ancorada,
Como fanal de bonança,
Entre os muros da esplanada,
Disse, sem me dizer nada:
- Tem esperança!


 

quinta-feira, fevereiro 20, 2014

Recordações

É triste que sejam cerimónias fúnebres - neste caso o enterro da Anabela, querida amiga e colega do ISCTE - que nos façam vir à memória casos passados dignos de evocação.

Mas como me ensinaram quando passei por semelhante fado que nada exorcisa tanto a perda de um ente querido como recordá-la nas boas situações que passámos juntos, tomo a liberdade de fazer esta crónica  como se fosse  mais um grande abraço que dou ao Joaquim Vicente Rodrigues.

O ISCTE abriu oficialmente as portas em 1972. Em DEZ desse ano saíu o decreto oficial que lançou a primeira pedra. Eu, junto com a Anabela e o Joaquim, fazíamos parte dos 66 alunos inscritos no Curso (novinho em folha) de Organização e Gestão de Empresas. Havia, para a escola toda, cerca de 300 alunos, 4 professores catedráticos (Sedas Nunes; J.J.Laginha; Mário Murteira; Alfredo de Sousa) e uns 15 a 16 assistentes.  Entre os hoje mais conhecidos, Vasco Pulido Valente, Filomena Mónica, Rui Machete...

As primeiras aulas foram num velho edifício (antigo palacete em frente ao Lago do Campo Grande  e ao Centro Comercial Caleidoscópio). Quem se lembra que quando estreou "O Exorcista" em Portugal foi naquele cinema? E que, por causa disso, tinha sempre à porta uma ambulância, para levar a malta que tinha "xeliques" durante a exibição?

Nesse edifício fiquei conhecido como figura de "esquerda "  e "personagem contra a situação" porque - dadas já então as minhas manias de acordar cedo - era dos primeiros a chegar (com a minha querida amiga Teresa Pais, hoje Teresa Zambujo) e abria o portão da Universidade sem ter autorização para tal...

A "Gabriela" estava na RTP, e toda a gente já integrava no vocabulário popular os termos respectivos: "Olha-me este Jagunço!"; " Oh Colega, vai na janela ou quê?"; "Bebes tanto comó Dr. Ezequiel!!"

Os funcionários administrativos  eram geniais... O Sr. Belinha (que era contínuo residente, com apartamento no edifício), o Sr. Vitor, a DªCarmelita...

Dada a precariedade das instalações fomos todos ter aulas para um Pavilhão da Feira Popular até que se fizessem umas obras lá mais para cima, em frente ao "castelinho" da Faculdade de Farmácia. Grande sítio para "viver", já que o curso de Farmácia era conhecido por ter muito mais mulheres do que homens... e nós não saíamos lá do Bar...

Logo o comércio da zona da feira popular se alvoroçou: "No Restaurante O Machado não se dá a machadada! Faz-se um bom preço a toda a estudantada!"

Tínhamos as sardinhas (uma vez por semana, ou menos, que o dinheiro não abundava) tinhamos a zona dos jogos (matraquilhos, porque não havia videogames!!). Foi muito engraçado!

E foi também ali que nos encontrámos com a Liberdade! O que foi ainda mais engraçado!

Quando o "tal" Edifício novo foi inaugurado, talvez em 1978, já a minha "malta" do 1º curso se tinha licenciado e estava toda a trabalhar (bons e velhos tempos!!).  O Joaquim rapidamente começou a trabalhar nos CTT, na então DRCL.   E foi ele que me convidou mais tarde (1980) para eu ser também trabalhador da mesma casa.

Como alguns de V. sabem, fiquei depois de acabar o curso lá na Escola (como naquela altura toda a gente lhe chamava) por mais 30 anos, acabando a carreira como Professor Auxiliar em 2008.

Todo este percurso foi acompanhado pela Anabela e pelo Joaquim. Estiveram no início e estiveram também no fim. Foram dos primeiros alunos e (o Joaquim) foi também professor meu colega.

E se este desenrolar de memórias o fez sorrir já me dou por satisfeito...

Um Grande Beijo Ana! Boa Viagem!

quarta-feira, fevereiro 19, 2014

A diferença entre o êxito e o fracasso

Como se sabe a história é normalmente escrita pelos vencedores e quem distingue - no dia a dia das nossas vidas - aquilo que é um sucesso do que resulta mal, nem sempre serão personagens isentas.

É bom termos sempre , ou sempre que possível, métricas, regras pré-definidas, que permitam saber sem subterfúgios qual o desenlace das situações. Veja-se por exemplo no futebol: quem marca ganha, quem não marca, perde.

Lembro-me do Masaro frente ao Taffarel na final do campeonato do mundo de futebol de 1994, onde a diferença entre a glória do Taffarel e a desgraça do Masaro terão sido alguns cm... E o que dizer do grande Veloso, em 1998,   na final de Estugarda? Veloso rematou, Van Breukelen defendeu, o Benfica perdeu e o PSV ganhou a Taça dos Clubes Campeões Europeus... Mais uma vez uma questão de cm fez a grande (enorme) diferença.

Tudo isto vem a propósito - é um dos assuntos que mais se discute agora - da "Saída de Portugal do Programa de Ajustamento".

A tal que ainda ninguém decidiu se seria "limpa" ou "suja" ;  "à irlandesa", ou  "à grega" ou até de outra forma mais original.

O que seria muito bom discutir eram as consequências destes tipos de "saídas". Definir as tais métricas que permitiriam sem rodeios saber se uma das decisões - qualquer que ela fosse - poderia considerar-se um Êxito ou um Fracasso...

Para quê? Bem, para premiar ou castigar à boca das urnas quem tomou a tal decisão. Pois claro!

Isabel Arriaga e Cunha assina um artigo muito bem feito sobre esta matéria, que podem ler aqui:

http://www.publico.pt/economia/noticia/riscos-politicos-em-portugal-dificultam-saida-limpa-do-programa-de-ajuda-externa-1621186

Neste momento só me sinto à vontade para dizer que, como as coisas andam de candeias às avessas entre os dois Partidos de alternância de poder, seriam os nossos credores ainda mais loucos do que nós se concordassem numa "saída à irlandesa, limpa" sem garantias fortes de estabilidade para o futuro em termos de política financeira.

O calendário político é conducente a que se observem as consequências das decisões sobre este assunto antes do "tuga" ir a votos para as legislativas.

O meu ( e direi, nosso) problema será que, como muitas vezes acontece em Portugal, chamado a decidir-se entre carne ou peixe, o actual Governo  escolha "Bacalhau".

Ou seja, uma espécie de "saída limpa com um programa cautelar disfarçadamente agarrado à laia de acordo escrito".

O que, bem vistas as coisas e tendo em atenção quem somos, até nem parecerá mal escolhido...

Todos, Governo e Oposição, devem gostar de Bacalhau.




terça-feira, fevereiro 18, 2014

Médicos e doenças

Ontem foi dia de levar a minha santa "à revisão".  Trata-se, bem entendido, daquela revisão dos 850 000 km! Ou dos 85 anos, o que vem a dar quase no mesmo.

Nessa altura da existência o que é que um médico poderá fazer?
Na minha forma de ver, se não chatear já não é nada mau...

O que me leva ao avô Correia lá da Beira Alta, que toda a vida adulta (leia-se, assim que começou a ganhar uns trocos) fumava 2 maços por dia dos sempre recordados "Definitivos". E bebia de acordo com a sua vida de agricultor e comerciante de gado, ou seja muito, para as normas citadinas e lisboetas...

Já nos 92 anos foi ao médico  porque estava a ouvir cada vez pior (!!) e o "físico prodigioso" quis saber como era a vida do homem. Inteirado dos hábitos pouco congruentes com uma vida saudável (na cartilha por onde ele tinha estudado não se previa a fumaça nem muito menos os 3 litritos de tinto por dia) o Sr. Doutor Leitão (nome bem aviado) acabou a consulta com um raspanete:

"-Pode ir. Tem aqui umas análises para fazer. Olhe que está proibido de fumar e de beber! Ouviu??!"

Ao que o bom velho lhe retorquiu:

"Deixe lá Sr. Doutor , que já não morro novo. E quando morrer também era aborrecido ir daqui deste mundo cheio de saúde..."

Pois com a minha santa foi mais ou menos a mesma história.

Farta das "incompetências" das privadas tinha-se aventurado pelos meandros do SNS. Finalmente convencida que tal opção também não era a ideal regressou ao "ninho capitalista". E ontem foi dia de consulta numa dessas novas estalagens de luxo que por aí têm aberto como cogumelos,  tendo por cima o nome de "Clínica".

O Médico observou-a, mediu-lhe a tensão, quis saber quais os medicamentos que tomava (ela tinha trazido as embalagens todas na mala) e acabou por lhe receitar umas análises e dois dopplers (às carótidas e à coluna).

A "doente" quis logo saber:

"- Então e os medicamentos? Não receita?"
-" Vamos esperar primeiro pelas análises minha senhora."

Já na saída avisou-me logo:

-"Nunca mais cá venho! Eu só venho ao médico pelas receitas e quero lá saber dos exames! Isto está tudo feito com as clínicas! É uma vergonha! Eu vi logo que estavam carros grandes a mais no estacionamento! Comilões!"

Nota 1: A santa está em guerra com a nova política do TotoFactura e - nem sei bem porquê - odeia carros grandes, limusinas e topos de gama. Enfim, podia dar-lhe para pior...

- "Mas Mãe, sem exames como é que o homem sabe o que lhe há-de receitar?"
- "Receitava igual ao que outros faziam! Ou ele pensa que é melhor do que o Dr. Estrela?"

Nota 2: O Dr. Estrela era um médico famoso do Estoril, infelizmente falecido há mais de 20 anos.

"-Mas olhe que há agora medicamentos melhores! Mais modernos!"
- "Não quero saber! Se forem diferentes dos outros não os tomo! No fim de contas cheguei a esta idade  por causa dos outros!"

 Já um bocado marafado lembrei-me a tempo da resposta do velho Tio Correia.

E foi o que me valeu para fazer a viagem para casa em santa paz com a santa...

sexta-feira, fevereiro 14, 2014

Para Descansar a Vista...Amando

É Inevitável que seja o "Amor" a dar o tema para a poesia de hoje.

Amor sem idade, sem limitações, sem materialismos, sem subterfúgios, sem malícia, sem egoísmo e sem ciúme. Amor do corpo, da alma e do coração. Amor eterno, puro, simples e verdadeiro.

Obviamente que tal coisa não existe.

Nunca existiu no plano dos mortais em que nos movemos. É uma criação de pensadores e de poetas, abstrata, miraculosa e convenientemente revestida de todas as qualidades humanas , na maioria dos casos para desculpar ou disfarçar a luxúria de uns e de outras, ou para justificar "in illo tempore" os casamentos (cozinhados pelos parentes) ,da industria com a agricultura , do comércio com a construção naval, ou até mais plebeiamente, do Xico da Viúva com a Zefa do Ti Manhoso, que têm as courelas quase pegadas uma à outra...

Isto digo eu que estou a tornar-me meio descrente nesta religião ao atravessar a casa dos "cinquentas"...

 Não quero impor esta visão mais cínica a ninguém - sobretudo a todos aqueles e aquelas que  que ainda acreditam em vampiros e lobisomens sofrendo pelo amor de castas donzelas em  technicolor ou em outros milagres deste tipo - e por isso sempre lhes vou dizendo que tudo o que faz "mexer" o homem  e a mulher, quer horizontal quer verticalmente,  (já cá faltava a ordinarice do costume) é bem vindo e positivo.

A vida é mesmo assim, "pelo sonho é que vamos", com a imaginação à frente da razão, "naquele engano de alma ledo e cego que a fortuna não deixa durar muito".

Desta forma, pelo enamoramento de todas com todos, pelo aproveitamento mais carnal destes dias de chuva e de frio,  pela esperança numa vida melhor, aqui lhes deixo o Príncipe dos Poetas (apesar de ser um tremendo lugar comum ):

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;


É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.


Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?


Luís de Camões

Nota: Quadro de Maria Cepêda, considerada por muitos a sucessora de Mestre Lima de Freitas




quinta-feira, fevereiro 13, 2014

Viva a Radio! E a minha santa!

Dia Mundial da Radio, 13 de Fevereiro de 2014! E foi também neste dia (que por acaso era uma sexta feira naquele ano já longínquo do século passado) que nasceu a minha Santa. Nasceu numa sexta feira 13, o que já pronunciaria alguma coisa...

Como podem adivinhar, desde que a moda "gringa" de celebrar o dia de São Valentim (ou dos Namorados) a 14 de Fevereiro vingou aqui em Portugal que comecei a ter alguns problemas com a aquisição da prenda da santa...

E quanto mais a dita (santa) ia entrando na idade (na 3ª ou na 4ª idade, mais precisamente) mais complicado era o assunto.

Eu entrava na perfumaria, normalmente nas vésperas do 13 de FEV, e dizia que queria um perfume ou um creme de face para senhora. As empregadas todas elas se derretiam, pensando que era para a minha mulher, namorada, whatever...

E iam perguntado se eu sabia o que queria?  Se era para de noite ou para de dia ? Se a pele era mais seca ou mais oleosa?

Na minha cara de estupefacção e algum desconforto percebiam que eu não fazia a mínima ideia do que estavam a falar. E por isso, mais cedo ou mais tarde, lá vinha a inevitável pergunta:

"- E a senhora que idade tem?"

Aqui é que a porca (salvo seja!!) torcia o rabo... Quando eu dizia:

"-Acho que são 83 ou 84 anos..."

Haviam de ver a mudança da expressão facial das senhoras das lojas!! Era digno de ser filmado!

Claro que antes de eu ser dado como cronófilo (o contrário de pedófilo) lá ia dizendo à pressa:

"- Olhe que é para a minha Mãe, que faz anos nesta altura!"

O alívio era evidente. Nelas e em mim.

Para um filho de 58 anos é complicado pensar nos progenitores como adolescentes... Eu próprio acho que viveria mais sossegado pensando que tanto o meu Pai como a minha Mãe chegaram assim "do outro lado" à vida adulta sem passar pelas fases anteriores.

Infelizmente tenho retratos do meu pai ainda imberbe a jogar futebol com a camisola do Estoril-Praia, e, quanto à minha mãe, tenho um retrato dela pintado e retocado à mão que também prova a respectiva adolescência. Terá sido "encomendado" para oferecer ao meu pai durante o namoro...

Como vêem, assuntos de fugir  a sete pés. Até sinto arrepios por estar aqui a falar neles. E por isso mudo já de atalho.

  Na altura em que a minha mãe era adolescente (1947)  foi criado um programa de Radio que durou 50 anos . Eram "Os Parodiantes de Lisboa" dos irmãos Rui e José Andrade. Ainda os conheci pessoalmente quando entrei nos Correios, em 1980, tinha a meu caro a dinamização do Direct Mail e estavam eles a fazer um espécie de transição da Radio para uma Agência de Publicidade de serviço completo.

Nessa altura a popularidade  dos Parodiantes era enorme. Por isso não era estranho que nas conversas do dia-a-dia se utilizassem os termos das charlas radiofónicas para nos metermos uns com os outros.

Um dos meus Tios era o "Cara Linda". E  assim ficou conhecido no meio bancário (onde exercia a sua profissão) até morrer... E quem lhe pôs a alcunha (que ele compreensivelmente odiava!) foi a minha mãe.

Quem diria - aturando-a todos os dias - que era assim tão danada para a brincadeira quando era nova??!!

 Claro que hoje, se lhe perguntarem, nega tudo! Nega e chama-me logo maluco... O costume.

Nota: Na falta de imagem do "Cara Linda" (era a Radio Amigos!!) aqui fica o magnífico Jolly Jumper do Lucky Luke! Ainda eram capazes de ser primos...


O Padre que no confessionário fazia mais do que devia...

Leiam o comentário do Amigo Américo, no último Post! O tempo muda, mas os costumes talvez nem por isso...

terça-feira, fevereiro 11, 2014

Comichões e "bikini bridge"

Comichão, coceira, prurido - no sentido erudito  -  ou mais popularmente:  jácomeça, sarna, pira ou rabugem. 

Venha daí o primeiro dos leitores que nunca teve esta sensação. Começa logo  quando somos bébés, atinge o auge na adolescência, e depois de  adultos a continuação é certa, sabida e adivinhada sem risco.

A comichão (prurido) é uma sensação que instintivamente leva as pessoas  a coçarem-se. Pode aparecer nos locais mais estranhos (em ambos os sexos) e embora não se saiba bem qual a causa mais corrente, entende-se que a comichão tanto pode ser causada por uma lesão cutânea ou por uma doença sistémica . Já para não falar da importância da higiene pessoal na profilaxia de semelhante praga.

Os especialistas em "coçeira" distinguem a que aflige as "partes altas" da que afecta as "partes baixas " (do corpo humano, está claro). Sendo que a primeira é mais visível, esteticamente mais penalizadora, mas muito mais fácil de resolver (em público) pela unha, ou unhas do (a) afligido (a).

Em relação à notória comichão das "partes baixas antes de chegar aos joelhos",  o caso é grave sob o ponto de vista da resolução pública do assunto pelas unhas...

Esta conversa a modos que parva é para aqui chamada, porque dei por mim a ler com gosto o excelente artigo que o Luis Pedro Nunes escreveu no Expresso de Sábado passado, sobre esta moda adolescente e feminina do Bikini Bridge e do Thigh Gap.

Vejam aqui sff a explicação da sempre bem informada "globo.com":

Em meados de 2013 ganhou força nas redes sociais a luta contra  a moda do "thigh gap"que incentivava adolescentes do mundo inteiro a adotar um corpo excessivamente magro em busca do tal espacinho entre as coxas. Agora, no início de 2014, é usual na internet a busca pelo "bikini bridge": efeito que acontece quando os ossos dos quadris "levantam" a frente do biquíni, formando uma "ponte".

Na minha opinião - que vale o que vale - a existência da coçeira nas partes baixas das mulheres será o único  motivo suficiente para incentivar a procura destas modas corporais ligadas à magreza.

Com uma boa "ponte" chega a unha feminina onde deseja! E na presença de um amplo  espaço entre as côxas não haverá mulher que se acanhe na tarefa bem vinda de acalmar o prurido.

Resta aos homens, cuja anatomia não é propícia à existência destas coisas etéreas entre as pernas (et pour cause), continuarem a resolver o problema da coçeira testicular à moda antiga: com uma esferográfica BIC das finas, a quem tiraram a carga, judiciosamente metida entre os shorts e o...resto.

segunda-feira, fevereiro 10, 2014

Pequenas contrariedades

Um dos meus Amigos - empresário -   tinha alturas da vida em que tudo lhe parecia um bocado entupido, farto de aturar Clientes que refilavam por refilar e só pediam descontos, e Bancários armados em Banqueiros, sempre a fazerem-se difíceis para extorquir mais uns trocos. E a quem (ainda por cima) tinha de pagar almoços e jantares caros.

Por isso costumava dizer que, depois de tudo visto e analisado,  "Não há Cliente nem Bancário que não seja  uma Função Densidade de Probabilidade!"
(Lembram-se do "petit nom" que usavamos na faculdade para chamar estas?) 

E terminava o desabafo com um grito de alma: "Eu um dia ainda hei-de ser livre !!"

Pouca gente percebia porque é que um homem tão bem na vida, proprietário de várias casas, andares e empresas, quintas e quintinhas e que circulava com um  automóvel topo de gama  que mudava de dois em dois anos,  "não era livre" e ainda se queixava de quem lhe pagava os luxos e lhe emprestava o dinheiro para os investimentos...

Mas eu, que na altura era gestor de grandes contas (aturava os 50 maiores Clientes aqui da casa onde hoje ainda estou)  e por isso tinha também de almoçar algumas vezes por mês com pessoas que pouco ou nada me diziam, compreendia bem.

Nada é tão difícil de fazer como compor um grande sorriso e fazer a parte do anfitrião amável e desejoso de agradar quando nada , mesmo nada, nos "puxa" para o convívio com a pessoa em causa. Às vezes muito pelo contrário...

Ossos do ofício? Sim, mas não deixam de chatear. 

Tal como  a mim me chateia  ainda não ter posto o guardanapo no colo quando já um solícito empregado de mesa se apressa a inquirir se "está tudo bom?" , e se "estamos a gostar?".

Meu mestre Quitério  ia mandando um destes fogosos empregados passear quando este o interpelou também logo no início da refeição:

-"Está tudo óptimo?"
-"Oh Homem! Então eu ainda não meti à boca para ver se está razoável e de acordo com o que pedi, como pode estar óptimo??!! Olha que pôrra!!"

Uma proprietária de um restaurante (já encerrou, por isso estou à vontade para falar) onde às vezes costumávamos ir era mesmo chata... Perguntava com uma voz de cana rachada se "Estava gostosinho?" e se "as papinhas eram bem feitinhas ali na casinha dela?"

E o marido era quase igual... Esse, em vez de usar aquelas tiradas à bimba tinha outro defeito: quando a conversa entre os comensais o interessava, vinha para a cabeceira da mesa, punha as mãos em cima da dita e...não arredava dali até que pagassem a conta...
E  ia mandando bitaites sobre tudo o que ouvia!...

Coitado, que a terra lhe seja leve.

Porque é que aturávamos aquilo?  Era a gula amigos... Comia-se ali muito bem e o "jagunço" (como lhe chamavamos carinhosamente), quando ia para  a cozinha, no intervalo daquelas cenas macacas, sabia tratar por tu tachos e panelas. E tinha sempre os melhores vinhos, muitas vezes antes destes sairem para as prateleiras comerciais.

Para terminar, e  já que estamos "à mesa" e a falar da "pinga",  sempre lhes digo que me aborrece sobremaneira o serviço de vinhos de algumas casas. Nem deixam as garrafas nas mesas para o cliente se servir à vontade, nem têm um número de empregados de mesa suficientes para cumprir eficazmente com as funções de atendimento.

 Quando falo nestas coisas  vem-me  à memória o Senhor Manuel Pinto de Azevedo - grande republicano,  no seu tempo o maior contribuinte líquido português,  sócio do Banco Borges&Irmão e  da Companhia Portuguesa do Cobre, sócio de muitas das hidro-eléctricas acima do Vouga, director do jornal "1º de Janeiro" , dono da EFANOR ( a maior empresa têxtil do país), etc, etc...  - que quase todos os dias tinha mesa no célebre restaurante de luxo Escondidinho na cidade do Porto.

Nota: Ainda hoje existe e continua a servir bem, mas já sem a auréola dos outros tempos.

Um dia, já farto de esperar pela sua garrafa de tinto (normalmente bebia Sousão, da Quinta do Côtto) levantou-se e foi à mesa de apoio buscar o vinho.

Logo vieram dois empregados de mesa e o chefe de sala atrás dele a correr:

"- V. Exª, Sr. Director , por favor não se levante! Isto ainda não é uma tasca..."

E levaram logo com a resposta do Director do 1º de Janeiro:

"-Tasca não será por causa dos preços, mas o serviço é pior do que o de muitas tascas!"

E eu não o diria melhor...

sexta-feira, fevereiro 07, 2014

Para Descansar a Vista, hoje com sombras de verdades nuas e cruas

Acordei hoje mal disposto e sombrio (também tenho direito).

E a lembrar-me do "testamento" de Herberto Helder, escrito quando o grande poeta fez 83 anos.

Não pedirei desculpa pela crueza das palavras, porque elas não são minhas, que não tenho arte para tal.

Aqui fica no entanto um grito de alma de uma das mais importantes figuras da nossa cultura:


Irmãos humanos que depois de mim vivereis,
eu que fui obrigado a viver dobrados os oitenta,
fazei por acabar mais cedo vossos trabalhos cegos,
porque nestas idades já não nunca,
nem leituras embrumadas,
nem crenças, nem política das formas, nem poemas no futuro, nem
visitas extraterrestres de mulheres
exorbitantemente
nuas, cruas, sexuais, luminosas,

Só vê-las um pouco, sim, mas vê-las também cansa,
é como trabalhar: stanca,
lavorare stanca,
queríamos tanto acreditar no milagre isabelino do pão e das rosas,
e só tínhamos que perder a alma,
hoje talvez eu mesmo acreditasse melhor, mas foi-se tudo,
enfim esses jogos gerais, ao tempo que se esgotaram!

 Livros, je les aí lus tous, e como de costume a carne é insondável,
estou mais pobre do que ao comêço,
e o mundo é pequeníssimo, dá-se-lhe corda, dá-se uma volta,
meia volta, e já era,
irmãos futuros do gênio de Villon e do meu gênero baixo,
não peço piedade, apenas peço:

Não me esqueceis só a mim, esquecei a geração inteira,
inclitamente vergonhosa,
que em testamento vos deixou esta montanha de merda:
o mundo como vontade e representação que afinal é como era,
como há-de ser:

Alta,
alta montanha de merda — trepai por ela acima até à vertigem,
merda eminentíssima:
daqui se vêem os mistérios, os mesteres, os ministérios,
cada qual obrando a sua própria magia:
merda que há-de medrar melhor na memória do mundo.

Herberto Helder

Nota: o  desenho que ilustra o poema é de ERIKA KUHN

 

quinta-feira, fevereiro 06, 2014

Viram por aí algum Miró?

Esta tele-novela dos quadros de Miró teve pelo menos uma coisa boa: Muita gente em Portugal ficou a saber quem era o dito cujo!

Também ficámos a saber (em directo) que o Sr. PR gosta muito da sua pintura (o que me parece de bom tom  e de aplaudir).  Não disse o Sr. PR  foi mais nada quanto ao "resto"...

E ainda, para terminar, ficámos também a  saber ontem à noite  que os quadrinhos prestes a ser leiloados serão afinal "Património Nacional". Motivo pelo qual a sua saída do pátrio chão tem de ser acautelada e está legislada.Assim mesmo.

Sobre Joan Miró, o grande artista catalão,  podem ler aqui:

http://www.biografiasyvidas.com/biografia/m/miro.htm

E sobre este imbróglio do "tira do armazém, leva para Londres em mala diplomática, pôe à venda, olha que pôrra que me esqueci das autorizações, etc, etc..." não sei bem onde devem ir ler alguma coisa de jeito...

Uma coisa é certa: na TV o Sr. Secretário de Estado pareceu um pouco nervoso. E o que consta nos mentideros políticos de S. Bento é que afinal a culpa é todinha da Christie's!! Malvados!

O Governo teria comprado um pacote "chave na mão" e nesse sentido foi defraudado.

Tudo bem. Mas a acreditar nisso, o País está mesmo  a cair da boca aos cães...

Então uma empresa privada estrangeira já organiza  a mala diplomática de Lisboa para Londres?

"Mala", vírgula, "mala" é o que eu levo para 3 dias de trabalho em Berna! Aquilo seriam um ou dois contentores diplomáticos, para ser mais preciso!

Imaginem se em vez das telas eram 3 ou 4 cavalos de Alter??!! Ou a Torre de Belém, pedra a pedra transportada para algum dos Emiratos?

Vejo aqui uma grande oportunidade para rentabilizar o Ministério dos Negócios Estrangeiros!  Fazer dele uma empresa de transitários! 

 No fim de contas, a "transitar" lá para fora já nós estamos há muitos anos... Desde os tempos da "mala de cartão"  (mais uma mala, pôrra!).

Problemas informáticos

Tenho tido alguns problemas na ligação ao Blogger e na publicação de Posts.

Penso que estão resolvidos, mas se falhar algum destes dias, como aconteceu ontem, já sabem qual o motivo.

terça-feira, fevereiro 04, 2014

Eleições Europeias: As primeiras sondagens!

Leiam aqui este interessante artigo do semanário "Sol":

http://sol.sapo.pt/inicio/Politica/Interior.aspx?content_id=98258

E depois façam o contraponto com o Blog estimável do Pedro Magalhães, Margens de Erro:

http://www.pedro-magalhaes.org/margens-de-erro/

Que dizer disto tudo? 

Como sabem trabalhei nestes assuntos muitos anos, enquanto dava aulas no ISCTE de Estudos de Mercado e Sondagens. E fico assim com os olhos piscos e as pontas dos dedos ansiosas quando me permito escrever sobre estas matérias. É o chamado "bicho do ofício" a vir ao de cima, vício inescapável mesmo depois de quase 5 anos de pousio...

Mas deixando as reminiscências para trás da orelha, para já, o que me parece de realçar são três pontos:

 - A "subida" estimada dos Partidos no Poder prenuncia ventos fortes (para não dizer mesmo "borrasca") lá para os lados do Largo do Rato.
- Fazer Previsões sem saber ainda quem serão os candidatos parece um bocado côxo...
- E, por último, será que os votantes pensam na Europa como sendo o covil  da Troika, ou como sendo o lar dos Fundos que nos permitem ir vivendo? Nesta resposta estará - na minha opinião - a chave destas eleições.

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segunda-feira, fevereiro 03, 2014

A especialização passou de moda. Viva a generalização do "saber"!

O universo "bloguista" tem coisas engraçadas. Entre elas, passa hoje por ser o universo dos especialistas nas generalidades! Daqueles que opinam sobre tudo o que mexe. Seja cão, ave, lagarto ou alcabroz!  Será o triunfo  das criaturas que falam de tudo e sobre tudo dão palpites.

Mas é engraçado verificar que nos MCS mainstream também  muita gente parece "saber" de quase tudo - mania talvez começada pelo Dr. Nuno Rogeiro, que descorria sobre política nacional e internacional, balística e estratégia militar, intérpretes musicais e novos discos chegados ao mercado, filmes e livros, restaurantes e vinhos.

Nesta continuidade de raciocínio dei por mim a ler nos jornais de referência vários impetrantes a falar de comidas e bebidas sem que para tal exibissem outras credenciais a não ser aquelas que o comum dos mortais também ostenta: comem e bebem.

Alguns - como o sempre amigo Miguel Esteves Cardoso - têm graça. Embora a cultura anglo-saxónica  das suas origens o traia, como na edição da Fugas deste sábado, onde, aqui em Portugal, aconselhava uma receita para comer salmão... E  do mal o menos , que poderia ser carpa...

Meu mestre Quitério e o David de boníssima e saudosa memória, passavam a vida a ler e a estudar. A provar e a discutir as práticas com os melhores cozinheiros. Dissecavam as receitas, procuravam as incongruências, iam atrás na história para encontrar antecedentes, etc, etc... E a Dona Maria de Lourdes Modesto fazia  o mesmo , todos os dias. Porventura numa vertente mais prática , em frente aos fogões.

Depois de conviver com a Fátima Moura e de ler os livros do Fortunato da Câmara  entendo que esta nova geração de estudiosos do tema está muito bem lançada.  Obviamente que também na vereda do honesto estudo e do trabalho árduo.  Deixem-nos brilhar e dêm-lhes tempo e dinheiro (invistam neles!) para todos ganharmos com isso.

Agora, diletantes - onde me incluo - a dar bocas sobre estas coisas tão sérias só se admitem na óptica do "utilizador", daquela criatura que, de guardanapo entalado (ou não) e de talheres na mão, dirá depois de provar o que achou da festança. E aqui, no veredicto da prova gustativa, olfativa e estética, entendo também que é quem paga e é "o" cliente que pode e deve falar.

Feitas estas contas iniciais  e dado que o Homem é por sua natureza volátil , incerto, inconstante e volúvel, não me irei embora sem deixar aqui ficar mais uma receita do meu cardápio.

Não lhe chamarei "Tabuleiro de Carne à Preguiçoso" porque era um plágio descarado do MEC. Mas aqui fica o "Tabuleiro de Carne à Minha Moda".

E com muita sorte estão por hoje não me pôr aqui a falar também da Síria e das últimas sondagens para as Europeias aqui em Portugal (ficam para amanhã).

Tabuleiro de Cachaço de Porco no forno

Para 4 Pessoas: 1,8  kg de cachaço de porco, 2 alheiras de Vinhais, 12 batatas médias cortadas em cubos, cebola, louro,  salsa, alho, sal e massa de pimentão q.b. Um copo de Vinho branco e dois bons golpes de Azeite. Pimenta preta moída na altura ou malagueta ( a gosto)

Peçam no talho 1,8 kg de cachaço cortado como se fosse para rojões. Temperem de véspera com alho, massa de pimentão, salsa, vinho branco  e louro. Não deitem sal de véspera  que secam a carne.

Num fundo de um tabuleiro de ir ao forno coloquem azeite do melhor e por cima desfaçam o interior de duas alheiras de boa qualidade, em crú, às quais tiraram a pele.  Depois ponham uma cebola e meia  picada fina, uma mão cheia de sal marinho e alho também picado. Com uma colher de pau misturem bem  tudo.

Deitem as batatas cortadas  e os  bocados  do cachaço com todo o tempero  da véspera e voltem a misturar bem com o que está no  fundo do tabuleiro. Depois de tudo bem misturado em crú deitem pimenta preta (ou malagueta) a gosto, moída na altura , e mais um bom golpe de azeite por cima.

Vai ao forno quente por cerca de 2 horas, tendo o cuidado de ir virando as batatas com um garfo  grande, para que o conteúdo asse de forma uniforme e fique bem louro por cima.

Logo antes de ir para a mesa polvilhem com  salsa cortada.

Podem acompanhar com um tinto novo e vigoroso, com taninos ainda bem evidentes. Porque não um Bairrada Quinta da Dona 2009?