domingo, março 31, 2013

Crónicas da Serra 4 - Almoço de Páscoa

Nunca vi uma horta e uns lameiros tão encharcados como nesta altura do ano, aqui para cima. Não se aproveita nada. O que havia na terra apodreceu e ainda não é possível plantar mais nada.

Arre, pôrra e chiça que a chuva não há meio de parar!

Desta forma lá tive de dizer adeus às costumeiras “ervas” , o esparregado grosso feito com as nossas nabiças e houve que inventar…

Como a salada ainda não apetece com este tempo ( e só a temos embalada) vou acompanhar o cabrito com uns bróculos (de compra também, não há milagres) salteados. Cozem-se em água e sal, tendo o cuidado de deixar os troncos ainda rijitos, depois partem-se aos bocados pequenos e vão a saltear com azeite e alho.

E com batatas fritas porque os 4,5 kg do cabrito ocuparam o forno por inteiro. Não há espaço para assar batatas.

Mas posso e devo fazer um arroz com os miúdos, mesmo que não o seque no forno como aprecio mais.
Receitas de Cabrito e Arroz de forno (do mesmo)  estão já em Posts anteriores, assim como a do Esparregado grosso da Beira Alta.

Acabei agora de meter o “bicho” ao lume, depois de ter ficado ontem temperado com o alho, pimentão doce, sal e vinho branco, e ainda com uma folhinha de louro. Depois , hoje de manhã, deitei uma cebola às rodelas finas e salsa.

Gordura para assar é só um fiozinho de azeite.

Não se esqueçam que o cabrito quer-se assado e não guisado ou cozido no forno em molho demasiado abundante! Por isso atenção à cebola e ao azeite que lhe deitarem: nem de mais nem de menos (para não secar).
Agora é esperar as 2 horitas do costume e ter o cuidado de ir virando e provando o molho.

Entretanto fui ao “Museu” que cá tenho em cima buscar 2 garrafas de tinto do Douro de 1997, Quinta da Silveira. Vamos lá a ver se ainda se deixam beber…

Para sobremesa um esplendoroso Queijo da Serra do Sr. João, o pastor da Aldeia da Serra que arrenda o nosso pasto e paga em queijos e borregos.

E para remate do almoço de Páscoa, o tradicional leite creme queimado da Beira Alta!
Para resultar em pleno é importante manter boas relações com os Pastores, e assim podermos garantir um ou dois litros de leite de ovelha para usar...

Aqui vai a Receita da minha "santa" cá de cima:

1 litro de leite de ovelha (caso não haja usem leite de vaca completo); casca de 1 limão; 1 pau de canela; 200g de açúcar ; 60g de farinha; 6 gemas batidas.

Fervam o leite com a casca de limão e o pau de canela.
Num tacho, misturem o açúcar e a farinha e acrescentem a pouco e pouco o leite fervido até envolver toda a mistura que, mexendo sempre, deverá voltar ao lume para ferver até engrossar.
Adicionem lentamente  as gemas batidas ao creme, e levem de novo ao lume, apenas uns 2 minutos para cozer as gemas mas sem nunca deixar de bater.
Coloquem o leite-creme numa travessa e, depois de arrefecido, espalhem por cima um pouco de açucar e queimem-no com uma "ferramenta"  de ferro que fica entretanto a aquecer ao lume..

Bom Proveito!

Crónicas da Serra 3: A Páscoa

 Nesta Páscoa pingada que baste dei por mim a pensar no antigo e verdadeiro significado da palavra: Passagem. Passagem cíclica das estações do ano, início do novo ano agrícola, esperança de vida e de renascimento (das sementes, das crias) depois de um Inverno mais ou menos rigoroso.

Esta Passagem (passover) era festival antiquíssimo de Judeus, comemorando a fuga do Egito, mas também de gentios, ligada a cultos de Primavera e de fertilidade, ritual de ligação entre os homens e a divindade de forma a garantir que  a capacidade geradora dos campos  e dos animais se mantinha após o Inverno.

Foi  aproximadamente 200 anos depois da morte de Cristo que a Igreja Católica Romana fez prevalecer a moderna noção de Páscoa, mesmo que com a oposição das igrejas orientais, que desejariam continuar a manter os seus ritos da “Passagem”.

Vejam aqui sff:

There is no indication of the observance of the Easter festival in the New Testament, or in the writings of the Apostolic Fathers… The first Christians continued the observance of the Jewish [God’s] festivals, though in a new spirit, as commemorations of events which those festivals had foreshadowed,” (Encyclopaedia Britannica, 11th edition, p.828).

“Neither the apostles, therefore nor the Gospels, have anywhere imposed…Easter…The Savior and His apostles have enjoined us by no law to keep this feast [Easter]…And that the observance originated not by legislation [of the apostles], but as a custom the facts themselves indicate” (fourth century scholar, Socrates Scholasticus, Ecclesiastical History, chapter 22).

O cordeiro tradicionalmente comido na Páscoa cristã também já o era no "Passover" (Pesach) judeu, aqui comido de pé e temperado apenas com ervas, acompanhado de pão ázimo, para representar a pressa da viagem e os muitos cuidados que os antepassados tinham sofrido antes de chegar à Terra Prometida.

De Sábado de Aleluia para Domingo de Páscoa a liturgia católica atual manda o crente refletir sobre a Esperança. Depois das trevas de Sexta Feira Santa espera-se, anseia-se, pelas novas de alegria sobre a Ressurreição. Mas no Sábado de Aleluia esta ainda não existe, apenas se perfila no horizonte a “esperança” de que aconteça.

Não encontro melhor imagem para deixar aos meus amigos aqui do Blog, neste dia de Páscoa, do que esta mesmo: Tenham Esperança!

sábado, março 30, 2013

Crónicas da Serra 2 - Interlúdio circense

Peço licença para fazer aqui um intervalo nos relatos das nossas pequenas aventuras de tachos, panelas, tintos e brancos, para falar do assunto mais mediático desta Páscoa: O regresso do Emigrante!
Deixámos a gravar a entrevista do Ex-Primeiro Ministro e futuro o que há-de ser, se o deixarem, caso ele queira.

Como estávamos em casa de Amigos a celebrar um aniversário – logo 69 anos, pôrra! Que data tão bonita! – e depois era altura de nos pirarmos para Serra, ainda não houve oportunidade de ver a “performance” para ajuizar.
Para alguns foi uma Revelação! Para outros um número de Circo. E eu fico sem meios para poder opinar com conhecimento direto de causa.

Mas compra-se o Expresso , compra-se o Público, vêem-se os comentários nas TV’s, e alguma ideia do que se passou começa a ficar no espírito destes serranos por afinidade.
Que o Homem tem raça e destreza política, faro para aproveitar as fraquezas dos adversários e enorme capacidade verbal, isso já todos sabíamos… Agora, por outro lado  também sabíamos que era um visionário convencidíssimo da sua própria verdade e ignorando sobranceiramente a verdade dos outros.

E parece que o Homem Sócrates não defraudou ninguém. Nem quem o chora nem quem o quer ver longe daqui (para não dizer pior).

De facto parece que veio dessas Parises tal e qual como partiu: Artista de gabarito no palco, Narcisista que baste, Manipulador de acontecimentos passados, Senhor da “sua” Verdade (que não é exatamente a Verdade dos outros).

Mesmo que não tenha visto a entrevista toda, eu juraria que se traçássemos um gráfico com as afirmações daquela entrevista  que são Verdade mesmo e as que são produto de uma imaginação, digamos, mais criativa da personalidade em causa,  daria uma  distribuição assimétrica mais para a esquerda…Mais inclinada para a fantasia. Mas sem deixar de ter muitas Verdades também!

Está claro que um bom mentiroso – na esfera social ou na privada - tem sempre duas armas letais que o tornam muito perigoso:
a)       Misturar na mesma argumentação, às vezes na mesma frase, a verdade com a mentira.
b)     Estar genuinamente convencido, acreditando mesmo a sério, que as suas mentiras são a Verdade nua e crua. A essa condição chama-se “Mentiroso Patológico”.

E José Sócrates  não só tem essas duas caraterísticas como , para além disso, é mestre na arte política do “engano sedoso”…  Fininho, fininho, sem dar muito alarde, lá vai levando a água ao seu moinho.

Para mais detalhes sobre estas patologias e sua influência na Política, leiam este artigo de um respeitado Blogger norte-americano:

http://drsanity.blogspot.pt/2009/05/narcissism-pathological-lying-and.html

Como será ter um José Sócrates na sua melhor (ou pior ) forma, todas as semanas na TV a botar comentário?
Bem, muito pior do que ter 4 Ex-Presidentes do PSD e um Ex-Primeiro Ministro, também ele da mesma área ( Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes, Manuela Ferreira Leite e Pedro Santana Lopes)a fazer exatamente a mesma coisa não há-de ser… Talvez pelo contrário.

É que , em relação a isso pelo menos, temos que concordar com o “emigrante filósofo”: haveria falta de “contraditório” no comentário político arvorado das TV’s em Portugal, quase todo ele enfeudado ao PSD\CDS.

Mas se assim era e ainda  é, porque raio teria o Relvas consentido e aprovado o convite da RTP ao "regressado"??!!

António José Seguro, amigo, eu  ia sem demoras ter com alguma bruxa e  comprar um (ou dois) amuletos… E já que lá estava, trazia também uns baraços de alhos secos para a entrada de tua casa.

E Ferraduras para o carro, já tens?

Olha que Patas de Coelho são também eficazes, segundo dizem os entendidos. Tem é cuidado na escolha  do local onde as vais arranjar …Temos S. Bento aqui tão perto (he, he, he)!

sexta-feira, março 29, 2013

Crónicas da Serra 1

Com Temporal aqui na mais alta as vistas são necessariamente limitadas. Não é que esteja frio. Estarão para aí 6 ou 7 graus, mas o maior problema é a chuva batida a vento que não pára de cair há já seis meses seguidos, ensopando tudo, e nem as terras já a podem receber com vantagem para o futuro.

Sexta Feira Santa é dia magro. Vamos cozer uma garoupa, com suas ovas e espigos de couve (o que se aproveitou aqui na quinta entre a inundação contínua da horta). Nunca me esqueço de uma manitas de grão de bico e obviamente das boas batatas amarelas aqui da quinta.

Ontem tivemos a icónica feijoca com pé de porco ao almoço, e para jantar nada (ou quase) : queijo da serra, uns nicos de paio e presunto aqui de cima, mais alguns enchidos que trouxe da viagem a Ourique. O Pão era de centeio do Sabugueiro.

O Cabrito para o Domingo de Páscoa comprei-o em Oliveira de Azeméis, aproveitando a deslocação a Vale de Cambra. São quatro kg e meio de boa carne para assar no nosso forno.

E já ontem de tarde aproveitei duas horitas de lazer para ir ao Centro de Estudos de Nelas comprar vinho branco e tinto , o branco de 2010 está excelente e o tinto de 2005 ainda se recomenda. E, por cerca de 3,5 euritos cada garrafa, o que é que querem mais? Só se for a sarna para se coçarem ...

Vamos falando aqui com a família sobre estas andanças novas, sobretudo àcerca do regresso do "comilãozito" - que é como aqui a malta chama ao Sócrates, Por enquanto ainda não encontrei ninguém que achasse graça ao "regresso do filósofo emigrante".

A vida começa a ser difícil de se suportar para velhos e pensionistas aflitos e sempre à espreita do que lhes pode ainda acontecer amanhã. E se pensarmos que muitos deles já têm de ajudar  filhos desempregados e netos a estudar, ainda mais complicada a situação se torna.

Ala agora para Gouveia comprar os jornais e o pão para o almoço.

terça-feira, março 26, 2013

Amanhã em Vale de Cambra e a Páscoa na Serra



Comemorando o centenário dos serviços postais em Vale de Cambra (mais corretamente seriam comemorados  na anterior povoação de Gândara , hoje já não existente) vou deslocar-me a essa cidade  para lançar um Carimbo comemorativo e falar com os colegas e filatelistas da região.

Por isso não apareço por aqui. E como logo depois parto para a Beira Alta, esperem pelas "Crónicas da Serra" a partir de Sexta Feira Santa!

Postas de Pescada e outras futeboladas

Ainda mal refeito de uma admirável lampreia  de ontem à noite no estimável Beira Mar -  provavelmente a última deste ano, porque quero sair deste campeonato com as melhores recordações - ouvi hoje pela TSF que Pinto da Costa e Paulo Bento teriam trocado epítetos gastronómicos a propósito daquela sombria exibição da Seleção contra Israel.

"Debitar Postas de Pescada" foi a expressão utilizada para classificar as tiradas presidenciais nortenhas , expressão chã e proletária que no seu natural devia ser "arrotar postas de pescada", significando "armar-se em rico", "pavonear-se", "gabar-se de uma coisa que não se possui".

Bento não é de modas e a farpear pede meças ao falecido Manuel dos Santos! E Olé! Corta rabo e orelha!

Nada tenho contra as postas de pescada (embora, como já sabem, prefira as cabeças). Trata-se de um peixe admirável mas caprichoso e delicado, sendo fundamental que chegue ao prato e à mesa sem mancha de "amolgadela" durante o percurso que atravessou desde que foi mesmo "pescada" até que entrou nas nossas cozinhas. 

É que não há "arrepio" de sal a contracorrente da escama que se aguente com amassos naquela  carninha branca de neve...

A pescada do anzol normalmente sofre menos destes apertões do que a sua companheira capturada no arrasto, motivo pelo qual o respetivo preço costuma ser mais alto... Tão "mais alto" que até justifica que os engenhosos peixeiros (alguns) pendurem nas ventas das pescadas "arrastadas" um anzolzito ou dois, para enganar os "gringos" que se abastecem nos mercados...

O meu Senhorio detesta Pescada, o que me impede de a comprar com frequência. Desta forma,  quando quero matar as saudades de uma bela cabeça  da dita com batata nova cozida com a pele, feijão verde tenrinho, chalotas pequeninas  e uma ou duas manitas de grão de bico, é mister ir por algum restaurante que saiba como tratar a "bicha" e respeite os canones da sua confeção.

Uma dica: procurem nos restaurantes que servem Filetes de Pescada (de peixe fresco, obviamente!!). Como a cabeça e o rabo não se filetam, normalmente nesses restaurantes pode-se comer (ou encomendar para o dia da desmancha dos lombos) umas belas cabecinhas, simplesmente  cozidas ou  então estaladas no forno com azeite e alho (a outra forma de consumir cabeças que eu mais aprecio depois da cozedura simples).

Acresce que para serem bons filetes a pescada tem de ser de tamanho considerável, o que só aproveita ainda mais aos amantes das "cabeças".

No meio deste entusiasmo tomem nota dos locais onde ainda se pode ir atrás deste petisco: Beira Mar (sempre!). Funil e Polícia (às vezes, mas apostam agora mais no Cherne e na Garoupa). Tia Matilde e Solar (às vezes também).

Voltando ao Futebol, hoje que é dia da Seleção provar que sabe fazer melhor do que fez  em Tel-Aviv (o que não será difícil) , fica aqui um abraço de boa sorte a toda a malta lusa em Baku, e dois beijos (como é moda local) ao meu amigo e colega  da AzerMarka do Azerbeijão (empresa que trata da Filatelia desse país), o  qual nos costumava receber com baldes de caviar e vodka, como desculpa de "não ter mais nada para nos dar"...

Ora essa Amigo! Quem dá o que tem,  a mais não é obrigado!

segunda-feira, março 25, 2013

O Chipre é já ali na Caparica malta!

Quem sabe de certeza certa  que as coisas más só acontecem aos outros que vivem  longe do nosso "jardim", sabedoria essa porventura ancorada pelo passado, pela propaganda  àcerca do "escudo invisível" que o super-herói Oliveira Salazar tinha estendido sobre a Nação Lusa durante a 2ª Guerra Mundial, deve repensar as suas ideias. E rapidamente.

Vem à memória aquela anedota atribuída a Brecht, segundo a qual  (e mais ou menos cito de cor) : Quando o vizinho viu (na Alemanha Nazi) virem as SS prender os Judeus, assobiou para o lado porque não era Judeu. Quando viu deportarem os ciganos, calou-se porque não era cigano. Quando deu conta que lhe cortavam a ele mesmo as liberdades essenciais, já era demasiado tarde para protestar...

A crise imediata sobre o Chipre parece ter sido resolvida in extremis.
Leiam aqui sff:

http://www.nytimes.com/2013/03/25/business/global/cyprus-and-europe-officials-agree-on-outlines-of-a-bailout.html?emc=na

 

Mas o certo é que este episódio incrível   nos deve ensinar alguma coisa.

a) Por um lado, é que não estamos a salvo de nada. Ninguém, nesta Europa que já não existe como bloco político ou económico, estará a salvo de alguma indigestão que aconteça lá para os lados de Bona. Se quando a América se constipava a Europa adoecia, neste momento bastará a Srª Alemanha ficar ligeiramente obstipada de tanta choucoute para que os países do Sul tenham de encarar alguma colonoscopia  com urgência...

b) E por outro lado, constata-se que quem deixámos  que mandasse neste pequeno mundo não tem categoria para tal. Foi quase grotesca a forma como as cabecinhas pensadoras europeias se deixaram arrastar por um caminho que só destruiria a confiança geral no sistema bancário. E, exceto o Luxemburgo, que se doeu ele também com as dores cipriotas, parece que as outras ovelhas foram todas a fazer "mé-mé" para o lado da pastora tedesca, com medo do cajado.

Não é que os bancos sejam flores que se cheirem nestes tempos de golpes e contragolpes ao incauto cidadão. Mas se nem lá  pudermos depositar os trocos com alguma segurança, onde o devemos fazer? Dentro de um vaso no quintal?

E quando quem manda avisa  que se deve travar o consumo de todas as formas (ideia  que eu repudio, como sabem) , este susto que se pregou ao dinheiro poupado não é uma espécie de grito geral:  "Às compras Camaradas! Porque aquilo que se comprar hoje já ninguém nos tira amanhã!"??!!

Que raio de mundo estranho é este que tem de ser observado por uns óculos de cristal da Boémia para poder ser entendido...

sexta-feira, março 22, 2013

Para Descansar a Vista

Hoje dedico este Post a alguns dos meus Amigos do Douro e do Sul e às suas constantes lamentações sobre a Seca...

Sim, a SECA! Apesar de ter chovido que se fartou para alguns dos lados (sobretudo no alcatrão, o que pouco aproveita, a não ser aos bate-chapas) parece que noutros locais a chuvinha ainda não foi suficiente para "repor os níveis".... Vejam aqui sff:

Nota: Situação das Albufeiras em Fevereiro de 2013
 
No último dia do mês de Fevereiro de 2013 e comparativamente ao último dia do mês anterior verificou-se um aumento do volume armazenado em 8 bacias hidrográficas e uma descida em 4.
Das 60 albufeiras monitorizadas, 28 apresentam disponibilidades hídricas superiores a 80% do volume total e 2 têm disponibilidades inferiores a 40% do volume total.
Os armazenamentos de Fevereiro de 2013 por bacia hidrográfica apresentam-se superiores às médias de armazenamento de Fevereiro (1990/91 a 2011/12), excepto para as bacias do DOURO e RIBEIRAS DO ALGARVE.

Por esse motivo e - sabido como a água faz falta às couves e outras culturas - pedimos aos céus que ainda vão pingando pela Primavera adentro e até um pouco mais. Excepto  no final do Verão, está claro!  (pois as Vindimas querem-se secas, sequíssimas senhores!)

Tendo tudo isto em vista e apesar do que parecerá aqui pelas cidades, cá vai poema ainda outonal, como que a chamar a chuva para os campos. De Cecília Meireles um soneto admirável:

A Chuva Chove

A chuva chove mansamente ... como um sono
Que tranqüilize, pacifique, resserene ...
A chuva chove mansamente ... Que abandono!
A chuva é a música de um poema de Verlaine ...


E vem-me o sonho de uma véspera solene,
Em certo paço, já sem data e já sem dono ...
Véspera triste como a noite, que envenene
A alma, evocando coisas líricas de outono ...


... Num velho paço, muito longe, em terra estranha,
Com muita névoa pelos ombros da montanha ...
Paço de imensos corredores espectrais,


Onde murmurem velhos órgãos árias mortas,
Enquanto o vento, estrepitando pelas portas,
Revira in-fólios, cancioneiros e missais ...


Cecília Meireles

quinta-feira, março 21, 2013

Dia Mundial da Poesia no anunciado Regresso do "Filósofo"? Ora Toma!!

Neste Dia Mundial da Poesia, que também é um dia em se comemora o Zé Povinho de Rafael Bordalo,  soubemos pelo circunspecto Diário de Notícias que José Sócrates ( e cito):

"Voltaria à vida política como Comentador,  através de um programa de TV não remunerado, de 25 minutos, a passar depois do Jornal das 20.00h, na Televisão estatal (RTP)."

O meu comentário a esta notícia, no dia de hoje, só pode ser poema e caricatura.  Começo por  Fernando Pessoa,  publicado na Revista "Presença" em 1931 (ou por aí) :

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

 E os que lêem o que escreve,
 Na dor lida sentem bem,
 Não as duas que ele teve,
 Mas só a que eles não têm.

 E assim nas calhas de roda
 Gira, a entreter a razão,
  Esse comboio de corda
  Que se chama coração

E passo à caricatura:


Na minha humilde opinião, deve a Sorbonne (que muito respeito) encarar a hipótese de oferecer colocação ao Homem.

Mesmo na atual situação de penúria tenho a certeza que se conseguiam reunir boas vontades suficientes aqui no burgo para lhe pagar a "agregação", desde que se mantenha o "bicho" afastado das pessoas...

Ora se a Criatura até trabalharia de borla... Que esperam Professores da Sorbonne? Abram já uma nova cadeira no curso de Filosofia Moderna: Les Déçus de la Politique.
Para sempre! (acrescento eu à laia de desejo subliminar).

quarta-feira, março 20, 2013

A Felicidade de um Pai (ou de dois...)

Hoje é o Dia Internacional da Felicidade. Ontem foi o Dia do Pai.

Importa pois fazer uma reflexão séria (acho eu) sobre estas duas vertentes da atualidade: Ser Pai e ser Feliz!

Quando é que um Pai é Feliz? Será feliz nas mesmas circunstâncias que um Avô, uma Mãe, uma Tia, um Vizinho mais chegado, um cão que se passeia  lá em casa, um periquito na janela da Prima, etc, etc...

É-se Feliz quando estamos bem connosco e com os outros (exceto com o Gaspar & Cia) .

No meu caso a felicidade tem evoluído. Passou das coisas mais mundanas e ligadas à terra (os chamados prazeres da carne) para certos devaneios mais espirituais.

Nestes últimos incluo os prazeres  dos animais voadores, como a perdiz e a galinhola. Bacalhau seco também - dada a conhecida aparência da alimária com S. João Batista após uns meses de pregação no deserto. 

E a discussão leva-nos inevitavelmente por Santo António e seu Sermão aos Peixes, mais tarde revisitado por António Vieira. Se Santo António e o  Padre António Vieira se dirigiam aos peixes, quem sou eu para me afastar dos mesmos , espiritualmente falando?

Não amigos. Nunca o poderia fazer. Venham a mim as Pescadas do alto, as Garoupas e uma ou outra cabeça de Cherne, sem esquecer os Pregados e Salmonetes. Bruxas e percebes, o que serão eles senão filhos das brumas e da maresia? Autênticos crentes agarrados às rochas, como o Bispo Tadeu (da oposição) agarrado ao dinheirito da dízima...


Mas  voltando ao ponto como comecei esta charla (que depois se perdeu com moralidades)  hoje em dia dou muito mais importância àquilo que faço e quando o faço.

Nos meus 20 anos era "feliz" por todo o lado e quase que a toda a hora... Na cama, no soalho, na mesa do escritório, por detrás da cortina da banheira,  em cima de uns fardos de palha a tresandar a cavalo, lá na Marinha.

Agora, quase a bater nos 60, tendo cada vez mais em atenção a situação da coluna e suas vértebras (bem como a ciática), é mister ter mais cuidado e escolher bem as superfícies.

Para já não falar da aborrecida questão do intervalo  conhecido como "período refractário", o qual deve ter sido inventado por Belzebú ou melhor, pela filha da p*** da Merkl , para punir os sulistas, cipriotas e outros ilhéus à medida que vão gastando mais aos Serviços Nacionais de Saúde!

Felicidade o que  és tu hoje? 

Ter emprego!!  Uma cumplicidade pelo sofá de estimação. Um bom filme à frente dos "progressivos". Um copito de Lagavullin numa mão. Som e video de qualidade em casa. Um belo almoço entre Amigos, de quando em vez. Um colchão que nos acolha sem sobressaltos e que - vá lá, vá lá, em caso de necessidade remota - ainda tenha molas  à altura das circunstâncias. Saúde e algum Dinheiro para trocos...

E pronto. Teoricamente ser Pai e ser Feliz não custaria assim tanto. O pior é ter que o  ser neste mundo onde hoje somos obrigados a viver.

terça-feira, março 19, 2013

Em Ourique

Tudo se encaminha para que, apesar da crise que muito comilou nas boas vontades dos pretensos patrocinadores,  haja Congresso e hajam Presuntos!
Habemus Porcus! (salvo seja, caraças!)
A 28 Maio começará em Ourique o VII Congresso Mundial do Presunto, com 400 congressistas esperados de tudo quanto é terra onde se "presunte" a perna do porco.  Da  Floresta Negra saxónica até à Nova Inglaterra colonial, sem esquecer Parma, Jabugo ou York na ilha das brumas.

Antes disso a "malta" alentejana treina que se farta para honrar dignamente o grande evento de Maio.. O treino já neste mês de Março - 22, 23 e 24 de Março - consiste na Feira do Porco Alentejano 2013.
De entre as iniciativas notáveis desta feira destaco o "workshop de corte de presunto". Quis-me inscrever neste, mas parece que quem corta não come, pelo que desisti...
Haverá ainda um "Presunto de Honra" a abrir a feira às 18,30h do dia 22 Março, e os já famosos concursos de "Miss Piggy" e de "Grunhidos"  na tarde de 24 Março.
Até à hora de fecho deste Blog fiquei sem saber se as Miss Piggys a concurso seriam mesmo porcas ou não...Quanto aos Grunhidos está esclarecido que se trata de imitações. Tendo nós o Luiz reformado nem sei quem lá deveria ir salvar a honra deste convento...Talvez o Zé "Medina" Laia...
Em relação às coisas sérias: Almoçámos no sempre garantido "Novo Coimbra",   que agora fecha às 3as Feiras! Carne de luxo e enchidos à maneira (ou melhor, "à Manêra").
Ponto menos positivo somente aquela sensação estranha de um gajo estar no meio do Alentejo profundo a comer "Posta Mirandesa"... Mas como já se come pastel de nata  nos Emiratos...
A tudo se habitua um portuga!
Nota Final: Convém é não nos baixarmos ainda mais, se não ainda nos confundem com algum cipriota! Da-se!

sexta-feira, março 15, 2013

Na Segunda vou a Ourique

E por isso não passo por cá.

Reunião na Câmara Municipal de Ourique para saber o "estado da arte" dos trabalhos sobre o Congresso Mundial do Presunto...

Depois conto as novidades.

Para Descansar a Vista

Hoje, dia 15 de Março, é Dia Mundial do Consumidor e Dia Mundial do Sono...Também é hoje o dia em que o Sr. Ministro Gaspar vai ler do alto do seu púlpito as conclusões do último exame da Troika, o qual tardou a sair do ventre materno quase tanto como vitelo  que se apresente pelas nádegas...

E parto difícil para todas as nossas esperanças é o que se espera  também destas palavras de Gaspar.

Desta forma o assunto ideal para o poema das Sextas Feiras poderia ser : O Consumidor com Sono já não ouve Gaspar!

Ou então: Gaspar tira o Sono a todos os Consumidores! (porventura mais realista).

Na dificuldade em localizar semelhante poema, aqui vos deixo em substituição , da grande Fernanda de Castro: Silêncio, Nostalgia. Leiam e vejam lá se não tem a ver com alguns de nós  (com todos?)

Silêncio, Nostalgia...

Silêncio, nostalgia...
Hora morta, desfolhada,
sem dor, sem alegria,
pelo tempo abandonada.

Luz de Outono, fria, fria...
Hora inútil e sombria
de abandono.
Não sei se é tédio, sono,
silêncio ou nostalgia.

Interminável dia
de indizíveis cansaços,
de funda melancolia.
Sem rumo para os meus passos,
para que servem meus braços,
nesta hora fria, fria?

Fernanda de Castro, in "Trinta e Nove Poemas"

quinta-feira, março 14, 2013

De Assis ou Xavier?

Habemus Papam! É o Francisco (salvo seja!). Mas qual deles?

O "polverello"  de Assis ou o Apóstolo das Índias?

O nosso novo Papa é Jesuíta e S. Francisco Xavier também o era...Mas a invocação dos "inimigos" franciscanos na pessoa do mais amado Santo da Igreja também é possível e, se calhar, desejada nestes tempos conturbados. Só ele Francisco I o pode confirmar.

Francisco I já tivémos um  na história de França (1494-1547) nasceu em Cognac (belo prenúncio!) e morreu em Paris . Entre outras coisas é conhecido por ter iniciado a construção do que depois foi o Louvre, ter sido amigo e mecenas de Leonardo da Vinci e ter fundado a Imprimerie National de France.

Este novo Francisco I , Papa, começou bem (acho eu). Simpático e simples ao dirigir-se ao povo da Praça de S. Pedro. Começou com uma graça sobre a sua origem e acabou mandando a malta dormir que eram horas.

Para mim - que fui educado nos Salesianos e gosto de uma boa intriga de paramentos e batinas - deu-me um gozo do caraças ver finalmente os Jesuitas darem uma abada à Opus Dei...

Toma lá Escrivá que é para veres se gostas! 

E os velhos do Restelo da Cúria devem estar um pouco alarmados também com estas "modernices"...No fim de contas a Companhia de Jesus sempre foi berço de várias almas inquietas - filósofos e cientistas, grandes pensadores e teólogos.  

Por isso se dizia em Roma que "eram demasiado inteligentes para serem papas"...   

E agora? A vingança de Teillard de Chardin?  Deixemos passar a inteligência e a cultura mais liberais e vamos ver no que tudo isto vai dar.

quarta-feira, março 13, 2013

As Exceções

Sabe-nos bem encontrar um restaurante onde a famigerada crise não se sente. Pelo menos durante os almoços, que é quando frequento as mangedouras citadinas.

Restaurantes a precisar de reserva? Nestes dias? Ainda os há em Lisboa. A lista dos que conheço e estão sempre cheios é curta: Solar dos Presuntos (o mais notável, por sentar quase 300 pessoas!) ,  a Adega da Tia Matilde, o Galito, a Horta dos Brunos.

Sendo que nestes dois últimos estranhamos menos a ocupação, por serem mais limitados em mesas e cadeiras.

Todos servem muito bem. Todos têm atrativos e idiosincrisias distintas.

Os preços não são escandalosamente caros, longe disso! Mas também garanto que não é por serem "barateiros" que estão cheios!

Falamos de preços médios a rondarem os 30€ a 40€ por cabeça sendo os clientes contidos nos vinhos.

Não estamos a falar de mais de 100€ (e com vinho a copo!!) por cidadão sentante na atual coqueluche dos Miquelinos em Lisboa, o Bel Canto de José Avillez ( que, aliás,  é muito bom nesse registo gaulês que amam os inspetores do dito Guide Michelin).

Então porque será?

Já diziam os antigos que mais vale cair em graça do que ser engraçado...  Mas ninguém de bom senso acreditará que é apenas fruto do acaso.

Para mim trata-se de um conjunto de caraterísticas: preço médio, clientela fiel, bom serviço e bom produto, excelente cozinha, cave de vinhos sempre com as últimas novidades e a preços contidos.E ainda, muito importante para este tipo de clientes da classe média (moribunda embora):  Pratos de "tacho" todos os dias. E vários por dia!

Perguntarão alguns : mas porque é que outros restaurantes do mesmo género e que apostam nas mesmas variáveis falham?

Resposta: podem falhar pelas coisas mais estranhas. Por exemplo, pela falta de estacionamento à porta... Ou pela aposta em formas de trabalhar quase que exclusivamente baseadas em materiais nobres e cada vez mais caros, como o peixe e marisco frescos de alta gama. Ou ainda pela limitação da oferta das cartas de vinhos e majoração do respetivo preço . Este  "pormenor" hoje em dia parece uma lepra, alastrando a muitos restaurantes a outro títulos recomendáveis.

A solução pode estar na procura de vinhos agradáveis e a preços mais convidativos, todos Colheitas e de anos recomendados pelos especialistas: D. Rafael , Piteira Escolha de Virgílio Loureiro, Crasto , Bons Ares, Meandro , Quinta de La Rosa , Passadouro , e etc... como aqui já várias vezes escrevi.

Quem se limitar a tentar impingir aos Clientes o que tem na cave há anos, sem mais, arrisca-se a que a clientela vá pastar para outros prados.

terça-feira, março 12, 2013

Jesus Catedrático! E outras notícias breves

1) O treinador do Benfica  regressou ontem à Universidade. De facto já lá tinha andado várias vezes, utilizando os serviços do bar da Associação, bastante mais barato do que a pastelaria da esquina.

Mas ontem foi mesmo a sério: foi à Faculdade da Motricidade Humana (aproveitando decerto alguma pausa para café do Sr. Moniz Pereira) explicar aos alunos os "5 Mandamentos da Ciência Futebolística"...

Será de pasmar? Não amigos leitores. Diversificação é o que está a dar . E temos a coisa bem organizada com cada macaco no seu galho: Relvas na ciência da canelada (política) e o Jesus na ciência do chuto (salvo seja).

Vejam mais aqui sff:

http://www.jn.pt/PaginaInicial/Desporto/Interior.aspx?content_id=3101735

2)  O regulador espanhol abre uma investigação  à empresa PESCANOVA por indícios de abuso de mercado.  Eu sempre disse que nunca se deve comer nem peixe congelado, nem de estufa, nem bacalhau demolhado...  Nem confiar muito naqueles que os vendem...

http://www.publico.pt/economia/noticia/espanha-abre-investigacao-a-pescanova-por-indicios-de-abuso-de-mercado-1587453

3) E para terminar em beleza, parece que na Venezuela uma "Comissão" vai estudar se o cancro que vitimou Hugo Chavez não terá sido provocado por  - e cito - "inimigos históricos"...

Eu já suspeitava que a constipação do fim de semana passado do meu Primo, depois do regresso da Guiné, tinha mãozinha de reaça metida... Foi o estupor  que queria ficar livre para ir à bola e me deixou com as velhas (salvo seja) outra vez a cargo!

Mas logo que isto da Venezuela esteja esclarecido vou já saber onde é a mercearia das doenças para me vingar. Uma diarreiazita bacteriana era o ideal...

http://www.publico.pt/mundo/noticia/comissao-vai-investigar-se-cancro-de-chavez-foi-provocado-por-inimigos-historicos-1587452

segunda-feira, março 11, 2013

Na véspera do Conclave

Os papas da minha geração foram cinco e meio:
Pio XII, João XXIII; Paulo VI; João Paulo I (o meio, que governou a Igreja apenas durante um mês, coitado!); João Paulo II e Bento XVI.
Estabeleceu-se alguma polémica nas redes sociais em torno de três deles  -  Pio XII por causa da 2ª Guerra Mundial; João Paulo I, por causa da sua morte tão "rápida" após a eleição; e finalmente Bento XVI, cujos contornos da renúncia ainda são mal conhecidos.
Alimentada pelos autores de teorias da conspiração, esta polémica pôe em causa a posição de Pio XII face à perseguição dos Judeus e à sua relação pessoal com o Mussolini;  bem assim como defende que João Paulo I teria sido "posto a dormir" por alguém "lá de dentro" , da própria Cúria;  enquanto que, por fim,  o Papa Bento terá sido obrigado à renúncia para não seguir mais cedo ou mais tarde  o mesmo caminho.
Neste momento é sobre o próprio Conclave que abundam as tiradas dos nossos filósofos-livres... O que corre é que podem acontecer duas profecias:
a) A profecia de S. João Bosco pode realizar-se. Isto é, o próximo Papa vir a ser um santo que, depois de muitas perseguições e tormentas devolverá a Igreja à sua simplicidade e espiritualidade.
b) Ou então, vai começar a desenvolver-se a  chamada profecia do Cardeal Arcebispo de Chicago, aplicada ao papado. Francis George terá dito : "I expect to die in bed, my successor will die in prison and his successor will die a martyr in the public square. His successor will pick up the shards of a ruined society and slowly help rebuild civilization, as the church has done so often in human history."
Tudo isto pulula na internet, não estou a inventar nada.

Obviamente que se trata da mesma "malta" que escreve sobre o avistamento de leões negros nas charnecas de Inglaterra, ou que trejura e jura que existem ainda dinossauros em África e serpentes do mar gigantes albergadas nalguma Ilha do Pacífico Sul...
E que , por vezes, organiza viagens a crateras de vulcões extintos para se certificarem se não será por ali que se vai ter à Terra Oca, uma espécie de Continente Perdido que se situaria no interior da crosta terrestre.
É fácil rirmos destas patranhas. Mas o mais interessante nem sequer é discutir  a sua (inegável) fantasia...
O mais interessante é sabermos quem hoje acredita nelas. Por exemplo, aquele paradigma de sanidade mental que era o Sr. Hitler empregou recursos de muito peso, antes e  durante a 2ª Guerra Mundial, à procura da concretização destas e doutras  ideias meio malucas, desde a "Fonte da Juventude" até à "Arca da Aliança".
Sabe-se que quando J. Edgar Hoover era patrão do FBI e "dono" da América, muitas investigações por ele ordenadas tinham mais a ver com suspeitas criadas pelo  seu próprio espírito doentio do que com a existência de provas reais. E, quando não havia provas, fabricavam-se, de forma a que a realidade ficasse mais parecida com a ideia que dela fazia o Big Boss.
Nos dias que correm uma notícia torna-se um facto quando muita gente a passa a repetir... Veja-se a trama em redor do Dr. Medina Carreira, por exemplo.
E depois, como muito bem nos ensinou John Ford no sempre belo " O Homem que matou Liberty Valance", quando a realidade é menos atraente do que a ficção, publicamos muitas vezes a ficção...
E o problema é que "atraente" para vender jornais e TV's, hoje em dia, é sinónimo de algo mais brutal, mais sangrento, mais violento, mais espetacular e mais maldoso...
Esperemos pelo Conclave, sem pressas nem manias, mas tendo a certeza que o Pescador que nos calhar desta vez terá que ter muito jeito para a faina maior e mão certeira para  a velha e honrada arte xávega...

sexta-feira, março 08, 2013

Para Descansar a Vista

Como prometido, o merecido louvor à melhor parte de todos nós.

(Nota: mesmo assim este dia 8 amanheceu de borrasca...Mas adiante que não estamos em Amarante).

De três mestres da arte de amar aqui vos deixo três pérolas, Começo com Manuel Alegre, faço uma incursão saxónica pelo meio mas acabo em beleza com o nosso Maior. 

E como diria  o amigo Mal Cozinhado para Luis de Camões, lá na Ribeira (que saudades caraças!) , com erros e tudo: 

Hoje á Petinga amanhã não sabemos...

Essa é que é essa!

Coisa Amar

Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.

Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.

Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como doi

desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.


Manuel Alegre

O Mistress Mine

 O Mistress mine, where are you roaming?
O, stay and hear; your true love's coming,
That can sing both high and low:
Trip no further, pretty sweeting;
Journeys end in lovers meeting,
Every wise man's son doth know.
What is love? 'Tis not hereafter;
Present mirth hath present laughter;
What's to come is still unsure:
In delay there lies not plenty;
Then, come kiss me, sweet and twenty,
Youth's a stuff will not endure.


William Shakespeare

 
Eu cantarei de amor tão docemente

Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.

Farei que amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente.

Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.

Porém, pera cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa
Aqui falta saber, engenho e arte.
                    
Luís de Camões

quinta-feira, março 07, 2013

Amanhã é o dia Internacional da Mulher...

Deixemos para amanhã mesmo o louvor em forma de poema, que todas as mulheres merecem.

Mas hoje deixem-me fazer um pequeno "desvio" ao politicamente correto, e discorrer mais  pelas sombras deste relacionamento com milhões de anos - pois pelo que parece os chimpazés  têm  relações sexuais por prazer, sem ser para procriar exclusivamente, pelo que admito que os nossos velhinhos antecessores Neendertais o fariam também.

Porque motivo as nossas "Marias" às vezes nos ralam? Não é um motivo, são milhentos! Ora leiam sff:
 - As mulheres (falo por generalidades) gostam mais de cama do que nós (atenção! No sentido de ficarem lá enroscadas mesmo!).
 - Não gostam de ser acordadas quando a nós nos dá a vontade do trica-trica (algumas , as mais desbocadas, até mandam um gajo "urinar que isso passa").
- Têm a mania de falar por subentendidos e esperam que a "malta" as compreenda logo ( e se não compreendermos estamos bem lixados). Até parece que inventaram um linguarejar próprio para elas e para as amigas.
- Têm mais medo das calorias do que o diabo tem da cruz. E não podem ver um desgraçado a gozar uma boa refeição (as invejosas do carago!) que não se ponham logo a falar de doenças e do colesterol e de que "se tiveres um ataque cardíaco não te venhas aqui queixar". (Olha que pôrra! Se eu tivesse um ataque cardíaco, e se ainda falasse, porque raio me haveria de queixar a Ela??!! Ia mas era logo para o SO de um hospital decente!).
- Embirram com o que vestimos a toda  a hora e  sem qualquer tipo de critério. Se um gajo, como eu, não liga à "embalagem",  é porque é um "desleixado". Se nos aprimoramos na fatiota é porque "anda moura na costa!"
 - As mulheres têm muitas amigas. Isso a maioria das vezes é um problema. Até são dois problemas... Um gajo nunca sabe se deve elogiar as amigas (o que pode ser mal entendido) ou dizer mal das mesmas. Por exemplo: " - Olha tu já viste que bem que a ***** está hoje vestida? Espetáculo!"  (aqui preparem-se para levar nos cornos e em grande, porque não disseram antes o mesmo dela).
- As mulheres têm comportamentos anti-sociais a conduzir. Discutem com a autoridade se as mandam parar, NUNCA usam aparelhos de mãos livres para falar ao telefone e , de uma forma geral, acham que a parte da frente da viatura é uma espécie de substituto do salon de beauté onde costumam ir. Se vão ao lado, passam a vida a retocar a maquilhagem. E se vão a conduzir, usam as paragens nos sinais vermelhos para o mesmo...
-  E se partilhamos o carro com elas, muito cuidado com o que lá deixamos dentro! Há alturas em que até o Shelock Holmes morreria de vergonha face aos poderes dedutivos de uma "legítima"...Sobretudo se andar desconfiada! (evidentemente que sem motivo nenhum!).

E pronto! Hoje fico por aqui. Amanhã já direi bem delas ( et pour cause, porque um gajo não é de ferro e convém , mesmo nesta idade, ter ainda a esperança de algum conforto carnal, ou lá o que chamarem agora àquilo,  nesta idade da inocência que atravessamos).

quarta-feira, março 06, 2013

O "Mau Feitio"

Mau Feitio 2009Soube mais deste último lançamento de Virgílio Loureiro. Trata-se de um vinho do Douro ( e não da "Piteira" Amareleja!)

 É um vinho do Douro Superior, sem madeira, feito com as castas Touriga (Nacional e Francesa), Tinto Cão e Tinta Roriz. Associou-se à enologia, para além do Prof. Loureiro, o enólogo Manuel Malfeito Ferreira. Tem 13,5º.

Um vinho Mau Feitio, feito por um enólogo Malfeito... Há que provar carago!!

Morreu o "Berrão" da América latina

Faleceu Hugo Chavez, o incontornável demagogo da América Latina.  El Comandante era tido por uns como salvador e pai da pátria, e por outros como um tirano e opressor.
Ficará na história pela sua guerrinha pessoal contra o "Grande Satã" do Norte (da América) , a quem dedicava tiradas nos seus discursos que punham toda a gente mais ou menos normal a rir...

 Aqui em Portugal foi amigo de José Sócrates (enfim...) e comprou o famigerado Magalhães. Quanto ao resto, os mundos e fundos que prometeu comprar lá para os Estaleiros de Viana do Castelo, foram mais as vozes do que as nozes.

Provavelmente acabará sendo reconhecido  no nosso retângulo pátrio  como o "Alberto João" das Américas... dada a inclinação para a desbunda verbal e os excessos que dali decorreram.

E, francamente, já nem sei se isso é bom, é mau, ou nem por isso...

Mas que a terra lhe seja leve. Porque, pelo menos, fez a malta rir nalgumas ocasiões.

Dizem que quando Charles de Gaulle faleceu , uma das classes que mais o chorou foram os caricaturistas, pois o "Grand Charles" tinha um perfil muito dado à caricatura, onde avultava o seu enorme nariz. Talvez que com Hugo Chavez se passe algo de semelhante. Muitos jornalistas ainda vão sentir a falta das "bojardas" com que El Comandante , dia sim, dia sim, sempre que botava faladura,  surpreendia o mundo.

Ainda os vinhos a preço razoável na Restauração

O nosso Amigo Paulo Mendonça entra neste tema:

Já agora aproveito para fazer a sugestão de um Douro cuja relação qualidade preço é excelente o "Papa Figos" da casa Ferreirinha cujo preço em híper ronda os 5,65€.


Este Papa Figos ainda não provei. Vi que tinha sido classificado positivamente pela Revista dos Vinhos, mas confesso que o preço abaixo dos 6€ afastou-me... Sim, o preço baixo também às vezes é desincentivador da compra. Mas vou tratar de remediar a falha brevemente.

Já agora , e porque hoje é 4ª Feira, uma história engraçada ainda em torno do Prof. Virgílio Loureiro e a sua aventura  pela Amareleja.

O conhecido Professor deu ontem um jantar muito engraçado para apresentar um vinho novo - provavelmente o topo de gama da marca  a que se ligou no Alentejo  - "Piteira" - a que chamou "Mau Feitio". E quem convidou ele para jantar? Personalidades públicas com fama e , ou, proveito,  de terem o tal "mau feitio"!

Foram convidados  Clara Ferreira Alves, Sá Pinto e...Zé Quitério,  (entre outros).

Boa ideia!   Resta provar a "pinga" para ver se tem algum efeito nos nossos humores...

terça-feira, março 05, 2013

Encontros com o Vinho em Restaurantes debaixo de crise

Encontrei duas alternativas para os almoços em torno de vinhos alentejanos, a preços módicos.

Não estão é infelizmente muito presentes nos restaurantes...Mas aqui ficam as sugestões:

O D. Rafael 2009, que é a 3ª marca da antiga e respeitada Herdade do Mouchão, está excelente! E custa abaixo dos 10€ em hiper, por isso deveria estar na prateleira dos "vintes" em restaurante.


Ainda mais raro é o vinho que resultou da última aventura do Prof. Virgílio Loureiro pela Amareleja. Chama-se "Piteira" e está soberbo! A apenas 9,99€ em Hiper.  Leiam aqui mais sff:

José Piteira Escolha Virgílio Loureiro, tinto 2009

Este vinho resulta do Blend das castas Moreto, Castelão, Alfrocheiro e alicante Bouchet, e é, na descrição do Prof. Virgilio Loureiro,  a Quadratura do Circulo na região mais quente do país.
Apresenta um nariz cheio de fruta verde a oscilar com tons de vegetal a revelar a pouca maturação da fruta.
Boca com alguma doçura a revelar a luta entre a fruta, o álcool e a acidez. Mas promete ser um bom vinho de guarda.


O problema é que nestes restaurantes em crise, a carta de vinhos quase não é mexida!!

Os proprietários atemorizam-se com a falta de clientes e não investem, desejando sobretudo esvaziar os stocks que mantêm nas caves, antes que os vinhos guardados "passem para o outro lado".

Tal estratégia, mesmo apesar das "promoções", baixas de preços e "vinhos da semana" tarda a dar frutos.

Ainda por cima nesta cultura enológica  a que habituaram o cliente (bem feito!!) segundo a qual o vinho tinha de ser bebido novo e ser muito à Parker.

Obviamente que falo de generalidades. Existem restaurantes que continuam a mostrar as novidades sempre que podem e delas têm conhecimento: o Pedro da Horta dos Brunos, O Solar dos Presuntos, o Galito, o Méson Andalúz na sua anterior encarnação (em Lisboa ainda não sei como se comporta nesta matéria).

Estamos perante um círculo vicioso: O cliente não bebe porque não encontra aquilo que quer, o restaurador não compra porque o cliente não bebe...

Podem crer que não há nada de tão aborrecido do que um indivíduo chegar a uma mesa e ter de acompanhar a refeição com um vinho medíocre, apenas porque não está para gastar 40€, ou mais,  numa garrafa de gama alta.

Gama alta , salvo seja!! Será gama alta à mesa do Restaurante, porque lá em nossa casa é de gama mais média que a média aritmética!

segunda-feira, março 04, 2013

A espuma dos dias

L'Écume des Jours será o grande romance de Boris Vian. Nele é proposta aos leitores uma espécie de inversão de valores a que a sociedade moderna atribui respeito e sensatez. Por exemplo, aconselhar que toda  a decisão deve ser imediata, sem qualquer tipo de reflexão anterior.

Numa atmosfera de pântanos ou bayous, com a música de Jazz lá no fundo bem audível, pressente-se uma atmosfera pegajosa, de clima húmido e doenças estranhas a enquadrar tudo aquilo.

E "aquilo" não é mais do que um sonho a meio caminho entre o pesadelo e o sonho bom, uma obra de imaginação que - aliás -  já me pareceu mais "imaginativa e irrealista" em tempos idos do que hoje em dia. Notem, sempre por exemplo, que no universo descabelado deste romance a polícia mata quem não pode pagar impostos...

Esta introdução sobre Boris Vian e a sua "L'Écume des Jours"  permite-me falar da grande Manif  de anteontem com algum distanciamento.

Manifestantes e Manifestados (os incumbentes do Governo e etc...) parecem evoluir num universo semelhante ao de Boris Vian, e que tem também algumas semelhanças com o capítulo "Livro das Horas Absurdas" do grande romance "Barranco de Cegos" de Redol.

A Realidade (que variará de pessoa para pessoa tal como a encaramos, hoje com otimismo, amanhã nem por isso, mas que mesmo assim tem uma matriz central comum a todos), está ausente.

Em vez dela parece que flutua em Portugal uma "espuma dos dias" onde se passeiam e executam performance uns ministros, umas troikas, o fantasma da classe média, a multidão dos descamisados (cada vez maior), alguns riquinhos , uns opressores, uns oprimidos.

Os Manifestantes vão para casa seguros do dever cumprido após a marcha , as palavras de ordem e a "Grândola". Os Manifestados , em casa a ver pela TV o avanço do Protesto, contando cabeças, esperam ansiosamente pela Segunda feira, altura em que o empate Sporting-Porto e a vitória sofrida do Benfica farão as parangonas e serão os assuntos de conversa.

O País real cada vez mais parece ser o que era em 1966. Altura onde, como alguns ainda se lembram, a política discutia-se pouco e o futebol dominava todas as conversas. E a "Bola" era o jornal mais lido e vendido (até em Paris).

Até ao dia em que se ouviram de madrugada os primeiros acordes da canção na voz de Zeca Afonso...

E tenho para mim que se chegarmos lá outra vez (quando chegarmos lá outra vez ) , a esse ponto de não "regresso", a essa barricada do desespero que nos vai encostar todos ao muro,  provavelmente não será a Grândola que se vai ouvir, mas estrondos e estilhaços de montras a partir.

E tomara que haja som de Jazz em surdina...

Um Comentário à point

Um dos nossos Amigos escreve também sobre  a mítica "barra" do Gambrinus e sobre o Dr.  Costa Quinta:

Ao mesmo balcão do Gambrinus o meu Mestre Dr José Augusto Borges d'Almeida, em conversa com o distinto especialista que citaste, disse um dia: pois fique o meu Colega, e apesar disso meu Amigo, que o meu mundo não é deste reino... Isto em pleno verão quente. Outros tempos, outros Senhores!
Abraço PC:.


De facto eram outros tempos...

sexta-feira, março 01, 2013

Para Descansar a Vista

Hoje e Segunda Feira meti férias para tratar dos problemas médicos da Santa cá de baixo.

Comecei hoje de manhã no Otorrino (como dizia o meu saudoso amigo Costa Quinta, chefe de serviços da especialidade em S. José,  estando ambos já meio "embalados" ao balcão do Gambrinus: "- O meu reino é só do pescoço para cima ,caraças!") e continuo na Segunda Feira com a Fisioterapia e a Traumatologia.

Entretanto atrasei-me para o poema da semana, pelo que sem mais delongas aqui vai ele. Desta vez recorro a Florbela, agora que se aproximam os 120 anos do nascimento (em Vila Viçosa) da grande Poetisa.

Neste "O Teu Olhar"  revemos o orgulho da portugalidade. Que parece nestes dias um bocado fosco e baço...Et pour cause...

O Teu Olhar

Passam no teu olhar nobres cortejos,
Frotas, pendões ao vento sobranceiros,
Lindos versos de antigos romanceiros,
Céus do Oriente, em brasa, como beijos,

Mares onde não cabem teus desejos;
Passam no teu olhar mundos inteiros,
Todo um povo de heróis e marinheiros,
Lanças nuas em rútilos lampejos;

Passam lendas e sonhos e milagres!
Passa a Índia, a visão do Infante em Sagres,
Em centelhas de crença e de certeza!

E ao sentir-se tão grande, ao ver-te assim,
Amor, julgo trazer dentro de mim
Um pedaço da terra portuguesa!

Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"