quinta-feira, setembro 20, 2012

Para Descansar a Vista

Não há fome que não dê em fartura. Dois poemas na mesma semana. As circunstâncias são de molde a espevitar a veia poética ...

(Atenção!! Não se leia "espetar a veia anémica". Não foi isso que eu disse nem sequer o que pensei!!)

Abandono o País cheio de dúvidas sobre o que se vai passar na política, angustiado pelo empate do meu Benfica na Escócia, preocupado com a resposta do CDS ao PSD, mortinho por não ser "mosca" e presenciar o Conselho de Estado, à rasquinha para pagar a 2ª prestação do IMI que já espreita, e a contar os "trocos" para as despesazitas da viagem ao Qatar, que isto de viajar hoje em serviço para o estrangeiro já foi chão que deu "uvas" (quero dizer, ajudas de custo).

Pensando bem, depois de escrever a última frase ( e deixando passar a questão dos cobres para comer lá pelo Golfo)  até que me apetece dar um suspiro de alívio por abandonar o retângulo pátrio.

Mas adiante que não estamos em Amarante!

De Herberto Hélder, o grande e misógino poeta, Pai de Daniel Oliveira um dos enfants terribles do nosso jornalismo de esquerda, aqui vos deixo esta obra-prima:

A Fonte

Ela é a fonte. Eu posso saber que é
a grande fonte
em que todos pensaram. Quando no campo
se procurava o trevo, ou em silêncio
se esperava a noite,
ou se ouvia algures na paz da terra
o urdir do tempo ---
cada um pensava na fonte. Era um manar
secreto e pacífico.
Uma coisa milagrosa que acontecia
ocultamente.

Ninguém falava dela, porque
era imensa. Mas todos a sabiam
como a teta. Como o odre.
Algo sorria dentro de nós.

Minhas irmãs faziam-se mulheres
suavemente. Meu pai lia.
Sorria dentro de mim uma aceitação
do trevo, uma descoberta muito casta.
Era a fonte.

Eu amava-a dolorosa e tranquilamente.
A lua formava-se
com uma ponta subtil de ferocidade,
e a maçã tomava um princípio
de esplendor.

Hoje o sexo desenhou-se. O pensamento
perdeu-se e renasceu.
Hoje sei permanentemente que ela
é a fonte.

                Herberto Helder


Nota: Retrato de Herberto Hélder é de Frederico Penteado

Os dias que por aí vêm

Eu tinha avisado que esta semana e a próxima iam ser complicadas aqui para o vosso Blogger...

Começou ontem, com compromissos familiares e de amizade que me levaram para o centro do país. Continua amanhã,  na Sexta Feira, com uma ida à pressa ao Funchal lançar a emissão das Levadas-Madeira. Parto às 8.00 e regresso nesse mesmo dia, pelas 16.00h.

Mal empregada viagem? Nem um fds se aproveita? Pois é, mas o estupor do senhorio faz anos no Sábado e lá tenho que estar em casa a fazer o almoço.. Para ele e para a "sargenta"... Apetece-lhes "Cozido"...  Enfim...

Na Segunda-Feira 24 vou fazer uma apresentação e colocar um Carimbo Comemorativo  na inauguração da  XIV Conferência Mundial de Impressores Oficiais e de Segurança, que se realiza neste ano em Portugal, sendo anfitriã a nossa INCM.

E depois o Congresso da UPU em Doha (Qatar). Começa a minha viagem a 25 e só regresso a 29. Apanha a semana que vem todinha.

Tentem sobreviver sem  estes Posts que eu também tentarei o mesmo... vai-me custar, mas penso que vamos conseguir.

Não me despeço sem poema. A ver no próximo Post.

terça-feira, setembro 18, 2012

Tempos de "Guerra"

O empréstimo que precisamos para pagar as despesas do Estado parece estar refém da entrada em vigor do plano de ajustamento tal como Pedro Passos Coelho o anunciou, com TSU e tudo o mais a que "temos direito".

É uma pressãozinha da Tróika, uma chantagenzinha que bem demonstra um facto simples e que até agora muitos portugueses não compreenderam:
Deixámos de ser um País independente e que se governa a si próprio.

A alternativa de se encontrar medida semelhante em esforço de poupança\encaixe financeiro é utilizada por vários membros das instituições que constituem os "parceiros de coligação social" , mas parece de difícil aplicação já que, pura e simplesmente,  a subida de 7% na TSU dos trabalhadores e a descida de 5,75% na TSU das empresas não foi avaliada em estimativa de efeitos (para além dos 500 milhões que contribui para o Orçamento e que é bem pouco).

E isto porquê? Porque nunca foi aplicada no mundo civilizado.

Bem pode TóZé Seguro vir falar alto e dizer que tem as tais alternativas para "outro caminho"... Caso os credores não estejam de acordo, não há pão para malucos e é aguentar com o Plano Passos\Gaspar em toda a sua amplitude ( e iniquidade).

Conselho de Estado para quê? Se a decisão já está tomada em Berlim?  Andamos a brincar às casinhas como se fôssemos ainda donos do nosso destino? 

Como dizia o Doutor Miguel Beleza: " Mas pode alguém esquecer-se que o País está insolvente??!!"

A gente às vezes esquece-se, para poder sonhar com coisas boas... Mas depois acorda para a dura e crua realidade.

 Uns mandam e outros obedecem. Se querem comer todos...

Só que alguns comem pão e bebem água, e os outros "comem" os milhões em cima da cabeça dos primeiros.

Isto pode ser verdade mas lá que faz um gajo sentir o estômago às voltas , lá isso faz...

segunda-feira, setembro 17, 2012

Zangam-se as Comadres?

O nosso "Conrado Portas"  lá se pronunciou. Muito sensato, dizendo o que a sua "gente" queria ouvir... Mas deixando vários preguinhos no caixão da coligação.

TSU? Não estávamos de acordo. Assim o dissémos, por várias vezes.  Foi por solidariedade e patriotismo que não nos opusémos deliberadamente.

Pedro Passos Coelho bem pode deitar as mãos à cabeça...

E agora? Bem, agora confiem em mim: "no pasa nada"!

Esta malta gosta mais de poder do que macaco de banana... Fazem-se umas cosméticas às propostas e todos amigos como dantes...
Mas sempre à espera da facadinha nas costas. Já é costume nestes Governos, mesmo quando havia pão em barda para distribuir por todos. Imaginem agora...



Nota: "Manter de Conrado o prudente silêncio" . Perguntam-me a origem da citação. Vejam aqui sff:
A expressão é variante da célebre frase «J´imite de Conrart le silence prudent», escrita por Boileau referindo-se a Valentin Conrart.
Valentin Conrart foi um escritor francês de pouca nomeada, que nasceu e morreu em Paris (1603-1675). Seu pai quis destiná-lo ao comércio, mas, tendo aquele falecido cedo, o jovem Conrart, rico e ambicioso, dedicou-se exclusivamente às letras, reunindo em sua casa excelentes escritores, que vieram a constituir a Academia Francesa (1634), da qual Conrart foi secretário.
Foi também conselheiro e secretário particular do rei. Era um homem muito culto que escreveu muito, mas poucas obras publicou (Ballade, Lettres familières à M. Félibien), dedicando-se, sim, à publicação de obras de outros escritores.
Foi vítima do sarcasmo de alguns escritores, entre os quais Boileau. Tornou-se célebre a sátira de Boileau dirigida a Conrart, que começa assim: «J´imite de Conrart le silence prudent.»
Referia-se Boileau à decisão de Conrart de não falar de determinado assunto, ou por o desconhecer ou por não lhe convir referir-se a ele.

Para Descansar a Vista

Atrasado cá vai o poema da semana passada.

Tema: Se ainda te  mexes é porque não morreste. Todos à Manif!

Começo com esta "jóia" de Mestre Agostinho da Silva:

Revolução

Pena que as revoluções
não as façam os tiranos
se fariam bem em ordem
durariam menos anos

liberdade sairia
como verba de orçamento
e se houvesse qualquer saldo
se inventava suplemento

pagamento em dia certo
daria para isto aquilo
o que sobrasse guardado
de todo o assalto a silo

mas o que falta aos tiranos
é só imaginação
e o jeito na circunstância
é mesmo a revolução.

Agostinho da Silva, in 'Poemas'



E termino com a Sophia de nós todos:

Revolução - Descobrimento

Revolução isto é: descobrimento
Mundo recomeçado a partir da praia pura
Como poema a partir da página em branco
— Catarsis emergir verdade exposta
Tempo terrestre a perguntar seu rosto

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"




sexta-feira, setembro 14, 2012

O Poço

Um dos meus primeiros trabalhos quando fui conhecer os meus sogros à quinta da Beira Alta foi - imaginem para um cascaense - ajudar o pessoal a "desentupir um poço de rega".

Naquela altura , lá para 1979,  a rega dos lameiros no Verão era feita com a água que , vinda de serra, se armazenava em duas ou três "minas" que se furaram na quinta. E uma dessas estava a necessitar de manutenção. Andei por lá um dia e meio, e juro que cada vez que tirava um balde de lama e pedras do fundo tinha quase a certeza que era o último. Mas não era...

O "fundo do poço" ficava sempre um pouco mais para baixo. Na prática, como depois compreendi, o fundo era aquilo que o meu sogro entendia que devia ser. Quanto mais fundo e desanuviado de constrangimentos melhor, mais água apresava...

Este Portugal parece ser  o tal poço...

Ontem nas TV's fomos bombardeados por uma catadupa de impressões sensoriais que começaram com a intervenção do Lider da oposição e  pela entrevista do 1º Ministro e depois , até altas horas, continuaram com os muitos comentários de tudo quanto era gente, de todos os quadrantes.

É certo e sabido que Pedro Passos Coelho está cada vez mais parecido com José Sócrates na teimosia e obstinação. Por outro lado, Seguro afirmou-se claramente e ergueu a bandeira da oposição firme a estas políticas. Do CDS nada se sabe : Paulo Portas imita a ficção e " mostra de Conrado o prudente silêncio"...

A tróika, o memorando, os sacrifícios , a TSU. O povo, a classe média, os banqueiros, o IRS as empresas , as falências e o desemprego... Mas que grande caldeirada!

Algumas coisas, contudo, parecem certas:
a) Portugal não sai deste "poço" sozinho.
b) Os credores só emprestam com condições.
c) Quem precisa tem de pagar e sofrer.
d) Mas...há graduações nos sacrifícios e nesse sofrer.

Pondo tudo isto em equação acho que qualquer cidadão de boa fé entenderia que o caminho tem de ser  a continuação dos sacrifícios e do sofrimento, MAS de forma a que os que têm de pagar ( e são os trabalhadores por conta de outrém, pensionistas e pequenos empresários que assumem essa condição quase exclusivamente) o possam fazer sem maior desagregação do seu nível de vida e mantendo a  esperança em dias melhores.

Por outras palavras: pagar e sofrer sim. Mas com conta , peso e medida que evite a revolta social e a ruptura do povo com o  Governo.

Aqui é que Passos Coelho e Gaspar falham: não entendem (ou, ainda pior, sabem-no perfeitamente mas não conseguem resolver)   que pela Receita estamos quase a romper a corda... E que todas as baterias têm de ser apontadas ao controlo da Despesa do Estado.

Mas esta não é facilmente controlável...

Medina Carreira incita o Governo a rasgar as PPP. Mas ontem percebeu-se porque é que o Governo não o faz: Os detentores desses contratos "complexos" são os mesmos bancos internacionais a que Portugal depois vai pedir dinheiro para se financiar... Que pescadinha de rabo na boca...

O mundo é uma roda. Tudo vai dar ao mesmo: o grande capital está em tudo, parece uma cola pegajosa que se prende às mãos. As marionettes (que são os Passos Coelhos deste mundo) dançam ao som dos tambores enquanto que os bonecreiros\banqueiros mexem nos fios que lhes prendem pés e mãos.

O que é Vitor Gaspar senão um "feitor dos patrões"?

Nesta situação já nem sei bem se não preferiria um corte profundo com tudo: sair do euro e pôr o contador a zeros outra vez...

Ou isso, ou finalmente haver sensatez no Governo e na Oposição para negociarem conjuntamente um Programa mais suave de ajustamento.

Os credores não o permitem? Olhem que sim...Mais vale receber a "maquia" mais tarde do que nunca mais a receber...

E a Islândia parece que conseguiu fazer entender isso perfeitamente aos seus credores. Porque não Portugal?

Vejam aqui sff:
http://www.standard-freeholder.com/2012/07/01/icelands-defiant-president-wins-record-fifth-term

quinta-feira, setembro 13, 2012

Velhinho Vila Meã: As Teias da austeridade

Ontem não passei por aqui. Estive em reunião na Torre dos Clérigos com o Presidente da Irmandade e com os colegas do Porto, para estudarmos a melhor forma de comemorar os 250 anos da obra prima de Nicolau Nasoni, hoje Ex-Libris da Invicta!

Ao almoço fomos ali bem perto da sombra protetora da velha torre, à Rua dos Caldeireiros, visitar uma locanda velhinha - sob a égide do mesmo proprietário deste 1976, mas antes disso e desde tempos imemoriais já taberna e casa de pasto   - e que tem sido sempre sinónimo de bom "porto" e de afável acolhimento na vetusta cidade granítica.

Trata-se da:

Adega Vila Meã
Rua dos Caldeireiros 62
Porto
4050-137 PORTO

Telefone - 222082967

O bacalhau escachado é um prato típico da casa, mas também o polvo assado no forno, os filetes de polvo com arroz do mesmo,  ou os filetes de pescada com arroz de legumes. E sempre o cozido à portuguesa , os rojões (com ou sem arroz de sarrabulho) e o cabrito ou a vitela assada no forno. Uma casa muito simples, com um ar de adega de amigos, ambiente limpíssimo e serviço familiar.

Era um dos locais onde eu ia com o meu Pai comer ao Porto, juntamente com a antiga casa da Mamuda ( já nem me lembro do nome do restaurante)  e a famosa Abadia (das Tripas) na Rua do Ateneu!

Como entradas queijo da serra bom, sem frio, depois uma alheira de caça, excelente.  A sério comemos Rojões,  prato que ali se revelou completíssimo, com tudo a que temos direito e que pôs em sentido Rojões servidos  mesmo no Minho. Desde o sangue cozido à tripa enfarinhada , passando pelas belouras, pelo rojão propriamente dito, pelo fígado e pelo amabilíssimo arroz de sarrabulho para os apreciadores.

Bebemos uns verdes e rosés de Baião para limpar os dentes. E depois um Douro Tinto Crasto de 2009. Magnífico vinho em termos de qualidade face ao preço.

E por tudo isto , juntando 3 cafés,  pagou-se  - 3 pessoas - cerca de 60€

O problema é que fomos os únicos clientes quase até nos virmos embora... E à saída apareceu mais uma mesita com 4 senhoras turistas...

Num restaurante destes onde a marcação era indispensável!  Onde se fazia fila à porta...

Onde vamos parar Amigos? Mais uma casa à espera de fechar?

Não pode ser ! Este caminho não leva a nada.

terça-feira, setembro 11, 2012

A Bi-Rotunda: Isto é alguma Estação Fluvial?

Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras e Marquês de Pombal não era bom de assoar.

Durante mais de 30 anos mandou neste país como quis. Na complacência de D. José I encontrou o Marquês refrigério e conforto para "tratar da quinta" à sua vontade.

Fez coisas boas, fez coisas assim-assim e fez grandes m****.  Há quem o defenda por causa da Baixa Pombalina e da reação ao terremoto. Mas eu nunca gostei dele. E não, amigos, não é pela familiaridade que parece demonstrar para com o leão a seu lado...

Basta pensar que ao expulsar os jesuitas a pretexto da conspiração para assassinar o rei ( se é que tal existiu) deu cabo da única rede eficaz de ensino da juventude existente naquela altura. E Portugal nunca mais, até mesmo ao início da República e com o 28 de Maio, recuperou dessa desgraça. Criou o Colégio dos Nobres, foi mentor da "aula do risco"? Foi, mas onde estavam os grandes professores para esses estabelecimentos? Fugiram e estavam a dar aulas em Antuérpia ou em Londres...

Ainda hoje sofremos por causa disso.  Reparem que depois de Pedro Nunes nunca mais Portugal teve um cientista digno desse nome até Egas Moniz. E mesmo esse, vou ali e já venho...

O que dirá agora tal personagem quase imperial ao ver a desbunda que a autarquia entendeu fazer na "sua" Praça?

A Praça do Marquês de Pombal está transformada numa "Bi-Rotunda": Andam lá por dentro dois anéis concêntricos de viaturas. Cada um tem as suas "alimentações" e "escoamentos". E parece que não fizeram escoadouros para as águas das chuvas...

Porquê? Bem, a resposta dada ao único português inteligente que por lá apareceu na inauguração foi engraçada. O portuguesinho humilde perguntou:

-"Oh Senhores! Faz favor! Peço desculpa por perguntar: isto aqui vai ser alguma estação fluvial? É que sem escoadouros nem sargetas feitas no alcatrão as águas das chuvas vão inundar a Avenida!"

E a resposta da engenheira da Câmara, a pensar para com os seus botões que já não havia respeito e até a formiga tinha catarro:

-" Esta obra é muito complexa! Tais acabamentos ficam para depois, para obras complementares!"

E o português antigo, com a 4ª classe tirada na educação de adultos, como disse,  ainda rematou:

"-Pois é, agora constroem e depois destroem e tornam a construir à custa do povo, não é? Por isso é que o País está como está! Adeusinho que já falei demais para quem tem a 4ª classe!"

Oh António Costa, amigo, não deixes ir o homem embora e contrata-o já para a vereação das Obras Públicas e do Urbanismo!

Olha que o Marquês ainda lhe salta a tampa, solta o leão e vem cá para baixo bater com a bengala nos engenheiros (as) da CML! E o gajo não era meigo enquanto viveu... reparem bem no real focinho da criatura... Cruzes Credo!

segunda-feira, setembro 10, 2012

Bonjour Tristesse!

O comunicado do nosso 1º Ministro de Sexta Feira passada foi amplamente comentado por tudo quanto é gente no Sábado e no Domingo.  Até pensei escrever este Post logo que o estômago se acalmou , nessa mesma 6ª F depois do joguinho (para não lhe chamar outra coisa) que opôs Portugal e o Luxemburgo, mas não há dúvida que o distanciamente permite reserva e permite reflexão...

Emoções e ânsias  à parte ( e são muitas, tantas que me parece terem iniciado um sindroma de "malaise" que ainda não me passou) o que penso é o seguinte:
a) Passos Coelho anunciou medidas de ainda mais austeridade com reduções inequívocas do rendimento disponível dos trabalhadores portugueses. Chamem-lhe o que lhe chamarem, se a malta vai para casa ao fim do mês com menos dinheiro para gastar, então mesmo sem ser imposto será um abaixamento do nível de vida.
b) E não digam que "ficou tudo na mesma para os funcionários do SEE"  O desconto de 7% a mais nas contribuições para a Segurança Social vai levar mais do que um mês de ordenado a muitos funcionários e trabalhadores da economia  privada. E onde está a "equidade" em relação a reformados e pensionistas?
c) Esta procissão vai ainda no adro. Com as reorganizações "simplificadas" dos escalões do IRS que por aí vêm, é esperado que todos, sejam quem forem os trabalhadores ou pensionistas, ainda mais paguem...
d) As Empresas lucram alguma coisa que se veja com a correspondente (mas não proporcional) baixa na contribuição homóloga? Há algumas que sim: Bancos, Grande Distribuição, Energia e Comunicações, os tubarões do nosso mercado. As pequenas e médias? Duvido... O pouco que poupem será quanto muito um balãozito de oxigénio que nunca compensará a perda de vendas resultante de ainda menor consumo.
e) E quanto à parte do sacrifício que devia tocar aos "outros" rendimentos, ao capital? Passos disse...nada.

Em conclusão: Será inconstitucional este pacote de medidas como parece agora (ou não, esperemos pelo Orçamento de Estado) mas uma coisa é certa: Quem se está "lixando para as Eleições" mostrou na Sexta Feira passada que também se está "lixando para os trabalhadores"... A sua "praia" é outra.  A ideologia tem destas coisas.

E o grande problema parece-me ser este: A baixar ainda mais o consumo dos portugueses, como se vão aguentar as PME's que vivem desse mercado interno? Ou só de exportações vive a economia nacional?

O que se pretende com esta estratégia - mesmo que o não digam - será reduzir a economia portuguesa à sua "dimensão natural", deixando falir as empresas que não têm lugar "por incompetência ou por dimensão do mercado"... 

É o catecismo neo-liberal que, como vimos, tão bons resultados deu nos USA com a Fanny Mae e o Freddy Mac (ainda se lembram? Dos lideres do mercado secundário de hipotecas que fizeram ruir o edifício do capitalismo selvagem à moda do Sr. Bernard Maddof?)

Ou seja, dito por outras palavras, esta política tem em vista assassinar o retalho, acabar com a restauração e o pequeno comércio de rua, e transformar Portugal num aglomerado de "boas" empresas "viradas à exportação",  incluindo as suas fornecedoras que, se pensarmos bem, na maioria dos casos são estrangeiras: De onde vem  a energia elétrica e  petróleo? De onde vêm as peças de alta tecnologia para a Ford-Volkswagen? De onde vêm os Geradores? De onde vêm os componentes dos lagares de azeite e das modernas adegas com tecnologia a frio e movimentação vertical de massas vínicas?...

O risco que se corre - e eu já aqui o disse - é transformar o país numa Cuba dos anos 70 do século passado, sem industria, sem comércio e sem serviços a não ser os que estão virados para o Turismo. E com uma agricultura de subsistência...
E o problema é que não existe cá folha de tabaco em condições para fazer Cohibas.

Notas finais
1: François Hollande vai taxar as grandes fortunas e os vencimentos acima de  1 milhão euros por ano com um imposto especial de 75%. É claro que esta questão é ideológica e não poderemos esperar que um Governo de direita neo-liberal avance por esse caminho...
http://www.deltaworld.org/international/Hollande-announced-today-the-most-important-economic-adjustment-of-France-in-30-years/

2:Chapelada a Jerónimo de Sousa pelo discurso (bem, por parte dele, a outra já vem na cassete desde o tempo do Dr. Cunhal) do encerramento da Festa do Avante. Foi o leader mais lúcido a reagir e que sabe exatamente o que tem a fazer. Assim outros estivessem tão "Seguros" como ele...

sexta-feira, setembro 07, 2012

Para Descansar a Vista

Ainda estou a recuperar, mal refeito do comunicado de ontem de Mário Draghi (adoro a Itália camaradas!) que fez tremer a empedernida e majestática posição hanseática sobre as formas de tratar da Crise na Europa.

Está claro que nos noticiários caseiros o discípulo luso da valquíria mandou logo começarem a circular noticiazinhas sobre o "provável aumento de impostos" e outras coisinhas dessas. Já cá se esperava. Era para "equilibrar", não fossem os pobres entrar logo em devaneios sobre o princípio do fim da crise!

Era o que faltava! Esta Crise só acabará quando Eu (Ele) disser!

Não se preocupem os poderes constituídos e eleitos que o Povo ainda não festeja nas ruas. O que é a "simplificação no IRS, a diminuição dos escalões" já anteontem anunciada senão uma encapotada e até grosseira forma de aumentar impostos e liquidar o que resta da classe média?

Mas adiante que não estamos em Amarante e hoje é dia de celebrar a Mãe Roma : Ad fontes redeunt longo post tempore lymphae – (Ao cabo de longo tempo, as águas voltam à fonte).

Mas enquanto não voltam temos que gramar estas exéquias Passistícas...

Aqui vai de Petrarca, "o" clássico, um dos "pais " de Camões, um soneto admirável:

Soneto XXII
S' amor non è, che dunque è quel ch' io sento?
Ma s'egli è amor, per Dio, che cosa e quale?
Se buona, ond è effetto aspro mortale?
Se ria, ond' è si dolce ogni tormento?
 
S'a mia voglia arado, ond' è 'I pianto e 'I lamento?
S'a mal mio grado, il lamentar che vale?
O viva morte, o dilettoso male,
Come puoi tanto in me s'io nol consento?
 
E s'io 'I consento, a gran torto mi doglio.
Fra sì contrari venti, in frale barca
Mi trivo in alto mar, senza governo,
 
Sí lieve di saber, d'error sí carca,
Ch' i i' medesmo non so quel ch' io mi voglio,
E tremo a mèzza state, ardemdo il verno
                                                                        Petrarca

Nota de um dos grandes tradutores de Petraca, Érico Nogueira: Diferentemente do seu patrício Torquato Tasso, Petrarca chegou vivo ao dia da sua 'coroação': e aos 8 de abril de 1341 foi oficialmente declarado "magnus poeta et historicus" na cidade eterna.
Essa coisa de chancela oficial é evidentemente alheia ao labor da poesia; mas que o reconhecimento favoreça bons versos, ah, disso eu não tenho dúvida...

E eu não podia estar mais de acordo...Por isso ainda mais admiro Camões. Petrarca foi enterrado na Piazza de Arqua, cidadezinha lindíssima onde viveu os últimos anos da sua vida e onde faleceu. Mais tarde esta cidade mudou o seu nome para Arqua-Petrarca...

E Camões? Sabem onde está enterrado? Pois, eu também não sei.
Há Principes dos Poetas com "p" e outros com "P"... Mas isso tem a ver com a terra, Madrasta ou Mãe, onde tiveram a sorte ou a infelicidade de terem nascido...

quinta-feira, setembro 06, 2012

Sol na testa e vento no cabelo

Os carecas são boa gente (por norma).

Claro que há o Pierluigi Colina que não tinha ar de boa rês, e agora aparece-nos cá por casa de quando em vez mais um dessa raça - o Sr. Jürgen Kröger, representante da CE na Troika - por quem também não ponho as mãos no lume.

Mas fora isso é tudo boa gente: o Paolo, o Acácio, o Leiria Viegas, o Gervas, o Soares Rodrigues, o Armelim, etc, etc...

Sendo desprotegidos nas partes altaneiras do esqueleto, a esses amigos convém usar chapéu (vem à memória o magnífico panamá do Dr. Mário Soares) . Por outro lado, não têm que se afligir com o vento no cabelo.

Esta charla começa  assim porque acordei hoje a pensar que um dos remédios para os males dos países do Sul será usar aquilo que eles têm e que aos outros faz falta. Uma espécie de curar a mordidela do rafeiro com o pêlo do mesmo rafeiro...

Sol e Vento são fonte de energias alternativas, as quais, por efeito de colagem inevitável ao consulado de José Sócrates, parece que caíram hoje em desgraça.

Ora o que temos em barda é Sol. E se formos ali para os lados de Sagres, também não faltará o Vento. Em Sagres faz-de o dois em um naturalmente. Mas não só: Guincho, Lourinhã, Nazaré, Aguda, Moledo, e por aí fora. E, não pretendendo estragar as praias com a poluição estética decorrente, basta afastarem-se uns km para dentro que as circunstâncias não se alteram muito.

Bem sei que ainda não são rentáveis estas alternativas, que o zé povo (que já tanto paga) provavelmente não as deveria co-financiar através da fatura da EDP, e etc, etc... Até o Sr. Governo veio agora retirar os benefícios fiscais à sua implementação por empresas e particulares.

Mas não deixo de pensar de mim para comigo que abandonando essa vertente alternativa  energética estamos a ficar para trás num dos poucos pontos do desenvolvimento das sociedades onde éramos do pelotão da frente... e mesmo que se descubra pitrol no Alentejo e gás natural ao largo de Olhão, essas reservas não vão durar para sempre.

Leiam aqui sff:

http://www.energybulletin.net/stories/2011-05-30/cia-accurately-predicted-how-long-world-oil-supplies-would-last%E2%80%94-1978

A CIA tinha já previsto em 78 que as reservas existentes durariam, no máximo, entre 60 a 90 anos.

- "60 a 90 anos, mesmo a contar de 1978,  não é problema meu!!"

Dirão alguns leitores.

Pois...  E eu respondo:  -"Cum caraças!"

Comentários

Dois Amigos comentam o "vernáculo" do Restaurante aqui citado ontem... E vão mais longe: haverá no Montijo a famosa "Taberna dos Cabrões", onde parece que se come bastante bem apesar do nome poder ser algo incomodativo para alguns.  

Para outros, tudo o que contribua para aligeirar a "tença" da Senhora é bem vindo...É que "ele" há boutiques, e cabeleireiros e liftings e repuxes e acrescentos e peelings e  mais não sei o quê ... Ora tudo isto por cima da economia "Gaspar"...

Já o magnífico Jacinto, lá nas Parises do tempo do Eça, se queixava que para manter uma cortesã ao nível a que estava habituada era preciso um sindicato bancário...

E pouco mudou. Pensando bem o que terá mudado é que hoje "ele" há também uns cavalheiros que ficam tão caros ou ainda mais às mulheres do que as madamas do Jacinto de  Paris...Mas essa conversa leváva-nos longe e tenho de manter o nível do Blog (acima da linha de água!)

quarta-feira, setembro 05, 2012

Casa da Pêga (importa-se de repetir??!!)

Reunião na Casa de Camilo em S. Miguel de Seide. Admirável edifício de mestre Siza, perfeitamente integrado na bucólica aldeia minhota que viu a morte e a vida do grande escritor. Tratámos da edição de um Postal Inteiro que comemore os 150 anos da publicação do Amor de Perdição.

Terminada a reunião pelas 12,30h houve que arranjar poiso manducal. Havia sempre a hipótese de Famalicão, ali perto, onde parece que o velhinho Tanoeiro perdeu fulgor , mas brilha agora o restaurante Ferrugem, de cozinha mais modernaça embora ancorada em matéria prima local.

Mas por aí não fui.

Falaram-me de um restaurante simples e à moda da terra minhota, que se chamaria "Casa Pêga" ou Casa da Pêga" . Pelo nome foi fácil de encontrar a meio caminho entre Famalicão e Seide, na freguesia denominada Antas . Quem, nesse caminho de Famalicão para Seide,  vislumbrar por cima do tejadilho do carro o viaduto da Via Rápida Braga-Porto (convém mesmo ser apenas vislumbrar de relance, não vá a viatura chocar de frente com alguma parede enquanto a vista se perde para cima...) já sabe que ali vira à direita e depois num instantinho está no tal "Casa  Pêga".

Casa Pêga
Rua 8 de Dezembro 2316
Vila Nova de Famalicão (Antas)
4760-016 VILA NOVA DE FAMALICÃO
Distrito: BragaTelefone - 252374175

Sala ampla, barulhenta que baste, cheia até dizer chega. Irmão e irmã a tomar conta das ocorrências com alguns sobrinhos, tudo à civil, sem fardamento. Entra-se por um terraço fechado por marquise em alumínio  (de fugir). Passa-se entretanto por uma espécie de corredor amplo que aparentemente "tem cozinha à vista" de ambos os lados. Até que atravessando mais uma porta se entra na tal sala de jantar ampla.

Mesa posta com roupa séria, e idem para os guardanapos. Um "Plasma"  a dar a SportTV mesmo em frente e por cima da porta de entrada. Felizmente sem som.

Ambiente familiar (até demais) e  decoração completamente kitsch. Para lá do kitsch até, do género: "Olha que tenho para lá isto em casa, onde é que o posso pôr até me lembrar de mandar fora?"

Então, dirão os leitores, se o ambiente é ruidoso que se farta, se a decoração é de fugir ou de entrar com óculos escuros e nunca mais os tirar, porque é que estou a gastar tanto latim com esta locanda?

Bem, porque se come estupidamente bem... E quem lá vai são as pessoas de Famalicão e até do Porto... Tudo gente conhecida que acha graça às manias dos proprietários , que tratam (e são tratados) pelos nomes próprios...


O que se come na Pêga: Rojões à moda do Minho; Cabrito assado no forno; Vitela com favas; Mão de vitela com grão; Vitela assada no forno; Cozido à Portuguesa;  Bacalhau à casa, à Brás, Bacalhau Assado, Bacalhau em bolinhos com arroz do mesmo, e Peixes frescos variados, assados, fritos ou cozidos. 
Para sobremesa o verdadeiro e quase mitológico "melão pimenta" do Minho, aquele casca de carvalho que os apreciadores gostam muito maduro, para saborearem o apimentado.

Naquele dia havia Marmotas fritas com arroz de pimentos, Fanecas fritas com arroz de tomate ( os arrozes trocavam);  Robalo da Apúlia assado no forno com arroz de grelos e batatinhas.

Bolinhos de bacalhau e arroz de bacalhau saíam sempre. Era um ver se te avias!

Comi deles, provei uns enchidinhos do cozido, ainda arranjei lugar para umas tascadinhas de vitela assada e tive (cheio de pena!) que recusar uma tijelinha de mão de vaca...

O vinho branco da casa é de Felgueiras e não apreciei muito. Mas o verde tinto da casta Vinhão, servido em jarro, é muito bom. Fora isso, à parte a proletária escolha,  a carta de vinhos tem qualidade, com os  Douros em proeminência.

Existe uma bagaceira branquinha de vinho verde, feita ali mesmo em Abade de Vermoim, que é de cair para o lado, praticamente só a cheirei, porque tinha mais de 350km pela frente ainda...

Em conclusão: Paguei 24 euros. Teria pago uns 14 ou 15 se fosse mais contido nas provas... Gostei e fiquei cliente. Mas não é local para levar metrosexuais ou outras criaturas "ligadas" às marcas, à moda ou à estética... Teriam um xelique (ou dois).

Pensando melhor, essa circunstância até me tornou esta casa ainda mais simpática...