sexta-feira, dezembro 31, 2010

A Piscinona do Cais das Colunas era Obra (de Arte)

Um nosso Leitor atento emenda ( e bem):

A obra é da Joana Vasconcelos e segundo a artista uma oportunidade de "questionar o presente para se perspectivar o futuro".

A localização, conta ao PÚBLICO, "era determinante". "Tinha de ter uma relação com o mar e com o país", afirma. A escolha acabou por ser o Cais das Colunas, de onde partiram as caravelas dos Descobrimentos. Além disso, refere, "somos o país com a maior costa da Europa, e Lisboa a única capital europeia com praia, e portanto a obra também vai no sentido de apelar à preservação da nossa costa".

Com dez metros de altura, a obra "tem o tamanho de uma piscina intermédia, das que se podem pôr numa casa, para consumo imediato. Joana Vasconcelos também pretende pôr o público a pensar sobre este imediatismo e consumismo. "Portugal não pode deixar-se tornar numa piscina: cuidado, não nos deixemos afundar", avisa a artista, que não encara a obra com pessimismo: "Não quero criticar o país nem fechar o discurso da obra - que é directo e conceptual -, tenho descoberto que permite uma multiplicidade de opiniões e interpretações, consoante quem a vê.

Comentário ao Comentário: Com que então uma Obra de Arte...Quem diria? Mas parece que já zarpou dali para outro lado. Coitados, lá terão agora outros que questionarem o presente para perspectivarem o futuro.... Ou vice-versa, que também ficava bem no jornal.

Poema de Ano Novo

É inevitável. Daqui a pouco batem as doze badaladas que indicam o caminho ao Ano Novo. Ano terrível , ano quase fúnebre...(Leiam sff o excelente artigo do meu colega  do ISCTE, Pacheco Pereira, na Revista Sábado de ontem, antecipando aquilo que nos espera).

Haja entretanto esperança e fé em que as coisas podem melhorar e, mesmo más, mázinhas de torcer a orelha, pode ser que encontremos forma de as tornar "comestíveis"...

O velho Antero, íntegro e sério Pensador, parece que adivinhava onde iríamos parar  na altura em que escreveu esta maravilha sombria:

O Palácio da Ventura

Sonho que sou um cavaleiro andante.
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura!

Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formosura!

Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas de ouro, ante meus ais!

Abrem-se as portas d'ouro com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais!

Antero de Quental, in "Sonetos"

Nós diríamos actualmente que "dentro (do tal Palácio)  encontrávamos só, cheios de dor, auto-estradas e outro betão, nada mais..."

Mas para não dizerem que termino o ano em baixo, com um pessimismo onde não me reconheço, não vos largo sem aqui deixar Pedro Támen, e o seu grito de esperança. Afinal "nada é necessário ao pé do Mar" , onde todos nós estamos...

O Mar é Longe, mas Somos Nós o Vento

O mar é longe, mas somos nós o vento;
e a lembrança que tira, até ser ele,
é doutro e mesmo, é ar da tua boca
onde o silêncio pasce e a noite aceita.

Donde estás, que névoa me perturba
mais que não ver os olhos da manhã
com que tu mesma a vês e te convém?

Cabelos, dedos, sal e a longa pele,
onde se escondem a tua vida os dá;
e é com mãos solenes, fugitivas,
que te recolho viva e me concedo
a hora em que as ondas se confundem
e nada é necessário ao pé do mar.

Pedro Tamen, in "Daniel na Cova dos Leões"

Santa Luzia

Já conhecemos bem este paradeiro, boa comida beirã, mas sobretudo talvez o maior estendal de vinhos do Dão , brancos e tintos. Mais de 100 referências distintas!

Ontem começámos pela farinheira torrada, seguimos pelos torresmos acabados de fazer, encaminhámo-nos direitos a um Polvo Frito com Migas beirãs (feijão de duas caras, couve segada fina e broa de milho) e acabámos esplendorosamente com um Arroz de Míscaros com costela!

Para beber,  as últimas Sauselhe de 2006, grande reserva branco do Dão que nunca mais se repetiu. Tenho pena de dizer aos Amigos que bebemos uma e comprámos as outras (muito poucas) que ainda lá havia... Para tinto a Garrafeira 2004 da Quinta da Falorca, tremendo ainda de garra, a prometer muitos anos de Adega a dar prazer aos proprietários.

Enfeirámos ainda 1 kg de míscaros à saida, cortesia dos proprietários. Vão ser servidos com o Cabrito do primeiro dia do ano.

Quem tiver a sorte de conseguir meter a mão num quilito de Míscaros já sabe o que deve fazer:

Numa sertã com um fio de azeite, deite dois alhos esmagados a murro, umas tiras de presunto com bastante gordura, uma malagueta e coentros, Esperem um pouco até ficar dourado. Juntem depois os míscaros partidos aos bocados com as mãos e deixem estufar lentamente. De lamber os beiços!

A Receita do Polvo Frito com Migas, também muito simples e de sabores tradicionais aqui da Beira Alta é mais ou menos assim:

Polvo Frito
Ingredientes - tentáculos de polvo; 1 dente de alho picado; sumo de meio limão; 1 folha de louro;1 colher de chá de colorau; 1 ovo; 4 colheres de farinha de milho.

Coze-se o polvo sem água e sem sal numa panela durante hora e meia. Cortam-se os tentáculos em pedaços e ficam a marinar com alho picado, sumo de meio limão, uma folha de louro e uma colher de chá de colorau durante 2 horas. Passam-se por ovo e farinha (com a  farinha de milho ficam bem estaladiços) e fritam-se em óleo bem quente.

Migas Beirãs:
Ingredientes - 250 g de  feijão frade cozido (ou um frasco);150gr de couves cortadas como se fosse para caldo verde; 150gr de miolo de pão de milho (broa);4 colheres de sopa de azeite;3 dentes de alho;sal q.b.; pimenta preta moída q.b.

Começamos por cozer as couves já cortadas em tiras finas em água a ferver, temperada com sal, durante cerca de oito minutos. Depois escorrem-se e passam-se por água fria, escorrendo-as novamente.

Entretanto, escorremos também o feijão frade, descamos e picamos os dentes de alho para de seguida os levar ao lume com o azeite, até esturgirem a dourar..

Nessa altura junta-se o feijão e as couves bem escorridas e mistura-se delicadamente com um garfo o miolo de pão esfarelado, temperando com um pouco de pimenta.

E para terminar o Post aqui fica uma fotografia do excelente Sauselhe, sendo de pedir ao grupo de amigos que o fez com as castas Encruzado e Malvasia Fina (entre eles Álvaro de Castro) que não esmoreçam e nos façam outro sff...

quinta-feira, dezembro 30, 2010

Amigos nunca são demais!!!

Aqui vai comentário à maneira:

Raul, Amigo.

 Essa coisa de falar na ADEGA e NUNCA convidar os amigos e vizinhos para a prova do dito (tinto ou branco tanto faz...)deixa muito a desejar. Eu nem me importo de levar o presunto, a chouriça... ou o que for necessário.
Um abraço e BOM ANO para ti, todos os teus e para o CORREIO MOR... que cada vez é menos "correio" e muito menos "mor"... (não o blog mas os Correios propriamente ditos... falta-lhes aquela chama que muitos de nós lhe conhecemos... porque será?).
J
 Comentário ao Comentário: Amigos nunca são demais. É só ligar para o meu Papagaio e combinaremos o que entenderem. Agora quanto aos comentários sobre a pátria do labor diário (CTT)... Depois da esfrega que apanhei com a Mundial ( e provavelmente um início de esgotamento, se não foi coisa pior) amansei um bocado. Embora deva dizer que muito do que se faz ultimamente naquela casa centenária me parece estranho e volátil, mas, lá está, com um esgotamento devo ter desculpa para assim pensar (ou não...).

Prometo que retomo as lides daqui a algum tempo.

Um Abraço meu Amigo!


Percalços...

A Adega cá da casa fica mais acollhedora quando lhe entram pela porta 4 ou 5 marmanjos desejosos de experimentar o conteúdo dos pipos. O problema é que a lâmpada fluorescente (luz fria) que a ilumina entregou a alma ao criador e aqui por Seia não há substituta ainda... Lá teremos que ir a Viseu encontrar alguma igual. Aqui na Serra a partir das 16h, 16,30h já pouco se vê apenas com a "lâmpada" natural, estando o céu completamente tapado pelas nuvens...

Não que este percalço faça esmorecer os Primos e Amigos! Mesmo na mais completa escuridão saberiam, pelo tacto e pelo olfacto, encontrar a espicha das pipas. É claro que o ambiente de média (menos) luz tem algumas chatices: partem-se mais copos (não se vê em o rebordo da mesa) e , ao fim do "trabalho" , para encontrar a porta da saída,  é por vezes necessário o gajo mais escorreito ir lá fora ligar os faróis do carro... Mas acho que isso tanto se daria com luz ou sem ela., dependendo do "atestamento" de cada qual com as pingas locais.

Para o cozido comprei enchidos aqui da Beira Alta, de uma marca que recomendo, embora não saiba se se encontram à venda por essa Capital do Império, a Quinta de Jugais, situada em OLiveira do Hospital.

http://www.infoempresas.com.pt/Empresa_QUINTA-JUGAIS-COMERCIO-PRODUTOS-ALIMENTARES.html

Apesar do fabrico ser industrial (mas certificado) os enchidos são todos fumados a lenha e o resultado final é bastante aceitável, muito bom mesmo. Se me perguntarem pelos enchidos feitos cá em casa, sempre direi que os que ainda fazemos são para comer em crú. Os belos paios do lombo e as farinheiras a estalar na sertã, com os grelos da quinta e os ovos das nossas galinhas estrelados por cima. Já lá vai o tempo em que matávamos nesta casa dois porcos de 180 kg por ano,,, A idade não perdoa ( minha sogra vai a caminho dos 80) e agora o que fazemos é comprar as carnes em fornecedor de confiança, e depois adubar (temperar) e fumar cá em casa.

Tivémos uma pequena disputa familiar em torno da grave decisão (muito séria mesmo!) de escolher para o almoço do 1º do ano , o Cabrito assado no forno ou o Cozido à portuguesa... Como a democracia aqui não resultou (deu empate) resolvemos fazer o Cozido já amanhã e guardar o Cabrito para o dia 1! Salomão não faria melhor.

Agora para a Cidade de Viriato. Lá almoçaremos  e depois conto como foi.

quarta-feira, dezembro 29, 2010

Olha que Pôrra!

Chegado a Nelas logo me deram a notícia de que o CEVVN só atendia mais "clientes" a partir de 4 de Janeiro... Lá ficou a nossa pinga para análise mais tardia... Inquirida a questão do desmando ficámos a saber que havia ...falta de material para fazer as análises. Quem manda (ou desmanda, neste caso) não tinha enviado o material a tempo. Dá para acreditar??!!
Já meio desconfiado e em cima do balcão onde voltei a comprar o Tinto de 2005 e o Branco de 2006 (12 garrafas por menos de 45 euros!! E muito bons para o dia-a-dia!) inquiri a Engª sobre a venda dos anos de 2007 e 2008 (no Dão excepcionais). A resposta quase me deixou sentado no chão:

 - "Não temos já vinho desses anos. Como não possuíamos garrafas nem rolhas, foi todo vendido a granel. Agora já nos deram o dinheiro para as garrafas e para as rolhas, pelo que engarrafaremos o tinto de 2009 e o branco de 2010 lá para Abril. Já os poderá comprar daqui a um ano."

Olha mas qu'a ganda Pôrra!! Tão a brincar com o pagode ou quê??!!

Bem sei que o Centro de Estudos não é um supermercado nem sequer uma empresa vinícola com venda à porta da Adega, mas c'um raio se estavam (eles e nós) habituados a fazer um miminho aos transeuntes e ao mesmo tempo a dar a conhecer o extraordinário trabalho que ali fazem, seria por falta de uns patacos para garrafas e rolhas que mudaram a estratégia?

A mim cheira-me mais a meandros (não do Vale Meão) mas sim das burrocracias deste Estado. Ou isso ou então a P*** da crise ainda é mais abrangente do que pensávamos.

Não há Direito, nem Jeito, nem Maneira!

Mas houve...

Ala para Vila Nova de Tázem. Ali se enfeirou um tinto Pedra da Orca de 2007 , Reserva , de Touriga, Alfrocheiro e Tinta Roriz, em garrafa de 3 litros, por cerca de 25 euros (roam-se aí com inveja!) e mais 6 garrafitas do branco Pedra da Orca de 2007, por cerca de 2 euritos cada garrafa (He, He, He!).

Fazem sempre falta em casa  uns vinhitos para o dia-a-dia dos sábados e domingos, nem sempre rainha nem sempre galinha!

E foi o que salvou esta manhã miserável. Isso e o Almoço, umas belas postas de garoupa que nunca tinha visto congelador, simplesmente cozidas em vapor  e acompanhadas com as couves e as batatas aqui da nossa horta. Couves tenras e doces , de chorar por mais, e que estão mesmo a pedir um Cozidinho à Portuguesa lá mais para o Sábado!

A acompanhar,  o nosso branco de borrada das moscas (bical),  e encruzado. É de 2009 e está bem bom.

Crónicas da Serra 2

Hoje é o dia de levar as amostras do vinho ao Centro de Estudo Vitivinícolas de Nelas, o antigo feudo do Engº Vilhena, "Pai" da moderna viticultura do Dão.

Veremos se neste ano de 2010 teremos tanta sorte com as massas vínicas como no ano passado.

O "adegueiro, viticultor e enólogo " residente pensa que sim, que foi bom ano, com sol e chuva a tempo... Mas a verdade é que já não dorme lá muito bem há uns 2 dias.

Aqui na Beira Alta, no domínio dos micro-vinhateiros, aqueles que fazem umas pipas para seu consumo próprio e das famílias, entregando o resto das uvas às Adegas Cooperativas, ainda há muito pouca tecnologia no modo de fazer vinho. As tradições que passam de Pai para Filho nem sempre são as melhores e , de vez em quando, o resultado final não merece o trabalho que deu...Eles, os "velhos" , costumam dizer:

 - "se o tempo foi de feição o vinho faz-se sózinho, se S. Pedro não o quis , nem o melhor engenheiro do mundo salva a vinha"

Mas aqui é que está o erro. É nas alturas em que o tempo não ajudou que mais trabalho especializado tem de ser feito na vinha e na adega. Agora, convencer disto pessoas que levam mais de 30 e 40 vindimas em cima dos ossos não é fácil...

Na nossa casa, e desde o tempo de meu Sogro, sempre vingou a ideia de que se o vinho saíu bem,  louve-se a divindade e o adegueiro. Se saíu menos bem, a culpa foi das intempéries..."

Mas faz pena ver uma casa que chegou a vindimar 12 toneladas de uva própria, das castas recomendadas do Dão (quase 7500 litros de tinto e branco), estar agora a fazer um "vinho de garagem" , um ou dois pipos .
A gestão deficiente e a má economia de algumas das Adegas das Cooperativas , aqui no Dão, em nada ajuda a desenvolver o pequeno agricultor. Depois de 3 anos ou mais à espera de receberem o dinheiro das uvas o que hão-de fazer? Quando para venderem para fora  têm de ter um conjunto de obrigações burocráticas , a começar no rótulo e a acabar na contabilidade organizada? Queimar o vinho para aguardente também não é opção...

Mas vamos lá para Nelas, e logo darei conta do que se passou....

 Acho que ainda se devem lembrar do "viticultor do Estoril" , o gajo do vinho de areia, da Praia do Tamariz...Salvo seja... (Por acaso havia uma marca de verde Quinta do Tamariz...)

terça-feira, dezembro 28, 2010

Abril pelo Natal (Ficção à moda da Serra, com tempero de Liberdades)

O Natal na Serra alumiado pelas estrelas de Abril

Sinopse: Conto exemplar que mete 3 Compadres serranos de volta com a proibição do vinho a granel nas Tabernas, mas sobretudo com as jornadas de Alfabetização , uma das melhores “colheitas” que o Abril da Revolução lá para cima deu…

Na época de Natal de 76 ou de 77 – não me lembro bem – preparando-se em casa de meus sogros (que ainda não o eram) a Consoada, houve marcação de reunião no Povo para discutir a questão das Jornadas de Alfabetização na terra.

Meu sogro – agricultor de casa farta e bem casado com a filha de um comerciante de gado – logo se ofereceu para dar vianda aos formadores naquela época festiva do Natal. Entre ele e mais duas ou três famílias da zona se fez a divisão da “brigada” que da Lusa Atenas se deslocaria àquelas berças para cultivar os incultos Viriatos.

Compareceram na reunião – já que a mesma se realizava paredes meias com a Adega respeitável do Tio Abreu - os famosos compadres Manuel da Angélica (Taxista, o único da terra), Zé Peido Manso (Pedreiro todo o ano, no Verão Mestre de Obras para emigrantes) e Ti Correia Môco (Pastor , surdo como uma pedra) , os quais andavam desconfiados…

Tinha corrido o boato desde a Aldeia da Serra até à Arrifana que o “25 Abril” tinha proibido a venda do Vinho a granel. Esse gajo do “25 Abril” até tinha começado bem. Mas agora, como todos os ditadores, extravasava a respectiva competência e ameaçava entrar em casa dos bons cidadãos… Para já não falar do bolso, pois raro era o pequeno agricultor que não fornecia alguns garrafões ao Clube lá da terra (“clube” foi o eufemismo do tal “ Abril” para “branquear” algumas das velhas Tabernas locais).

Não havia assim tantas Tabernas em S. Martinho. De facto, para uma povoação que não teria menos de 900 almas, cheguei a contar quando lá cheguei apenas 18 tabernas. Poucas, se tivermos em atenção o consumo per capite do tinto, branco, palheto, água pé e bagaço. Cervejas , nesses tempos benditos, eram coisas mais de cafés ou clubes, casas como os “Náquesbares”, de quem o serrano antigo desconfiava, atribuindo à respectiva frequência – se calhar com alguma razão - algumas das causas da já então apregoada infertilidade nacional.

Já farto de dizer aos Compadres que aquilo do Vinho a granel vir a ser proibido não era mais do que uma aleivosia da Reacção, criada de propósito para comprometer a jovem Revolução, o recém-eleito Presidente da Junta (primo de meu sogro) não se conteve mais que não lhes dissesse: “E se não acreditam perguntem aos formadores que cá vêm dar a Alfabetização, seus tinhosos!”

Dito e feito. As Jornadas logo ali angariaram mais três alunos. E que alunos...

Isto apesar dos Compadres passarem em todo o lado como sendo letrados numa perspectiva lato sensum, isto é , pelo menos teria a 4ª classe o Taxista (quase de certeza), o Pedreiro (já não juraria) , e quanto ao Pastor, vou ali e já venho que as ovelhas não se confessam… Mas quando estavam todos juntos sabiam de facto ler e escrever.

No Salão da Paróquia amontoavam-se, na primeira noite, 7 ou 8 homens meio desconfiados a ouvir falar os “Doutores” de Coimbra. É claro que quando se soube na aldeia que os tais Formadores eram uma  rapariga bem-apessoada e um homem (que ainda por cima tocava guitarra), a audiência serrana aumentou deveras nos dias seguintes, para gáudio do Presidente da Junta, que hipotecava o seu futuro político naquela acção.

A “Doutora” mostrava ao Ti Correia Môco a gravura de um pato num charco. Aos gritos, que o homem era surdo, perguntava:
- Sr. Correia um “P” e um “ A “ como se lê?

E o velho Ti Correia respondia:

“- PA”!

“ – Muito bem Sr. Correia! E agora como se lê um “T” e um “O”?”

Resposta imediata:

“- TO”!

“Muito Bem! Junte lá agora as sílabas Sr. Correia”

E a resposta bem alta foi:

“- MA-RRE- CO”!

“ -Marreco? Oh Sr Correia…Marreco é que não…”

À estudante de Coimbra arvorada em mestra de alfabeto não lhe passava pela cabeça que para aqueles lados “pato” sempre fora “marreco”…

“Passemos a esta linda gravura com uma palavra mais simples, Sr. Correia. Como se lê esta letra “N”?

“ – É um Nê”.

“-Muito bem Sr. Correia! E esta aqui “O”?

“ – Essa é um “Ó”.

“ – Bravo Sr. Correia! Junte lá as duas letras para fazer a Palavra”

E lá veio a resposta do Pastor, pausada e bem alta:

“ - COR-DA”

E assim se passava a Alfabetização aos serões, como imaginam melhor espectáculo que ver a TV a preto e branco em casa do Padre…

A páginas tantas de uma dessas sessões, o compadre Manuel da Angélica lá arranjou coragem e virando-se para o Homem formador perguntou-lhe:

“- Com licença do Senhor Professor pergunto se sabe alguma coisa do Vinho?”

O barbudo rapaz de Coimbra, estudante universitário como a  colega, não entendeu bem, mas não quis ficar como ignorante:

“ – Eu sou Finalista de Economia. Vinho é mais com os Engenheiros Agrónomos, mas pergunte lá à mesma que logo verei se sei responder”

“ - Oh Sr. Professor, dizem que vão proibir o vinho a copo…”

O rapaz-professor cada vez menos entendia para onde o queriam levar… Mas continuou:

“ – Não Senhor! Mentira! Manobra da Reacção! O vinho a copo é o futuro! Há muita gente que não tem vontade de beber mais do que um copo a cada refeição e lhe impingem à força a garrafa! O Senhor, por exemplo, quantos copos bebe ao almoço?”

O silêncio que se seguiu dava para ouvir cair um alfinete. E muito baixinho lá veio a resposta:

“ - Pão bolorento, pouco vinho e vinagrento, sardinha salgada, Cava tu Enxada!”

E assim acabou aquela aula… O Manuel da Angélica saiu em ombros, e se fosse toureiro, naquela noite teria cortado orelhas e rabo!

O Compadre Ti Correia Môco, aliviado da pressão da sabatina, também não se conteve sem dizer:

“ - Desta já me livrei. Homessa que estou todo suado como se tivesse ido daqui à Carrapichana a pé com o rebanho!”

E logo lhe chegou o responso do Pedreiro (bem alto que o outro era surdo):

“ - Descanse Compadre Correia que já passou, olhe como é refrescante o relincho de um burro quando o aliviam de toda a carga…”

“ – De um Burro? Homessa!”

Está claro que acabou tudo à estalada. Mas logo fizeram as pazes… na Taberna mais próxima.

Comentário

Uma Colega e Vizinha Comenta a 1ª Crónica da Serra:

Sendo uma sua leitora assídua,aqui fiquei á espera da crónica da´"Serra".Também eu ainda hoje vou aí para cima, mas para perto do Porto. Se não fosse também para comer, estar à lareira e descansar, morreria de inveja...



Desejo-lhe um Bom 2012, para  Sua Mãe e não esqueçamos... o Seu Senhorio.Bom,com Saúde e Paz,porque o resto...já nos espera...

Comentário ao Comentário: Muito Obrigado e venham devagar que a estrada não está para brincadeiras! Bom Ano!

segunda-feira, dezembro 27, 2010

Crónicas da Serra 1

Chegados à Beira Alta por volta das 12,30H fizemos o teste da temperatura: 0 graus, mas a parecerem 3 negativos (informação do software ACCU Weather)!!

No cemitério a água tinha congelado dentro das jarras. Para pormos as flores que vieram de Cascais houve que primeiro aquecer a jarra com as mãos e água corrente para conseguir retirar os ramos congelados lá de dentro.

E isto ao Meio-Dia, quero ver como será logo à noite… A não ser que o tal de Accuweather se tenha enganado…

(Aqui para nós não seria nada de admirar para uma coisa com tal denominação meio escatalógica). Mas de facto parece mesmo frio. Demasiado frio.

A Feijoca com pé de porco estava saborosa e , rescendendo do lento apurar ao lume, desde as 9,00h da manhã, convidava a vagares de garfo e faca, ensopando o bom pão de centeio do Sabugueiro naquele molho convidativo, ao mesmo tempo que se estalavam os lábios com os 14,7 graus do Tinto da casa, Dão da colheita de 2009.

Que fazer com este briol a dobrar? O do frio e o do tinto? Ficar ao pé da lareira a ler um bom livro é sempre opção, outra – e já que a vigilância das florestas não esmorece ( e muito bem, enquanto houver dinheiro da Câmara) nos Invernos – seria acompanhar os bravos Vigilantes nas suas lides…

Infelizmente cheira-me a trabalho pedonal. Não é para isso que cá estou. Venho, e com todo o gosto , dedicar-me ao trabalho “braçal”: mexer os tachos, cortar as batatas, aparar as couves ( que maravilha, doces de fazer inveja!), e coisas assim.

E já me esquecia, muito sossego para planear as refeições. Esta noite um Caldo Verde à antiga, seguido de uma travessazinha de bacalhau assado. Amanhã um lombo de porco preto assado, com couves da nossa horta e batatas assadas (também aqui criadas). Depois logo se verá.

Vamos mas é provar o vinho da vindima de 2010 – pronto para beber lá para a Páscoa que vem, bem sei, mas provando-o já garantimos que está no bom caminho. Ai dele se não estiver!

Amanhã é dia de missa e de recordações complicadas, bem tristes nos últimos tempos da nossa convivência , mas as mais das vezes felizes. 20 anos de vida em comum, 17 de Sol e 3 de tempestades. Mas é sempre no Sol que temos de apostar, ao fim destes 11 anos.

Estou entretanto a acabar mais um conto dos três compadres- Zé Peido Manso, Ti Correia Môco e Manuel da Angélica - que partilharei convosco amanhã ou depois.

Está mesmo muito frio. Está frio para burro Senhoras e Senhores! E não posso (para já, por agora, de momento) consolar-me agarrado à bela aguardente de zimbro que meu sogro fez há mais de 25 anos, sob pena do bacalhau parecer algum barrote queimado daqui a pouco.

Mas à sossega cá te espero ! Olá se te espero, venhas de caras ou de cernelha não me escapas.

quinta-feira, dezembro 23, 2010

Ausência do Blogger


















Amigos Leitores

Começo hoje o habitual período de Férias da Quadra. Primeiro aqui no Estoril, parto depois do Natal (hélas...) para a quinta.

Devido a outro tipo de ocupações, é provável que os Posts sofram  atrasos...

Não quero deixar o vosso contacto diário sem desejar  a todos as Boas Festas e   um Natal tão bom como desejaria para mim e para os meus. Lá da Beira Alta retomarei o V. convívio com as também habituais Crónicas da Serra.

quarta-feira, dezembro 22, 2010

Maigret Comenta o Bazar

Na dúvida sobre Basar ou Bazar aqui vai a resposta final:

Segundo a edição revista e actualizada de 2009 do Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto editora, é "bazar - fugir precipitadamente; desaparecer; vazar (do quimbundo kubaza, romper)". Mais esclarecimentos estão disponíveis no excelente Ciberdúvidas da Língua Portuguesa em http://ciberduvidas.sapo.pt/pergunta.php?id=25961

Despeço-me com o meu contributo para o "optimismo" reinante: Fugir, bazar, emigrar são verbos que não me tenho cansado de repetir aos meus filhos nos últimos tempos - fujam daqui para fora! emigrem! que era o que eu devia ter feito há anos atrás!

Comentário ao Comentário : Emigrem , sim, mas escolham bem para onde vão...Há quem esteja igual ou pior... Rumo ao Oriente. Isso é que era.

Bazar ou Basar? (haja alegria a pedido dos Leitores)

Depois das cores algo sombrias do Post de ontem vários Amigos leitores por aí telefonaram, queixando-se:

 -" E que era Natal, e que de tristezas já chegava. E que o Post era muito comprido e não havia pachorra. E que não vinham para aqui ler M*** destas, e que sff publicasse mas era Receitas e crónicas de vinhos. E na falta dessas alguma anedota..."

E esta hein? Como havia de ter sucesso neste País o "Amor de Perdição"  do Oliveira (puto) ? História triste e a acabar mal como a trampa, 4 horas e 20 minutos de filme??!!

País de ignorantes e energúmenos!

Mas como não quero perder a audiência, lá me vou vender como fez o Saldanha aos ingleses (embora neste caso teria sido porque o desgraçado  tinha muitas despesas...).

Podem-me chamar nomes mas não deixem de vir aqui ler...

Bazar ou Basar?

A língua portuguesa , nossa Pátria pessoana, não deixa de se enriquecer. Depois do famoso "Bué" de nostálgicas e africanas inflexões, surge no dia-a-dia popular jovem a palavra "Basar" ou "Bazar" , que significaria:  "Pirar-se, dar aos de Vila Diogo, Fugir, Estar no ir, Ala que se faz tarde, Vou-me embora que a velha não perdoa, Porra olha p'rás horas que são! , etc, etc..."

Tenho dúvidas sobre a correcta ortografia do prezado neologismo. Será Bazar ou Basar? A boa gramática diria "Bazar", mas a maltosa utiliza sobretudo com o "s". Dou aqui um exemplo de uma conversa de jovens pela Net, a qual retirei de um Blog juvenil, com a devida vénia:

"-1st of all oi quem es tu ?
-Pll,e verdade ke o ET vai acabar?e verdade ke o wolfenstein quake wars vai ser o jogo a substituir o ET?
 -Nao se admite!!!!!
- Pll a basar do ET pra ir jogar Quake wars!!!!
- O Et nao dura muito!!!
- Nao e justo!!!!!!!!!!! Alguem ke faca alguma koisa!!
- [ palavra feia que em calão significa procriar ] FALAI PORTUGUES DE GEITO CARAI IDE PARA A PRIMARIA APRENDER A LINGUA DE CAMOES COMO O LAVZZI DISSE DA-SE CARAI!!
 - sabes jeito ou geito? Tenta descobrir.

 - o morcon é do Porto... é outra nação se calhar lá disse "geito"...

Perceberam? Eu também não. Mas adiante que não estamos em Amarante.

Retomo a discussão - Bazar ou Basar? Defendo Bazar, nem que seja pelas reminiscências da palavra, dando asas à imaginação do vosso Blogger, sentindo-se outra vez em Istambul, atrás de um comprador de tapetes  compulsivo (roedor de nome), tentando deixar as infindáveis conversas à volta do chá de menta, na loja dos comerciantes turcos,  por uma escapadinha ao verdadeiro, ao Alma Mater de todos os Bazares do Mundo: O Grande Bazaar de Istambul!

O velho e grande  Bazaar de Istambul é uma maravilha de cair para o lado. Convém é que caiam de forma a que a carteira fique entre o corpo e a calçada, por causa de umas coisas... Mas de cair para o lado em todos os casos. Cito uma grande viajante e amiga, que prefere o anonimato, sobre esta maravilha turca:

"O Grande Bazar é um mundo especial, único, diferente, uma mistura de culturas.

As luzes da rua das joalharias, o entrar e tocar em alguma que esteja na montra, e ver que todas  que têm uma temperatura especial, e o jogo do regateio, tudo isto  são experiências que se podem viver ali. Além disso, há sempre algum dono que te convida a entrar no seu bar para beber um típico chá turco.
Ainda que já não seja o mesmo bazar de há uns anos, melhoraram os bares de dentro que agora são de design.
É maravilhoso passear pelas ruas em que podemos ver antiguidades, reparação de calçado, zonas de livros, enfim, cada passo é um momento inesquecível. E depois a tranquilidade com que vendem e com que te chamam à atenção para que observes bem os seus artigos é fantástica.
É um lugar que ou se  ama ou  se odeia. Eu apaixonei-me. "

Bem, eu também gostei, nem que fosse para "bazar" (lá está) ao Roedor e seus múltiplos encontros carpéticos, mas a bem dizer e confessando-me aos leitores, não vi assim tanta poesia disfarçada no Bazaar... Gente em catadupa, lojas , lojinhas e caves de Aladino não faltam, Os proprietários falam (ou dizem que falam) todas as linguas do mundo (embora a mim me tenham falado em castelhano de Sevilha). E aquelas mãozinhas nunca param de nos encantar (mão na carteira pessoal!).

Ali  tudo se vende. Pelo menos assim parece, desde peixe fresco e marisco até relógios Rolex em ouro (pelo menos assim parecem, repito). Penso até que será aquele um belo sítio alternativo para abastecimento de um conhecido nosso, que também prefere o anonimato, pessoa muito discreta, e  que se vai amanhando como pode a vender Audemars Piguet, Patek Phillippe e IWC importados directamente da Tailândia,  sem passar pela Suiça... E bem mais baratos...

E como já escrevi alarvices demais hoje despeço-me com um pequeno poema (uma jóia do português jovem actual) também ele descoberto no tal Blog juvenil atrás citado (não, não digo o nome do Blog, queriam ir lá gozar com os putos não? Pedófilos!!)

Trata-se, convém explicar, de um poema curto de um jovem a querer fazer as pazes com a sua "chavala":

que o nosso amor acabou
pois eu não tive a noção do seu fim
pelo que eu já tentei
eu não vou ve-lo em mim

Gostaram? Eu também não...

Até amanhã que me baso (ou bazo) para o work carai! (olha ke isto pega-se!! Da-se!!)

terça-feira, dezembro 21, 2010

A caminho de uma nova vida, pior do que a temos todos...

Aproxima-se em passos desmesurados o fim deste ano de má memória...Penso, mesmo assim, que o que chega será ainda pior no que toca ao nosso bem estar material e, por acrescento, mental.

Em Janeiro os funcionários e trabalhadores do Sector Empresarial do Estado começam a subida ao seu calvário.  Esse seu calvário, ou muito me engano ou será o calvário de muito mais gente, daqueles portugueses que necessitarem de um serviço público e começarem a notar a má vontade, a falta de comprometimento, a desmotivação dos que para lá estão dentro dos balcões , fazendo o mesmo trabalho de sempre ou ainda mais e ganhando menos...

As baixas por motivos de saúde vão ser cada vez mais frequentes. O "stress" da profissão vai desculpar muita coisa... Os que sempre foram maus trabalhadores têm agora mais uma razão para piorar. Os que sempre foram bons e que se defrontam com a baixa real do salário e com a inexistência de qualquer incentivo à performance de excelência, vão passar a olhar para o lado e a dizer para com os seus botões:

-"Venha para cá trabalhar quem causou esta trampa! Se o colega do lado nunca fez nada e agora está exactamente na mesma situação do que eu, porque raio é que me devo esforçar?"

E têm razão... Por muito que nos custe, têm razão...






















Nos CTT não será diferente. Com a abertura total ao exercício da actividade postal já em vigor a partir de 1 de Janeiro, esta seria talvez a pior das piores alturas para implementar medidas estranguladoras do incentivo ao bom trabalho e à produtividade. Não me desculpo da respectiva inevitabilidade,  apenas constato um facto: na altura em que vão aparecer os concorrentes,  os Trabalhadores desta casa ( e das outras) deveriam estar completamente focados no bom serviço, na fidelização dos Clientes, no fazer bem à primeira vez... E não me parece que estejam.

As pessoas dedicadas que têm condições para se reformar não vão deixar escapar esta oportunidade, mesmo que perdendo dinheiro.

E como será possível motivar sem esperança para dar às gentes e sem algo mais do que o "papão" do Desemprego para agitar à frente dos narizes? Trabalha ou não comes? Trabalha mais ou perdes a casa? Trabalha ou vais ver os teus filhos a carregarem baldes de cimento por não teres podido pagar a escola?

Esta motivação pela negativa para além de relativamente ineficaz em termos de produtividade real,  é muito perigosa. Foi ela que esteve na base da construção das sociedades industriais primitivas, ditas "do capitalismo selvagem". Teve por consequências a revolta social e , pelo menos, uma Guerra Mundial.

Se não existrirem alternativas positivas para motivar as "hostes" receio que o caminho a percorrer se torne impossível. De facto existem limites para aquilo que se pode obrigar qualquer pessoa a fazer. Sobretudo se o que se lhes mostra à frente são mais sacrifícios e penas acrescidas.

Imaginem que se mostra às pessoas uma Fossa como a da imagem. Essa fossa foi cavada por Senhores Doutores que,,ou estão ausentes nas Caraíbas, ou continuam sentados às mesas do Gambrinus no intervalo das decisões "momentosas" que tomam nos seus bancos...  E então diz-se às pessoas normais:

-" Vá, salta lá para dentro dessa fossa! Ainda não sabemos bem quando e como te vamos tirar daí, mas para já é preciso que saltes lá para dentro!"

Vocês saltavam? Ou mandavam quem os manda ir à frente para ver como era, e depois cá vir contar?

Ou os "Dirigentes" desta Europa amaldiçoada encontram uma "frente comum" de entendimento que permita dar esperança aos tristes, ou então preparemo-nos para dias de luto.

O Japão e a Alemanha dos anos imediatamente a seguir à II Grande Guerra terão vivido situações deste tipo.  Mas os sacrifícios eram para todos, não para uma classe social seleccionada para bode expiatório da nação! E as pessoas tinham uma grande vantagem em relação a nós: acreditavam nos seus dirigentes de então. Para já não falar da ajudinha do General Marshall...

Tempos difíceis...

segunda-feira, dezembro 20, 2010

Mistérios de Lisboa

Existem alguns mistérios em Lisboa.

1) Um dos mais estranhos, sobretudo para um velho frequentador da Versailles, é a azáfama com que as obras no separador da Av. da República em frente à conhecida pastelaria, ora param , ora recomeçam, ora há quem avise que terminaram, ora há quem venha dizer que "afinal ainda não...".

2) Um outro "Caso" complicado tem a ver com os  moradores e logistas da Duque de Ávila , no troço ente a Av. da República e a Defensores de Chaves, que  têm obras à porta e a rua fechada há...6 aninhos. Pois. São 6 Anos, não são 6 Meses. Falo às vezes com a dona da Farmácia ali ao pé, que me diz que só aguenta porque despediu  pessoal e faz ela as honras do convento aos pobres transeuntes, enlameados e cheios de pó, que por ali ousam passar. Pois...

Mesmo que tenha havido marcha-atrás da CML face ao 1º projecto de tornar aquela Avenida apenas pedonal, o certo é que ninguém indemniza, ninguém se preocupa em saber o estrago que a Obra causou aos locais nestes 6 anos.

3) Outra coisa estranha é a frente ribeirinha da Praça do Comércio e as obras de Santa Engrácia que por lá se arrastam. "Tem a ver com o Metro", dizem-nos. "Tem a ver com o túnel que meteu água" - também  nos dizem. Terá a ver com o que quiserem, mas convenhamos que - para a chamada "sala de visitas " de Lisboa - o que quer que seja está a demorar tempo de mais... E, já agora, qual pato-bravo fabricante de Piscinas em plástico terá pago à CML para "espetar" uma piscinona com o feitio de Portugal, mesmo à frente do Tejo de nós todos?! Aquela bosta estraga a vista às pessoas e causará decerto bué de más disposições, enjoos e vómitos, digo eu.. Para que serve? Para que as criancinhas ainda saibam qual o feitio deste pobre País? Para que os "Nuestros Hermanos" tenham a garantia que para lá de Badajoz não fica apenas "El Mar"?  Será uma metáfora para significar a "água que alguém meteu" com toda esta trapalhada do Túnel naquele local? Alguém pode explicar?

4) Para terminar pergunto porque motivo se está a gastar um dinheirão a fazer um Parque subterrâneo de estacionamento por baixo da Praça D. Luis I, à Ribeira, quando é certo e sabido que essa zona de Lisboa está a ficar cada vez mais desertificada? Será para albergar os automóveis da "malta" que vai aos Jantares do Partido (seja ele qual for) no 1º Andar da Praça da Ribeira? Mas isso dá-se apenas nos períodos eleitorais...Será para guardar os 7 ou 8 carros dos "seniores" que se reunem para dançar à tarde de Sábado e Domingo no mesmo local? Ou para apoiar a estação do Cais do Sodré?  Mas apoiar como? Quem vem de comboio não traz carro.... Quem pretende sair de Lisboa de Comboio virá de Metro para ali, não é? Este é que é um Ganda Mistério também...

Pobre Lisboa.

sexta-feira, dezembro 17, 2010

Para Descansar a Vista

Tendo como tema a própria Poesia  aqui fica uma peça fundamental de de Herberto Hélder.

Nota: Mar de Dezembro é uma pintura de Irena Jablonsky


Sobre um Poema

Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.

Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.

Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.

E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.

E já nenhum poder destrói o poema.

Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.

- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.

- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.

Herberto Helder

quinta-feira, dezembro 16, 2010

Algumas curtas antes de ir para a Mesquita

Não, não me converti ao Islão amigos leitores. Por enquanto, pois aquelas questões dos "jardins das delícias" a que os crentes terão direito na outra vida possui algumas particularidades que pôem um homem a pensar...  Já  as mulheres parece que não se entusiasmam muito... Mas no caso presente vou para a Mesquita para uma reunião sobre temas de Selos nos anos futuros.

Agora sim, algumas notícias curtas:

a) A primeira para lamentar a morte do Amigo Pinto Coelho, sempre pronto a ajudar a Filatelia e a divulgar no seu "Acontece" os nossos Livros e outros eventos. Boa Viagem Amigo!

b) Depois e segundo o sempre omnipresente "WikiLeaks" parece que  de acordo com informação secreta do Embaixador Norte-Americano em Lisboa, "existirão alguns esquerdistas dentro do PS"...  Quem diria hein??!! Ficamos informados e até agradecemos a dica, embora se possa considerar algo fantasiosa. De facto ultimamente não se tem dado pela espécie dentro do dito P"S"...

c) Termino citando de novo o Wiki. A Euro-Deputada Ana Gomes é descrita como "Um Rottweiler à solta..."
 E eu acrescento," que nunca lhe ponham açaimo!"

 Fazem falta estes cães de guarda da democracia, cada vez mais raros . São eles e os tais "Socialistas"...

Até amanhã, com poema.

quarta-feira, dezembro 15, 2010

E o Jantar até parece que esteve Alegre!

Jantar não jantei, porque com esta idade já não como qualquer coisa e beber muito menos... "A vida é demasiado curta para se beber mau vinho!" Mas fui dar o meu apoio solidário à "causa" , não esquecendo de recomendar a todos com quem falei  S. Judas Tadeu (o Santo das causas perdidas) mas ninguém achou graça... Está-se a perder o sentido de humor à esquerda.

A sala, para minha estupefacção estava bem composta, muita gente novinha, sobretudo mininas de encher o olho (quase que me fizeram estremecer no firme propósito de não jantar) . Disseram-me mais tarde que era a " malta do Bloco". Por mim só digo: abençoado Louçã por trazer tanta ( e tão boas, salvo seja ) juventude para o palco da luta política!

Vim a ouvir o candidato na radio e muito rápido para poder estremecer de ansiedade com o debate televisivo nº 1: PC contra a AMI. Fiquei a saber umas histórias de galinhas com pão no bico, segundo parece presenciadas por ambos os candidatos. A galinha é que não seria a mesma. Digo eu...

Por mim, que não sou de cerrar fileiras em torno destas matérias e que prefiro uma posição mais diletante, à moda de Petrónio Árbitro, pareceu-me mesmo assim que a postura de Fernando Nobre terá convencido mais as audiências... À custa de uma certa demagogia , é certo.

Vamos esperar pelos outros debates.

Agora estou de partida para a Clínica.

terça-feira, dezembro 14, 2010

Nos atalhos da saúde

Hoje e amanhã ando pelos Hospitais. E porque a minha Santa cá de baixo não tem paciência para esperar pelas consultas da "caixa" ( e o caso era perigoso) houve que recorrer aos privados.
Começo por referir que o atendimento à entrada é bom, que as meninas que fazem o check in (ou lá como se chama) das consultas são novas, bonitas e despachadas. E que o Médico atende às horas marcadas e  até pede desculpa por ter chamado a "cliente" uns minutinhos para além da hora marcada.

Que grande diferença entre o velho consultório de alguns médicos da minha meninice, onde se esperavam 2 e 3 horas pelo Sr Doutor...

O Médico neurologista que calhou na rifa hoje é inglês e fala português bem, embora com acento um bocado (muito) distinto do nosso e com o improvável  sentido de humor que teria um português a fazer "gracinhas" com a língua de Shakespeare como se tivesse lá nascido, em Stratford-upon-Avon...

A Santa ainda por cima,  e embora nunca o reconheça, vai perdendo o ouvido ... Haviam de ver.

- "A Senhorra Dª Alberrtina queixou-se de quê?"
- "Diga?"
- "De que se Queixa?"
- "Eu não me  queixo que não sou de andar por aí aos gritos"
-"Mas se não se queixa porque veio cá minha Senhorra?"
- "Não me queixo mas dói-me! Sim senhor! Ora querem lá ver! Dói-me e muito. Só que ninguém me ouve!"
-" Mas se a Senhorra não se queixa como haviam de a ouvirr, não é? Hi,HI,HI, agorra tive grossa não tive?"
-"Grossa!?"
- "Oh Mãe o Sr quis dizer Graça"
- "Estamos bem servidos..."

E por aí fora... Amanhã ala para o neurocirurgião, na mesma clínica,  para ver se há ou não operação no horizonte próximo.

Pronto por hoje acabou-se. Vamos para a Ribeira para o Jantar de apoio ao Manuel Alegre que, pelas últimas notícias via telefone e SMS, e à conta do "nevoeiro" em Lisboa (boa desculpa!), terá tanta gente como um velório de um prestamista usurário... mas a ver vamos e amanhã aqui comento.

segunda-feira, dezembro 13, 2010

Danos Colaterais da Quadra: Os "enfartamentos"

Já não bastava o Natal trazer consigo  aqueles problemas todos existenciais:

"O Natal com quem? E o Fim de Ano? Onde ir passar a noite e o dia, e com quem, e o que se deve fazer para comer ? E contar bem  as prendas que me posso ter esquecido de alguém e olha que por azar esqueci-me mesmo  da prenda da Tia que a Mãe convidou para a ceia e etc, etc...".

Para além destes estados de alma que desarrumam o mais bem alinhado dos cérebros, outro problema da Quadra são a catadupa de Almoços e Jantares com os Amigos e Família, mais proxima ou  mais afastada.

E não me refiro apenas ao inevitável alargar do cinto a que não me consigo escapar nestas alturas, por muito que me queira controlar, mas sobretudo às noites mal passadas com o estômago a dar voltas e com a azia a vir ao de cima ...

Numa semana e meia conto nada menos do que 7  convívios destes, alguns ao fim de semana, onde o "repasto" nunca dura menos de 4 horinhas... Outros durante a noite dos dias de trabalho, onde temos sorte se conseguirmos chegar a casa antes da 1 da manhã....

É verdade que o vosso Blogger tem em seu poder a maneira infalível de resolver o assunto: fechar a boca, dar descanso à cremalheira, defender-se dos refogados e assados, fugir dos digestivos.

Estas boas intenções duram algum tempo, normalmente até nos sentarmos à mesa ... Depois começa o olfacto a deixar-se embalar, a vista não desdenha e cobiça... mal dou por mim e já o índice de salivação subiu acima do DEFCON 2... . A mão,  já acaricia o garfinho que pica a fatia de Pata Negra... Está o desastre consumado. Estou perdido

Ainda por cima nestes convívios os Amigos primam por trazer o melhor que lá têm em casa (normalmente para beber..) o que também não ajuda nada a manter as premissas franciscanas que enquadraram os meus propósitos originais.

Ainda ontem no "Beira Mar" foi uma desgraça... A convite de um pescador e armador local (dos muito poucos , por acaso são 2, que ainda pescam com aparelho de anzol em Cascais) compareceram à convocatória 2 Robalos de bom tamanho  amanhados ainda vivos, um à moda do Beira Mar e outro assado no forno, e mais um Sargo assado no Forno, apanhado durante a noite anterior no Cabo da Roca. E, já me esquecia, para entrada a famosa receita do Minho,  de Bacalhau à Zé do Gato, preparada pelo Paulinho e que deixou muito boa impressão em todos os convivas... Olhem lá para a travessa e digam se não parece uma Pescada no Forno? Mas não é! É Bacalhau demolhado inteiro, a quem se tira a espinha e depois se enrola com migas do próprio bacalhau, gambas e ameijoas, pedacinhos de presunto. Só azeite por cima, atado com um cordel tipo fio norte e. ..forno.

Tenham em atenção a extravagância: mais que 6 kg de peixe , uma travessa de Bacalhau no Forno, fora o queijo da serra, o Pata Negra, os docinhos só para preencher os cantinhos... E para beber? Imaginem que  Mestre David trouxe: Pera Manca Tinto, Tiara Branco em Magnum, Vinha Pan, Borba Reserva Tinto e ainda mais outro Douro de que não me lembro agora... Lá da casa havia o Quinta da Sequeira Reserva de 2004 (soberbo) e aqui o Blogger (como era um almocito de peixe, levezinho) arrematou ainda com 4 garrafas de Quinta dos Carvalhais Colheita seleccionada , branco de 2005... E mais um Porto Vintage Castelinho de 1991... E mais uns digestivos a falar escocês com sotaque "maltês" ...

É estranho que um gajo se afiambre a estas viandas e depois se sinta com o estômago um bocadinho pesado?

Não, não é nada estranho. Antes fosse, porque era sinal que só acontecia muito de quando em vez....

À saída eu só pensava em como era  mister - e não estou a brincar - reforçar a contribuição lá para o Padre da Paróquia no próximo Domingo, para  ajudar quem precisa mais e para lavar em parte a alma destes exageros . E é o que faço sempre. Hipocrisia que baste, bem sei, mas como da gula não me livro, ao menos haja quem beneficie alguma coisa dos meus desmandos.

Live Long and Prosper! Como dizia o orelhudo...E eu parafraseio: Live Long and Prosper Amigo Tó Simão, Amigo David, Amigo Paulo, Amiga Lurdes! E eu que esteja cá (com o senhorio)  não apenas para ver - que isso dá pouco gozo - mas sobretudo para os ouvir, beber e comer convosco!

sexta-feira, dezembro 10, 2010

Para Descansar A Vista

Em continuada homenagem ao decano dos realizadores aqui vão poemas sobre a Velhice.

 E, mesmo que como meu Mestre Torga diz "não haja frutos dessa Primavera",  melhor é (sempre!) amar tardiamente do que nunca ter verdadeiramente amado.




































Alma Serena

Alma serena, a consciência pura,
assim eu quero a vida que me resta.
Saudade não é dor nem amargura,
dilui-se ao longe a derradeira festa.

Não me tentam as rotas da aventura,
agora sei que a minha estrada é esta:
difícil de subir, áspera e dura,
mas branca a urze, de oiro puro a giesta.

Assim meu canto fácil de entender,
como chuva a cair, planta a nascer,
como raiz na terra, água corrente.

Tão fácil o difícil verso obscuro!
Eu não canto, porém, atrás dum muro,
eu canto ao sol e para toda a gente.

Fernanda de Castro, in "Ronda das Horas Lentas"


Frustração

Foi bonito
O meu sonho de amor.
Floriram em redor
Todos os campos em pousio.

Um sol de Abril brilhou em pleno estio,
Lavado e promissor.

Só que não houve frutos
Dessa primavera.

A vida disse que era
Tarde demais.

E que as paixões tardias
São ironias
Dos deuses desleais.

Miguel Torga, in 'Diário XV'

Chapelada ao Tio Manel

Manuel de Oliveira, esse "puto" ladino, completa amanhã 102 aninhos!

Daqui deixamos à família (já os deve ter enterrado a todos, mas vá lá...) aos amigos, e obviamente ao feliz contemplado pela fortuna, os melhores Votos de Felicidades e de muitos anos ainda  de boa  Vida (Pôrra!!!) 

Ah Manel, uma coisa é certa: de uma paralisia infantil já não deves morrer...

Parabéns!

quinta-feira, dezembro 09, 2010

Corrupção e Economia Paralela

É hoje que se celebra o Dia Mundial contra a Corrupção.  No mesmo dia em que a Universidade do Porto (Faculdade de Economia) publica uma Tese sobre Economia Paralela em Portugal, onde se observa que a mesma já é responsável por cerca de 25 % do PIB nacional. Se este tiver sido mais ou menos 167 mil milhões de euros (em 2009) teremos que a economia subterrânea já representa  41,75 mil milhões de euros... É Muito! É enorme!!

A tributação fiscal desta economia daria para pagar grande parte dos efeitos perversos desta Crise em que estamos enfiados...

Destes quase 42 mil milhões de euros, a grande maioria diz respeito a Serviços. Os "biscates" lá em casa, as reparações do automóvel sem recibo ou factura, os almoços também sem factura, a consulta médica sem recibo, etc...

Toda a actividade resultante da economia paralela tem a ver com a Corrupção no sentido lato. Se pagamos ao "artista" que lá foi ver o esquentador sem factura, estamos a ser corruptos passivos, porque ao roubar a fazenda pública estamos em grande medida a roubar a Assistência Social, a tirar dinheiro ao Serviço Nacional de Saúde, a impedir o regular pagamento das Bolsas de Estudo aos estudantes pobres,  e por aí fora .

Porque motivo existe então - e com tal dimensão, a maior de todos os Países da UE - esta Economia paralela no nosso País?

Em primeiro lugar porque (à primeira vista) sai mais barato a todos: a quem paga (porque paga menos) e a quem recebe (porque recebe livre de impostos). Em segundo lugar porque deixou de haver confiança nos poderes constituídos e na sua capacidade para "tratarem bem" das nossas poupanças que têm a forma de impostos. Muito boa gente receará que o dinheiro dos seus Impostos, em vez de servir para o que deveria , seja gasto em utilizações pouco aceitáveis , como as tais "grandes obras do regime".

E a economia paralela vai aumentar! Porque é dos livros que estas actividades florescem em situações de crise, onde aperta o cinto o cliente e prospera o biscateiro. Onde aumenta a carga fiscal, que torna o pagador "chico esperto" e o tal cliente conivente porque não pode abater ao seu IRS as tais despesazinhas  ...

Dizem alguns economistas  que a economia paralela não significa apenas atraso e negatividade... Terá, por exemplo, um efeito positivo na reanimação do consumo (restaurantes,bares e discotecas,  electrónica de consumo, viagens e mercado automóvel).  Em Itália ficou famosa a afirmação que teve por base a situação em Nápoles, há alguns anos atrás, segundo a qual a cidade "vivia" em grande parte da economia paralela associada ao turismo. E permitam-me que diga - no nosso Algarve?  Quantos quartos particulares serão pagos com recibo, nos meses de Verão?

Pode ser  que na Suécia ou na Dinamarca esta actividade criminosa - fruto da aplicação e gestão honrada e criteriosa dos dinheiros públicos que costuma ser feita nesses países - tenha um ónus de permanente negatividade para o cidadão local. Mas não é esse o caso aqui em Portugal , onde o cidadão sempre se habituou à economia do "jeitinho",  da "cunhazinha", do "desenrascanço".

Portugal é o País onde será preferível prevaricar para depois (muito depois) pagar a multa, do que fazer bem e honradamente desde o início. É ,no fim de contas, o País onde o opróbio social talvez esteja mais associado a quem cumpre zelosamente os seus deveres, do que aos outros, aos que se "sabem safar"...

Corrupção não é apenas economia paralela. É também e sobretudo um sinal de pouca civilização.

Agora, como muito bem diz o ditado antigo "É de cima que deve vir o Exemplo"... E, de momento, quanto a isso acho que estamos conversados.

terça-feira, dezembro 07, 2010

O Peito ou a Perna?

Acho que era do inesquecível Louis de Funés (L'aile oú la cuisse?) este filme que cá no burgo foi traduzido para " O Peito ou a Perna?".

No caso presente veio à liça para discorrermos sobre as vantagens e desvantagens de utilizar - do Porco (com V. licença) - o lombo ou a febra das pernas para os assados.

Caso não se trate de Porco Preto alentejano, de montado, prefiro sempre a perna, tenha ou não osso. É menos seca, permite pela lenta assadura o derreter compassado das gorduras naturais que a entremeiam, e terá mais sabor dado que da sua constituição fazem parte diferentes tipos de carne , umas mais escuras (as mais gostosas) e outras mais claras. A desvantagem será não ter tanta apresentação na mesa como o Lombo direito como um fuso, fatiado finamente.

O Lombo de um animal  preso desde que nasceu, engordado a a farinhas e "feito" em 1 ou 2 anos para ganhar dinheiro,  torna-se numa coisa seca, monstruosa de dimensão, e quando se lhe mete a faca, seja ela eléctrica ou não, quase que nos dá a impressão de "esfarelar" impedindo que as fatias saiam finas.

Claro que se tratar de um porco de montado alentejano, outro galo cantaria.... Mas até aqui as coisas parecem-me bem feitas: Os Presuntos  das pernas , as Paletas das Pás, para secar ao ar e comer uns meses largos mais tarde. Os lombos que não forem ensacados para enchidos, então esses sim, para o forno! O problema será o preço, já que o lombo de porco preto anda pela hora da morte...

Por isso e tendo em atenção a Crise famigerada, apresento hoje antes uma receita de Perna de Porco assada.

Para 4 pessoas comprem um bom pedaço de perna de porco com osso, cerca de  2kg e meio.

Façam de véspera  uma "vinha de alhos" com um ramo de coentros partidos à mão, massa de pimentão, alho miúdo (4 dentes grossos) cebola picadinha, pedaçinhos de louro, duas malaguetas desfeitas à mão, um toque de azeite e um copo de vinho branco maduro.Podem acrescentar um pouco de pó de colorau (pimentão doce). Misturem bem tudo com uma colher, esfreguem a carne nessse preparado e deixem-na repousar 24 horas lá dentro.

No dia do almoço deitem uma mão cheia de sal no fundo do tabuleiro de ir ao forno. coloquem a perna de porco mais o respectivo tempero e deitem por cima 2 ou 3 nozes de banha de porco preto. Salpiquem de colorau (não muito!).

Esperem que o forno esteja nos 250º para introduzir a carne. Depois de uns 15 minutos a essa temperatura reduzam para 170º e deixem assar lentamente. Todas as meias horas tirem do forno, virem a peça de carne e, se necessário, tornem a colocar por cima uma noz de banha de porco preto, para não pegar.

Para que a carne fica tenríssima e a despegar-se do osso têm de a deixar assar por umas 2 horas e meia (mais ou menos).

Acompanhem com batatas assadas no mesmo forno . A "cama" destas batatas pode ser a mesma que utilizaram para a carne: massa de pimentão, alho, cebola, louro e azeite.Podem introduzir uns tomates pequeninos e substituir a cebola por chalotas, a gosto. Não se esqueçam de salgar.

No meu forno as batatas demoram uma hora a assar se estiverem na divisória de cima, e cerca de hora e meia se forem cá mais para baixo. Joguem com esses tempos, se a carne estiver adiantada metam em baixo, troquem com o tabuleiro das batatas e aumentem a temperatura... Ou vice-versa.

Empratem a carne fatiada com as batatas à volta. Salpiquem de coentros picados grosseiramente. Acompanhem com um Tinto taninoso,  porque não o Quinta da Dona , da Bairrada, excelente o de 2004! Se o conseguirem comprar ainda...

Bom Apetite!

segunda-feira, dezembro 06, 2010

As Obrigações de Dezembro

A tal "quadra" aproxima-se... Tempo de fugir para qualquer lado que fique bem  longe das nossas obrigações.

Que são muitas e às vezes bem chatas: Almoços com os amigos e com a família (isto ainda é o melhor, servindo de refrigério para o "resto") . Preparar a Noite de Natal, preparar a noite de Fim de Ano,  Estabelecer as regras deste ano de 2010, com quem passar uma noite e com quem passar a outra...O que vamos comer a 24 e a 25. O que devemos comer a 31 e a 1 de Janeiro...

Antes disso o inferno das compras. A minha "Santa" cá de baixo todos os anos diz a mesma coisa: "Não há prendas para ninguém que os tempos vão maus!"  Isto diz veementemente e com vozeirão autoritário, assim que Novembro passa do dia 15. Mas, entrados a custo no mês de Dezembro,  a" voz" muda: "Olha lá?! Quando é que tens tempo para ires comigo ao Corte Inglês?"

Fui este fim de semana passado... As inúmeras pessoas a quem "tenho de dar qualquer coisa, se não parece mal"  parece terem aumentado desde o último ano... Contei mais de 20 prendas a fazer fila na bancada dos embrulhos. Estive lá entre as 10.00h e as 12.30h.  E nem a solidariedade do meu Senhorio me acompanhou nesta demanda! O Corno (que não tem outro nome),  entrou num frenesim de consumismo desvairado pela Apple, em conluio com a Avó,  para que esta lhe pagasse algumas das "coisinhas" que lhe faltavam! À conta enfeirou um MacBook Pro e  um IPhone , para juntar ao IPad que trouxe de Londres (este pagou-o ele).

Quem se lixou fui eu, pois para sacar à velha uns 2500 euritos do MacBook e do Iphone , foi-a convencendo que eu também contribuía , prescindindo da minha habitual prenda de Natal... Aquilo a bem dizer  não é um Corno, é uma manada de Alces do Canadá completa,  na altura do acasalamento, que é quando têm os ditos cujos cornos maiores!!!

A culpa não é só dele, mas também dos "amigos designers" que o convenceram que "a Apple é que era....". Se fossem todos meter a língua dentro de um frasco de pyonnaises faziam melhor! Cambada de "coloridos"!

Enquanto se desenrola a inexorável fita dos dias que nos aproxima do Natal e das suas armadilhas, traído pela descendência, apunhalado pela ascendência, resta ao solitário Blogger refugiar-se nuns almoços de desforra, bem à maneira do antigamente, com amigos bons e prazenteiros.

Estaremos nos últimos dias antes de começarmos todos a viver a Grande Depressão. Convém que esta seja recebida com olhos brilhantes, faces rosadas e gargantas húmidas. Para chorar e ranger os dentes bem bastarão os dias que se seguem, neste 2011 que se afigura cinzento, tenebroso e de má fama.

E desses últimos almoçitos "pré-crise" cá darei notícia, nem que seja para ajudar a elevar o astral dos fiéis leitores.

sexta-feira, dezembro 03, 2010

Para Descansar A Vista

De Fernando Pessoa\Alberto Caeiro um poema que apela à calma. Nunca como hoje ela foi tão necessária. A vida parece que passa sem darmos por ela, mas vai fazendo mazelas no corpo e no espírito... Olhar para o céu, de forma figurada  levantando os olhos para o "céu de cada um de nós", é bom, é necessário e parece cada vez mais urgente.
Procurem lá esse vosso "Céu" em qualquer lado, olhem que pode estar mais perto do que aquilo que pensam... E não percam oportunidades. Há cada vez menos tempo para amar.

O Meu Olhar Azul como o Céu

O meu olhar azul como o céu
É calmo como a água ao sol.
É assim, azul e calmo,
Porque não interroga nem se espanta ...

Se eu interrogasse e me espantasse
Não nasciam flores novas nos prados
Nem mudaria qualquer cousa no sol de modo a ele ficar mais belo...

(Mesmo se nascessem flores novas no prado
E se o sol mudasse para mais belo,
Eu sentiria menos flores no prado
E achava mais feio o sol ...
Porque tudo é como é e assim é que é,
E eu aceito, e nem agradeço,
Para não parecer que penso nisso...)

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXIII"

quinta-feira, dezembro 02, 2010

E pelo Camelo é que fomos...

Nem tanto em cima do navio do deserto, mas de carro e  (sempre) em direcção ao  Camelo Restaurante, que neste momento e desta gerência - descontando portanto o velho Camelo de Seia - já reproduziu mais 3!! A saber: O patriarca pai deles todos de Santa Marta de Portuzelo, o mais piscícola da Apúlia, o Camelo do Shopping (mesmo no centro de Viana) e por fim o Camelo de Ponte de Lima (embora pareça que este abre sobretudo aos fins de semana).

Fomos um dia almoçar ao Camelo de Santa Marta e no outro dia ao da Apúlia. As cartas são muito semelhantes, embora no da Apúlia esteja mais em evidência o peixe fresco daquelas águas maravilhosas (para peixe, que não para pessoas....) da costa de Espinho e da Aguda.

Em ambas as casas comemos muito bem e por um valor que não ultrapassou os 30 euros por cabeça. Mas com direito a várias entradas (chouriça assada, alheira grelhada, dobrada, papas de sarrabulho, polvo à galega, bolinhos de bacalhau, bolinhos de pato, rissóis de camarão) obviamente divididas pelas duas refeições!

No Camelo original comeu-se o Cabritinho (700 g por 28 euros) soberbo! Com o seu arroz de forno, grelos de nabo salteados e batatas de forno. No da Apúlia foi-se por um robalo assado (1,5Kg por 40 euros). Extraordinário , com arroz de grelos malandrinho (pedido à parte, é uma fixação minha, vinda dos tempos da Margarida do Victor, em Leixões) batatinhas pequenas assadas no forno, cebolinhas, etc...

Bebeu-se Verde (claro!) . Tinto da Lixa, Branco de Braga no Camelo de Santa Marta. No da Apúlia um Alvarinho Alvaianas (que eu desconhecia) e que achei muito bom.

Por estes preços não há melhor em Portugal. Não desdizendo das boas casas de Cascais e de Lisboa, onde se pode colher qualidade semelhante (no peixe) mas infelizmente ao dobro do preço...

Muita saúde Camelo Pai e Rui Camelo (o filho na Apúlia) e que as mãos nunca vos doam de terem que pagar a algum pescador o bom peixe do mar mesmo que não haja papelito oficial...